[ Quarta Estação ]
Verão
Por LuaInAHoodie
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"E no meio de um inverno eu finalmente
aprendi que havia dentro de mim
um verão invencível." (Albert Campus)
Tudo parecia horrivelmente cinza e estagnado, aquele mês, especificamente, estava sendo difícil para mim. Porém, quando eu achei que fosse explodir, você chegou com todas as suas cores singulares, pintando todo o meu cenário de novo, arrancando aquele desespero de mim.
Sempre assim, tão natural quanto veio, você se encaixa e nos refaz agridoce, na medida certa. Tateando meu interior e com um sopro quase que divino esfriando o meu cerne, desabrochando flores em minha alma, enquanto nos tornamos um.
Naquela tarde quente, após um dia terrível, voltei para casa e me deixei em teus braços. Não sei dizer se tu trouxeste as estrelas até nós ou nos levou até elas, pois meu coração não soube absorver e nem explicar toda aquela sensação gostosa que o teu ser fez o meu sentir. Mas, o nosso jardim secreto foi regado com o amor que escorreu dos nossos corpos, quando eu já não sabia mais se aquele era o meu ou o teu coração perfurando meu peito.
Os teus cabelos, daquela vez, castanhos, entre os meus dedos, arranhando e queimando o meu peito e depois me servindo de apoio, quando tudo o que eu queria era te fazer sentir o esplendor que tu despejaste sobre mim, ainda parecem vivos em meio as minhas mãos enquanto escrevo.
Quando se fala em verão as pessoas pensam em praia e água, sol; eu penso no gosto da sua boca sobre a minha e o dançar da tua língua, por toda a minha pele. Memórias fortes e quentes que tenho de ti e que me provocam sempre quando as temperaturas mais altas e as chuvas mais fortes chegam.
Eu me recordo do modo como você nos cobriu com o lençol e ligou para o meu superior no trabalho, exigindo todos aqueles "dias de folga", sendo que eu só pude apreciar aquele teu lado confiante, sacana e autoritário, poucas vezes.
– Eu gosto quando você fala assim. – Eu admiti me segurando em teu colo, recebendo aquele olhar penetrante que me deixava completamente fora de mim.
– Então eu vou falar assim mais vezes. – Você usou novamente aquela voz firme e intensificou ainda mais nosso olhar e contato.
Se eu fechar os olhos, posso delirar tão profundamente a ponto de escutar a tua voz, sussurrando juras de amor em meu ouvido e promessas de um espetáculo puro e completo, como na noite em que a lua se fez cheia no céu e refletiu bela sob aquele mar para o qual você nos guiou e estávamos a observar, sentados na varanda daquela cabana.
Posso sentir o nosso cheiro combinado ao da comida que tivemos na cama e o calor da tua mão sobre a minha, brincando com meus dedos e desbravando meu corpo. E ver os teus lábios formando um sorriso luminoso como quando atingimos o céu, no ápice do nosso amor, sob a euforia do verão.
Aquele desespero corroendo o meu juízo e pressionando os meus músculos foi graciosamente extinto de mim, mesmo quando estávamos de volta à cidade, ao estresse do trabalho e aos dias rotineiros e carregados de emoções confusas, eu admito que não voltei a me sentir daquele jeito. Talvez, em algumas ocasiões, de outro jeito, frio e insensato, ao mesmo tempo sensível e machucado. Mas então você aparecia, fisicamente, ou apenas em forma de lembrança, enquanto eu apertava o colar que você me deu, em formato de estrela, me estendendo a mão e me levando consigo num voo só nosso, fazendo com que tudo voltasse a ficar bem.
Porque assim, estamos juntos de novo. Não somente juntos, mas daquela forma na qual nos conectamos por inteiro, pelo olhar, pelos beijos e contatos entre os nossos corpos, mesclando assim, as nossas almas.
Eu ainda guardo em meu peito aquela sua poesia sobre o céu, e me sinto quase que ecoar no lugar, quando sua voz volta a repetir todos os singelos versos e os faz escorregar sobre mim direto para o meu âmago.
– Nos deixe aqui, onde tudo parece eterno e podemos perpetuar o nosso amor ao infinito. Mas, se é necessário partir, então, nos grave no céu e quando sentir saudades, nos procure em meio a lua e nos faça amor, mais uma vez. – A sua voz estava ainda mais profunda me sussurrando essas palavras, pela primeira vez.
Às vezes, até me pergunto se tudo isso é mesmo real, se mereço todo esse mar, pois é algo tão maravilhoso e precioso... Foi o nosso primeiro verão juntos, e é claro que cada verão tem o seu lugar em meu coração e em minha memória, com suas peculiaridades e momentos especiais. Porém, esse verão, no qual você me fez sentir o paraíso transbordar por mim, sinto como se tivesse vida própria, de tão divino.
Se eu olhar bem para a lua agora, ainda consigo nos ver correndo por aquela praia, você segurando a minha cintura e sorrindo sobre o meu sorriso...
Ah, Tae, neste verão ecoaremos de novo, será mágico mais uma vez e os céus terão orgulho em nos gravar novamente, eu prometo. Será a minha vez de reunir cada pedacinho seu e esculpir tudo usando os flagelos do nosso amor, como você fez comigo lá.
Seja qual for o inverno no teu peito, se preciso, trarei o sol para você e o farei só teu, para te esquentar e iluminar. E quando tudo estiver bem mais uma vez, não serei só eu a recordar-me dos detalhes, mesmo quando o tempo já tiver nublado até mesmo as sensações. Farei uma poesia tão linda quanto a tua e irei lhe recitar de frente para o mar e ganhar teu coração de novo, tanto quanto você ganhou o meu.
E, ainda assim, me faltaram palavras para expressar todo esse amor que contagia o meu mundo e é só teu. Foi como te disse uma vez, espero que possa enxergar em meus olhos tudo o que as ações e palavras não puderem lhe mostrar e proporcionar. Porque esse amor, Tae, é muito mais do que eu mesma sou capaz de compreender, contudo, ainda assim, sinto que preciso derramá-lo sobre ti, para lhe proteger e lhe acalmar, principalmente, nesses momentos nos quais a inquietude das circunstâncias ao nosso redor nos faz cegos.
Espere por isso, sarang.
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Relicário das Estações • Kim Taehyung
Fiksi Penggemar[ concluída ✔ ] Quatro estações podem renovar um amor. As folhas dos machucados do passado, caem. As sementes novas, em formato de esperança, são preservadas. As flores, mesmo tímidas e receosas, florescem no jardim esquecido, mal cuidado. E como um...