2ª Lebrança - Sacrifício

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Kuralline e Ana trançaram os dedos, o som das batidas ressoava cada vez mais alto, o desespero contido em cada estrondo agitava a mente das garotas, interrompendo assim as lágrimas que escorriam dos olhos de Ana.

- Temos que abrir a porta... –Comentou Ana decidida.

- Claro que não, tá louca?! Não vou deixá-la pra trás, vamos fugir! Isso! Vamos fugir para bem long-- -

Ana levantou-se brevemente do chão e se posicionou na frente de Kuralline, agora apenas a ponta de seus pés e seus joelhos encostavam-se às tábuas frias do piso, sua coluna inclinou-se até que a testa das duas se encontrasse, calando assim a fala da irmã.

- Você não pode me salvar, fugir agora é suicídio, não tenho outra escolha, vou me entregar, vou abrir a porta. –Ana falou apertando as unhas contra as próprias mãos.

Impulsionando os joelhos para cima, Ana correu até a porta, Kuralline a agarrou pela cintura tentando impedir.

- Pare com isso! Vamos ao menos tentar! Kuralline berrava

- Se o plano não der certo você também morrerá, se eu me entregar nada de ruim acontecerá com você, não posso deixar que arrisque sua vida por mim, desculpe por isso minha irmã... –Ana joga o cotovelo para trás atingindo a barriga de Kuralline, que logo solta a cintura de Ana.

Por um momento todo o barulho pareceu ser abafado, contido, minimizado pelos ouvidos de Ana, o medo lhe consumia como a maresia ao metal, suas mãos, agora mais geladas e fracas, tocaram a maçaneta fazendo-a girar, escancarou-se a porta, e dela logo entrou um casal.

- Puta que pariu que susto! Por que não disseram que eram vocês?! –Disse a voz aliviada de Kuralline.

- Olha boca Kuralline! –Repreendeu uma mulher.

Os mesmos olhos cor de mel que Ana carregava consigo estavam naquela mulher, seus cabelos escuros lembravam os pelos mais negros de uma pantera, as unhas eram longas e super decoradas, os múltiplos colares no pescoço ofuscava até a mais bela árvore de natal, um vestido azul desbotado a vestia.

- Ana?! Levante querida, está sentindo algo? Machucou-se? –Falou o homem ao lado da mulher de vestido azul.

O nariz empinado do homem espelhava o de Kuralline, a careca reluzente cegava quem passasse, suas mãos eram ásperas como a superfície de um coral e rígidas como uma pedra, o longo roupão cobria as pernas finas que se deixavam à mostra pelo curto samba canção.

- Pai, estou bem... –Respondeu Ana com um tom de voz fraco enquanto levantava da queda que levara ao ser impulsionada pela porta.

Aqueles eram Lorenzo e Mabel, pais das garotas, havia estampado em seus rostos um olhar preocupado, porém tentavam não transparecer.

- Falta uma hora pra darem início ao processo, todos os selecionados têm que ir até o portão principal mais próximo, podem levar tudo que couber em uma bolsa que irão entregar antes de entrarem, mas é proibida a entrada com qualquer dispositivo eletrônico, não haverá nenhuma comunicação com quem estiver fora do Vale. –Informou Mabel em um tom de voz desgastante.

- Pelo menos ainda temos uma hora, Ana e eu achávamos que vocês fossem as marionetes, essas batidas na porta estavam insistentes até de mais... –Comentou Kuralline sobre a fala da mãe.

Marionete foi o nome dado aos guardas do processo, a essa altura do campeonato era quase impossível sair nas ruas sem topar com pelo menos três deles.

- Vou ajeitar minhas coisas, Kuralline há de me ajudar, agora já podem ir, aviso quando estiver pronta... –Friamente falou Ana para os pais.

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⏰ Última atualização: Aug 21, 2019 ⏰

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