Capitulo 1

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Acordo em um espaço tão branco que penso ser o céu, mas acho que não estou deitada em nuvens, embora a maciez destes tecidos sejam dignas da comparação. Tento me levantar mas sou impedida por uma mão, de onde surgiu essa mulher? Junto a ela surgem outras três. Caminham até mim trazendo uma botija incrivelmente brilhante e tecidos .


-Aonde estou? - passo a língua pelos lábios e percebo que não estão mais rachados.


-Vamos te limpar, prefere se lavar na banheira?


-Onde estou? Quem são vocês...


-Ela ainda deve estar fraca...


- Garanto que estou mais forte do que estive em anos.- é a verdade, meu estômago não ronca mais, e a dor lancinante da morte parece ter partido.


- Somos criadas da Casa de Calcasian, a senhorita consegue se levantar?


- Casa de ? Espere ...- meu cérebro da um click e tudo se encaixa.- Estou no castelo!


Elas apenas acenam de modo coreografado e começam a me despir,nenhuma outra pessoa além de mamãe me viu nua, mas eu era apenas uma criança. Não deveria deixar essas estranhas me dominarem, mas minha perna começa a amolecer, só então olho para a lateral da cama e vejo uma mangueira em meu braço e uma das moças colocando algum líquido com ajuda de um objetivo pontudo.


Tento levantar, mas meu corpo não responde aos comandos do meu cérebro, sou carregada até uma enorme bacia cheia de água, devo estar tendo uma miragem, o estado cristalino me assusta, a anos não vejo nada parecido, parece ser algo espiritual, beirando o sobrenatural.


Estar deitada e submersa em água enquanto amigos morrem de cede é motivo mais que suficiente para entrar em pânico, meu corpo toma forças vindas de lugares sagrados. Pois em menos de um minuto estou de pé, e subindo, cada vez mais, logo percebo que não levantei, fui erguida. A água me mantem suspensa em uma enorme bolha pairando sob as cabeças das 4 moças, elas parecem velas de cera, suas peles são extremamente alvas, assim como os cabelos, e qualquer outro pelo à amostra. Já ouvirá sobre os Puros, embora o nome seja uma completa ironia já que suas mãos estarão sempre manchadas com nosso sangue, sangue do meu povo. De resto tudo parece verdade eles tem aparência de anjos .


Minha cabeça começa a zumbir , um som cheio de cochichos e lamentos, sons de chuva e água corrente, começo a beber a água, ela quer entrar em mim, fazer parte, os goles vão se tornando descontrolados, a água começa a sair pelo meu nariz e boca, estou sem ar. Me debato na esperança de sair da bolha, gritos se transformam em bolhas, as mulheres me olham com desespero.


A porta abre e minha bolha estoura, a água se reparte em duas cascatas caindo dentro da grande bacia, nenhuma gota no chão. Passos apressados caminham até mim, infelizmente não tive a mesma sorte de cair na grande bacia. Meu corpo esta colado ao chão escorregadio feito de algum material cintilante e extremamente duro. Tento tapar minha nudez com as mãos.Um manto é posto sobre meus ombros e elas se afastam sem prestar nenhum auxílio em me levantar, meus olhos que fitavam o chão agora enxergam sapatos brilhantes e polidos , pés grandes, levanto os olhos e vejo que estou sendo observada por um homem, branco como as mulheres, só que com vestes muito enfeitadas, como um soldado de luz, mas seus olhos não parecem bons, ele me puxa abruptamente fazendo o manto cair e ordena as moças que saiam.


Elas obedecem, o que só me deixa pior, quero abaixar e pegar o manto, quero me cobrir, seus olhos analíticos me causam repulsa, sei que está surpreso por me ver, tão diferente de todos os seus. Minha pele é um contraste gigantesco com tudo ao redor, um ponto escuro como a noite em meio a um borrão branco.


Não irei permitir que me trate como um animal, em um impulso rápido pego o manto e coloco ao redor de mim. Ele franze o cenho e se senta no chão, algo totalmente inesperado, agora a situação foi revertida, ele está aos meus pés.


- Se essa foi sua tentativa de demostrar amabilidade , saiba que falhou.


- Não era essa a intenção, foi apenas um pedido de desculpas, me coloquei em seu lugar.


- Não seja tolo, você não pode fazer isso.


- Na minha casa sou em quem decido o que posso ou não, você é apenas uma convidada.


- Agradeço a hospitalidade, mas sinto que necessito de um cavalo e uma cela, vou partir ágora mesmo.


- Se essa foi sua tentativa de ser cômica, saiba que falhou.


Após um piscar de olhos e um sorriso grande demais, saiu batendo a porta , agora eu sabia que era uma prisioneira, como todas as outras, meninas de aldeias vendidas pelos familiares, em troca de comida e água, será que meu pai ganhou algo por mim? Terei válido uma boa barganha, se tivesse eu estaria conformada, mas algo me diz que ele não me vendeu, apenas me doou, como se morrer pudesse ser pior que viver em uma caixa branca.


A cela tem suas comodidades, aposto que pessoas viriam de bom grado passar o restante de suas vidas aqui, o clima é fresco, sem barulhos ou patrulhamento, não se pode temer ser pego quando já está dentro.
Se vou passar o restante dos meus dias aqui, vou ao menos sentar no grande monte de tecidos que me deixaram, uma esteira completamente confortável, seria ótima para dormir após um dia cansativo, mas aparentemente os Puros não deixam pessoas de raças diferentes fazerem seu trabalho, bom para mim, ao menos não sou uma escrava.

Eidyia - A portadora da visão.Onde histórias criam vida. Descubra agora