Após comprarmos o necessário para o churrasco e o desnecessário para matar a minha fome naquele momento, que estava extremamente grande, Henri me levou para casa e disse que me buscaria por voltas das 13h, uma hora depois do que o Marcos havia pedido, pois ele nunca gostou de chegar cedo, já que a carne provavelmente nem na churrasqueira estaria.
Abro a porta do meu apartamento e vejo a zona que está, da vontade de dar uns passos para trás, fechar a porta e fingir que essa não é a minha casa. Mas as coisas não funcionam assim, né?
Entro naquele cubículo, que contém uma suíte, uma cozinha junto da sala e uma minúscula varanda, que suporta uma paisagem enorme de Uberaba. O espaço do apartamento é essencial para uma garota solitária, que passa mais tempo fora de casa trabalhando e estudando, do que usufruindo desse ambiente aconchegante.
Vou direto para o meu quarto, ignorando a montanha de louça para guardar, os livros e os papéis em cima do sofá, o chão para varrer...Penso em deitar na minha cama quentinha e dormi até anoitecer, mas vou direto para o chuveiro. Antes encaro por alguns segundos o espelho, e é inacreditável o quanto acabada estou. A cara de sono deixa evidente que dormi pouco, meu cabelo está mais bagunçado que meu apartamento.
Começo a me despir e lembro que falta uma peça de roupa em mim, a minha calcinha preta. Essa que provavelmente não verei nunca mais, ainda bem que ela não era a minha favorita.
Entro na água quente e deixo ela correr pelo meu cabelo e percorrer meu corpo até chegar aos meus pés.
Enquanto lavo meu cabelo tento me lembrar da noite passada, as lembranças são vagas, apenas me recordo de encher a cara, e depois de estar na cama de um cara que eu nunca vi na vida. Mal me recordo do que conversamos, de quem ofereceu uma noite de prazer e até mesmo o nome dele. As únicas coisas que não saem da minha cabeça são os traços daquele rosto tão lindo e do prazer em que senti quando transamos.
Os lábios que não eram finos mas não tão carnudos, percorrendo pela minha barriga, eram extremamente quentes. Seus olhos castanhos claros me encaravam enquanto estava prensada na parede fria, mas frio não era algo que eu sentia naquele momento. Seu cabelo preto, extremamente preto, não era muito grande, mas era essencial para puxar.
Mas nada se compara com o sorriso que aquele cara tem. Provavelmente o culpado de ter me levado até o quarto dele, não foi a vodka ou a minha tristeza do dia, foi aquele sorriso.Termino o banho e volto para a realidade, o noite de ontem já está no meu passado, preciso focar no meu presente.
Enrolo uma toalha no cabelo e a outra no corpo, vou até o meu minúsculo armário que contém pouquíssimas peças de roupa. O dia extremamente ensolarado está pedindo uma roupa mais fresta, como meu vestido rosinha, que fica um pouco acima do joelho, não penso muito e coloco ele mesmo.O relógio marca 10h50, é inacreditável como enrolo no banho. Continuo com a toalha no cabelo e coloco meu celular para carregar, mais de 10h sem.
Começo a organizar meu apartamento, não tenho faxineira, então não posso me dar o luxo de deixar ele nessa zona.
Coloco, no meu computador, uma playlist aleatório do YouTube, assim a voz da Dua Lipa invade todos os cantos do meu pequeno apartamento.As horas correm quando fico conversando e focando nos meus pensamentos, mas corre mais ainda quando só deixo a música tomar conta dos meus pensamentos.
Ao deixar meu espacinho do jeito que ele tem que ficar, foco em terminar de me arrumar.
Meu cabelo já não está mais totalmente molhado, apenas passo o pente para que ele possa secar e ficar menos armado. Nunca gostei de me maquiar e nem sei, a única coisa que tenho em casa é batom, um vermelho e um bege claro, uma para o dia e outro para noite. Dessa forma, passo o bege. Coloco minha sandália que é da mesma cor do vestido, passo o restinho do meu perfume docinho. A pequena quantidade de líquido que há, me faz pensar que precisa roubar algum perfume importado do Henri.O relógio mostra que não é mais dia, a tarde já chegou.
Meu celular toca e vejo o nome do Henri aparecendo na tela.- Fala gatinho.
- Pode descer, tô virando a esquina.
- Ok, descendo.
Antes de sair de casa olho novamente o espelho, meu cabelo loiro escuro está em um bom dia, pois na maioria das vezes ele fica extremamente rebelde. Pego minha bolsa preta que está em cima da mesinha que fica ao lado da minha cama, coloco o carregador do meu celular e o batom bege dentro dela, junto do meu cartão de crédito e meu Rg.
Chamo o elevador, ele chega no meu andar, décimo, entro e aperto o andar da portaria.Henri já está na frente do meu portão, dentro do seu HB20 branco, que seu pai deu por ele ter passado em engenharia mecânica na UFTM. Entro no banco do passageiro e além da música, clocks do coldolay, escuto o Henri reclamar sobre meu atraso de três minutos.
- Estava me admirando no espelho, ok? Não posso sair de qualquer jeito, vai que é hoje que eu conheci a minha alma gêmea... - Falei colocando o sinto e abrindo um sorriso irônico.
Ele revirou os olhos, ligou o carro e começou a dirigir até a casa do Marcos.
Henri está com uma blusa polo branca, e uma bermuda jeans preta, além da sua correntinha prata, que há dois anos não sai do seu pescoço. Seu cabelo marrom claro está todo bagunçado, provavelmente dormiu assim que chegou em casa e esqueceu de pentear antes de sair.
Da minha casa até a casa do Marcos, Henri ficou comemorando por finalmente estar de férias das aulas da faculdade.