Verônica engoliu o comprimido com facilidade. Depois de um ano ficava fácil. O enfermeiro continuou esperando e ela mostrou a lingua para provar que realmente tinha engolido. Encarou o enfermeiro com deboche logo antes de se virar e ele a parou com um aviso:
- Cuidado. Ou vai levar uma daqueles injeções dolorosas em um lugar bem doloroso. Você entendeu?
Ela engoliu em seco. Já havia levado uma das daquelas injeções, quando havia acabado de chegar ali e agira com rebeldia com os psiquiatras. Ela não queria repetir a dose.
Tomou seu café da manhã e foi para perto da estante de livros. Pegou seu livro favorito, Caixa de Passaros, ele era única coisa que a fazia se lembrar de sua antiga vida. Fechou os olhos e levou o livro ao coração, aquele não era seu exemplar, que sua mãe havia lhe dado quando fez 17 anos, não. Centenas de estranhos colocaram suas mãos nele antes dela, ela se perguntava quantos dele haviam morrido lá, será que algum deles havia alcançado a liberdade?
Afastou os pensamentos ao ver Carlos chegar, sorriu para ele.
- Como foi?
Ele fez uma careta.
- Amargo como sempre.
Se atirou em uma das duas cadeiras com almofadas que estavam ali.
Ela suspirou.
- Já me acostumei.
- Eu não, ainda tenho esperanças de sair daqui e ver o Fábio de novo.
Fábio. O namorado de Carlos e a causa do seu aprisionamento. O pai de Carlos era um empresário muito rico do ramo alimentar e quando descobriu que o filho namorava um rapaz mais pobre, surtou e o internou naquele manicômio, pois estava certo de que o filho estava doente, claro que ele também subornou os médicos para que Fábio nunca pudesse falar com ele. Aquele era um inferno em que os indesejados eram postos de lado e completamente esquecidos.
Verônica olhou para o amigo.
- Você sente falta dele, não é?
Ele olhou para ela, com dor nos olhos.
- Todos os dias. As vezes me pergunto se ele se lembra de mim, se encontrou outra pessoa…É tão difícil. E só piora quando me lembro que foi meu pai que fez isso.
Ele enfiou as mãos nos cabelos, sempre fazia isso quando estava nervoso.
- Alguma novidade?
Carlos sempre sabia das notícias naquele lugar, nem sempre elas eram boas.
- Um cara enlouqueceu e matou um cara na bar com pedradas na cabeça, pelo que estão falando vão trazer o cara para cá. -Ótimo, mais um assassino. - revirou os olhos.
Ela engoliu em seco. Ele tentou se desculpar.
- Desculpe V, não quis te ofender.
Ela respondeu, apesar do nó na garganta a engasgando.
- Não se desculpe. É isso que eu sou.
- Mas você fez aquilo para se defender! Você não deveria estar aqui.
Ela sorriu, amargurada.
- A família de Marcos era rica e eu sempre fui pobre, meus pais faziam o que podiam por mim. Eu queria estudar. Dar uma boa vida a eles, mas tudo se desmoronou. Aquela Verônica se foi em cinzas. Quando me acharam junto ao corpo, em choque, eu contei tudo que tinha acontecido, mas a mãe dele, que nunca acreditou em mim, conseguiu fazer com que me condenassem a 10 de anos de prisão, mas a advogada pública que meu pai conseguiu lutou com unhas e dentes para que eu não fosse para o presídio feminino, alegando insanidade traumática. - suspirou no fim.
Ainda se lembrava do olhar de Martha sobre si e do que ela lhe falou após o julgamento:"Eu vou fazer com que você sofra pelo que fez ao meu filho."
Ela estremeceu.
- Eu nem posso imaginar os horrores que aquele filho da puta te fez passar, V. Você não merecia nada daquilo.
- Ninguém merece, mas nenhum homem vem com um selo "monstro" na testa.
- Sei bem. - falou, pensando no homem que chamava de pai.------------------------------------------------
Fabrício estava impassível esperando o veredito do Juíz.
Ao lado dele, seu advogado tamborilvava os dedos nervosos, enquanto do outro lado, a advogada pública estava sentada duramente ao lado da mãe do rapaz assassinado, que chorava copiosamente. Fabrício sentiu uma pontada de culpa. Ele era apenas uma peça de xadrez naquele jogo.--------------------------------------------------
Logo após sair da casa de sua empregadora, Fabrício ligou para um conhecido seu, que traficava remédios psiquiátricos,
Depois disso, tirou 3 comprimidos do pacote e tomou. Ele não tinha medo de efeitos colaterais, aquilo era um mau necessário.
Dirigiu pela cidade e entrou no primeiro bar que encontrou. Havia poucas pessoas nele, e uma Tv de tela plana mostrava o jogo de futebol daquele dia. Fabrício fixou os olhos em um casal que se beijava apaixonado.
"Eureka." pensou, tomando um gole de cerveja.
A moça se levantou e disse que ia até o banheiro. Fabrício se levantou e a seguiu.
Quando ela estava saindo, ele tampou a passagem dela e disse:
- Oi.
A moça fez uma cara irritada.
- Oi - respondeu com certa grosseria.
- Você é muito linda, sabia?
- Sabia. Agora pode sair da minha frente, por favor?
Fabrício a beijou, à força. Ele não queria ter feito aquilo, mas era necessário.
A moça se soltou, deu um tapa em Fabrício e gritou de ódio.
O namorado dela veio correndo socar Fabrício em questão de segundos.
O soco o deixou atordoado, o cara era forte.
- Ei, se vão brigar, briguem fora daqui! - o Barista gritou, furioso.
O Cara - que ele descobriu depois que se chamava Murilo - praticamente o arrastou para fora do bar. As pessoas que antes estavam tomando suas cervejas tranquilamente, agora observavam atentas, Murilo socar seu rosto.
Fabrício estendeu a mão direita e encontrou uma enorme pedra que ele mesmo havia colocado ali e acertou ela com toda força no crânio de Murilo. Então bateu de novo e de novo e de novo, enquanto a namorada dele gritava e chorava desesperada.--------------------------------------------------
O Juíz encarou Fabrício nos olhos e ele entendeu. Ele havia sido comprado por Martha também.
O Juíz se levantou e falou duramente:
- Como foi comprovado que o Réu estava sob o efeito de remédios pesados e o que a vítima o agrediu primeiro, Fabrício Teixeira está condenada a 5 anos no hospital psiquiátrico Santa Maria. Lá ele será tratado como merece.
A mãe de Murilo gritou e se agarrou na namorada do filho. A garota encarou Fabrício com ódio nos olhos e ajudou a mulher a sair da sala de tribunal. Dois políciais o escoltaram até sua cela.
Fabrício se deitou no colchão duro e penso, satisfeito.
- Amanhã. Amanhã começa o meu trabalho.
E adormeceu se lembrando do rosto de sua presa.
"Verônica…"
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Mate-me Se for Capaz
RomantikHá 1 ano e meio, Verônica cometeu um crime do qual não podia escapar e acabou presa em um manicômio. Alguém quer vingança. Um assassino, Um contrato, Uma paixão.