Eu estava exausta de andar de uma lado para o outro, vendo paredes e mais paredes, cheguei perto da porta para tentar ouvir algo ou alguém falando , mas nada, não havia nenhum som e isso tudo me deixava cada vez mais apreensiva, nada pode ser mais perigoso que o silêncio.
Era tolice ter alguma esperança ou até mesmo ansiedade que a porta se abrisse, eu sabia que para eles eu não tinha importância, o que só me deixava ainda mais curiosa, por que eu estava em um local tão confortável, a essa altura já imaginava ter morrido de fome ou sede, mas havia comida e água abundante sobre a mesa.
Talvez estivessem me vigiando, um brinquedo novo, eu não esperava nada de bom daquele povo, não seria de estranhar que tivessem algum prazer em me ver enlouquecer de solidão. Se fosse isso deviam estar altamente satisfeitos, eu estava chorando constantemente e até tive a péssima idéia de me humilhar batendo na porta desesperada. Não funcionou.
Quando chegou o quarto ou quinto dia,não sei ao certo, sem a luz solar era difícil me guiar, apareceram as mesmas moças do primeiro dia trazendo vestes tão brilhantes e bonitas quanto estrelas, o manto reluzia em toda a sua glória e elas pareciam acostumadas com tamanha beleza, eu estava bestificada, minhas expressões facias deviam ser claras pois recebi um leve sorisso de cumplicidade de uma delas, meu coração deu um pequeno salto, e me repreendi imediatamente por ser tão tola, estava longe de minha família, de minha casa e meu povo tudo graças a esse povo, não éramos amigos.
Elas falavam somente o extremo necessário e quando me arrastaram para a enorme bacia não relutei, eu jamais passaria por aquela humilhação novamente, iria de vontade própria a fim de evitar aquele homem extranho aparecer.
A água estava tão quente e aconchegante, como os abraços de minha mãe, fazia tanto tempo que tinha sentido aquela sensação que me permiti relaxar alguns instantes, havia algo muito maternal em me submergir em água, estar junto, fazer parte.Quando saí minha pele se arrepiou pelo leve contato com o ar, estava mais frio, fui coberta por um tecido e depois seca, mesmo tendo alegado que era capaz de fazer àquilo sozinha. Fui ignorada, era claro, eu não teria autonomia ali, era apenas uma prisioneira, um fantoche na mão dos Puros.
— Agora vamos te vestir, sei que gostou do vestido, foi o próprio príncipe que escolheu, é um presente! — a sua fala foi como a de uma amiga, feliz e orgulhosa. Mas não poderia ter sido pior, a desconfiança se acendeu novamente em meu coração.
— Jamais serei capaz de gostar de qualquer coisa que venha de um líder do seu povo, as vestes são belas, mas ao preço de vidas perdem todo o encanto. — quando percebi a cara de desgosto e os ruídos de desaprovação. Me calei.
— Não seja ... Insolente, o príncipe pode até aturar seus devaneios, mas o rei não é tão piedoso quanto, cuidado.
— O rei? O que ele tem a ver com as vestes?
— O vestido é para o jantar, você será apresentada ao rei, tente se comportar pelo menos uma vez, ou não terá próxima oportunidade. — esclareceu com olhar temeroso.
Meu peito gelou, eu senti minha boca amargar, o desconhecido me assustava e eu jamais queria ver nenhum outro puro, de repente a prisão parecia tentadoramente boa, minha solidão. Mas àquilo não era discutível , eu agi como uma marionete esperando que elas fizessem coisas extremamente desnecessárias por mim, apenas levantando os braços para me vestir, permaneci em silêncio enquanto arrumavam meu cabelos com uma faixa prateada como o vestido.
— Você está pronta!— e eu não estava , não me sentia pronta, nem em mil anos.
A porta se abriu e lá estava o homem que vi no primeiro dia, de pé e com roupas tão adornadas quanto o paraíso, ele realmente parecia um anjo, suas vestes eram vestes de guerra, como um soldado, tudo em couro branco de algum animal desconhecido, botas nos pés e na cabeça uma coroa feita de marfim, era bonito. Um anjo da morte disfarçado de anjo da guarda.
As moças abriram caminho fazendo uma reverência , que me fez pensar se deveria ou não imitá las, mas ele não era meu príncipe, não era meu povo e eu não lhe devia nenhum respeito, muito pelo contrário eu desejava terminantemente sua morte e de todo o seu povo. Então me mantive de pé o mais ereta possível, me esforcei para que ele não visse minha mão tremendo teimosamente.
Senti seu toque gelado nas minhas mãos, ele tinha diversos anéis com símbolos da guarda e os brasões dos puros, eu reconhecia cada um deles, minha mãe me ensinou a identificá - los, fugir do perigo, fugir da morte.
Sua pele me lembrava o toque de algum réptil, extremamente liso, tão frio quanto seus olhos, tão clara quanto o leite materno, Amedrontador .— Boa noite Eidyia. Vim busca lá para um jantar oficial, espero que se porte como uma dama e mantenha a boca fechada o tempo todo, senão na maior parte dele. — eu estava irada com tamanha hostilidade.
— Não tenho nenhum prazer em gastar minhas palavras com você ou seu povo.— e mais uma vez vi quatro cabeças assustadas me olharem.
— Viu? É exatamente isso que não quero presenciar, Eidyia você não é imortal, lembre se disso.
Antes que eu pudesse me pronunciar sua mão apertou a minha muito forte, me puxando com brutalidade para fora do recinto, que agora parecia muito mais acolhedor do que andar para a morte, ou pior, poderia não morrer e envergonhar meu povo.
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Eidyia - A portadora da visão.
FantasyEidyia vive em mundo ultrajado e mesmo tão jovem é a única capaz de guiar seu povo rumo a liberdade. Nem em mil anos o povo estaria preparado para as consequências desta guerra mas não há vitória sem luta, e os Puros nunca perderam uma batalha, mas...