Capítulo 3

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Quarta lembrança

Com o tempo, comecei a fazer missões por conta própria, sem Arlow me instruindo. Uma que me rendeu muitos problemas, foi a da boate.

Citric é o nome da boate em que Adriel e Arlow administram. Em português, citric significa cítrico (Diz-se de um ácido que pode ser extraído do limão). Eu, particularmente evito comidas cítricas, odeio o sabor azedo. Mas em relação à boate, eu acho que combina. É um lugar ácido, amargurado, cheio de histórias podres e de luxúria.

Meu serviço era averiguar a conduta das meninas, mas acima de tudo verificar se algumas delas eram maltratadas. Não que nos preocupávamos com elas, pois elas estavam ali porque queriam, mas não podíamos perder meninas por causa de caras que gostavam de um sexo mais bruto (ainda mais, bêbado). Havia seguranças e os garçons, eles tinham um certo treinamento para o caso de brigas, mas cada um tinha sua própria função. Minha obrigação ali seria levar as meninas até a boate, protege-las durante o trabalho e depois mantê-las a salvo.

É claro que Arlow não dava ponto sem nó, muitos clientes iam lá pra se divertir, mas principalmente era um ponto de encontro onde seus clientes podiam pagar seus serviços . Eu receberia esses pagamentos e escondia na van que transportava as meninas. O sistema era simples, sem muitas dificuldades, o pior de tudo seria com as meninas, se elas não conseguissem acionar o botão de alerta do quarto, não saberíamos se algo ocorresse de errado.

A primeira semana foi relativamente calma, não que eu preferisse confusões cotidianas, mas depois que eu apareci, não havia muitas reclamações das meninas. Em um dia em que voltávamos com uma mala cheia de dinheiro, parei no ponto combinado e abri a porta da van para que Craig pudesse pegar a mercadoria.

- Boa madrugada meninas – o sorriso dele era escroto. Eu o odiava.

- Faça o que tem que fazer e vaza Craig.- ordenei.

- Sempre delicada – ele resmungou.
Não me importei em responder, o vi subir na van e ir até o ultimo banco e pegar a bolsa de dinheiro. Os outros meninos ficavam no lado de fora a espera para poderem se mandar. Eu não confiava em nenhum deles, mas era meu trabalho e eu tinha que manter o máximo de socialização possível.

- Sabe, a Rachel sempre nos dava um agrado quando parava por aqui -  comentou Craig.

- Não sou ela e se você necessita desse tipo de serviço vá a boate e pague – Eu sabia bem o tipo de agrado ele estava falando, porém eu não era esse tipo de garota.

- Eu não preciso pagar para isso -  Nesse momento ele estava na porta da van e sorria para mim.

Craig não era do tipo feio, mas era o tipo do cara com um beleza selvagem, crua. Seu sorriso e palavras escrotas acabavam por estraga-lo, fazendo assim, eu ter ânsia de vômito quando tinha que conversar com ele.

- Tenho certeza que nenhuma das meninas daqui gostaria de agrada-lo. – Olhei para todas e nenhuma delas demostrou alguma reação contraria a mim.

Os meninos que esperavam por fora da van esboçaram sorrisos de escárnio, mas nenhum ousou brincar com Craig, já este fechou a cara e sai da van. Dei a partida no carro sem peso na consciência.

-Sabe, você não deveria confrontar o braço direito de Adriel. – falou Verônica.

- Eu tenho ordem explicitas do que fazer e isso não inclui agradar alguém. – meu tom era calmo.

- Sei de suas ordens, mas se você fiar defendendo a gente, uma hora todas pagaremos, pois assim você chama atenção para nós.

- Cada qual te seu posto e sua obrigação, ele devia se atentar a seu trabalho. Entretanto, se você quer tanto agrada-lo para depois não acabar caindo bronca nas costas de todas, posso parar e esperar você acabar seu serviço.

Ela não disse mais nada, porém eu sabia que a situação era difícil, se ela agradasse ou não a eles, de qualquer forma eles abusariam delas. Não dependia da conduta delas e sim da falta de respeito deles.

- Cada uma tem seu motivo pra trabalhar na boate, mas nenhuma de nós gosta de ser desrespeitada  – a voz de Verônica estava baixa, mas eu pude sentir sua amargura nela.

- Eu vim trabalhar com uma ordem e pretendo cumpri-la. Quem não estiver satisfeito reclame com Arlow.

Olhei pelo retrovisor para ver sua reação e para minha surpresa, todas me encaravam com o misto de surpresa e adoração. Minha intenção não era dar esperanças para elas, mas eu não gostava de ver mulher nenhuma rebaixada, pois pra mim não importa o trabalho, todos devemos ser respeitados.

Remember meOnde histórias criam vida. Descubra agora