Desligo o despertador e encaro o teto. O barulho constante da chuva e do vento no telhado não me permitiram ter uma boa noite de sono. Eu mal preguei os olhos.
Após uma respirada profunda, jogo a velha coberta desbotada para o lado e me levanto. Não me espanto ao notar que ainda chove.
Me arrumo para o primeiro dia de aula sem um pingo de entusiasmo e luto para não ceder à imensa vontade de ir vestida com minha velha calça de moletom surrada.
"Nem pense em usar essa calça em outro lugar que não o seu quarto, certo? Ela é horrível!" — Lembro da ordem de minha mãe com um sorriso.Dou uma conferida rápida em minha roupa no espelho e aperto o elástico que prende meus cabelos. Depois, desço pelas escadas até a cozinha, onde Mark me espera para tomarmos café da manhã.
— Bom dia, filha. Dormiu bem?
— Como pedra. — Minto, com um rápido sorriso, e me sento.
— Animada para o primeiro dia na nova escola?
— Ah, estou sim. Muito animada.
Ele sorri, antes de me oferecer uma xícara de café com creme e um prato com cookies recém assados.
Terminamos de comer em silêncio.
Mark aplica um beijo no topo de minha cabeça e me deseja boa sorte na escola, antes de sair para o trabalho. Ele é dono de uma pequena loja de materiais de construção, que se tornou sua esposa e família depois da separação.
Eu não queria chegar cedo demais na escola, mas também não podia mais ficar na casa. Reunindo a coragem necessária para encarar as dezenas de olhares curiosos sobre mim, pego minha mochila, visto meu casaco, que mais parece uma roupa antinuclear, e saio para a chuva.
O barulho de meus tênis na grama encharcada ecoam de forma irritante. Sinto falta do barulho normal de cimento quando caminho.
Não consigo parar para admirar minha caminhonete como gostaria. A chuva está começando a engrossar.
Destranco a porta e jogo minha mochila no banco do passageiro. Dentro dela está seco e aquecido. Enxugo os pingos de chuva de minhas mangas e giro a chave na ignição. O motor liga em um ronco alto e rápido. Sintonizo o velho rádio e sigo para a escola.
Não foi difícil achá-la, mesmo eu nunca tendo estado aqui antes. Estaciono em frente ao prédio construído com tijolos marrons e encaro a fachada onde está escrito "Splendor High School" em grandes letras de metal.
Saio a contragosto da caminhonete quentinha e subo por uma escadaria de cimento ladeada por uma cerca viva. Dispo o enorme casaco preto de nylon e ajeito minha mochila no ombro. Caminho sem pressa pelo longo corredor de paredes brancas cobertas por armários cinzas, até encontrar a secretaria. Corro os olhos pela pequena sala de espera com uma longarina de três lugares, carpete preto e avisos e prêmios abarrotados pelas paredes. Um grande balcão reparte o cômodo ao meio. Atrás dele, há duas mesas, uma delas ocupada por uma mulher alta, de cabelos ruivos e curtos. Ela tira os olhos da tela do computador e me fita por cima dos óculos de grau.
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Em Pedaços
RomanceSummer Palladio acaba de se mudar para a nublada e chuvosa cidadezinha de Splendor - último lugar onde gostaria de viver. Tentando se habituar a morar com um pai com quem nunca conviveu, a nova rotina escolar e a umidade exagerada do local, ela conh...