Sobre Redenção

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Final da Primavera

5º ano

Aquela foi a primeira troca de olhares onde ambos sabiam a seriedade de suas diferenças. A troca de olhares que revelou seus extremos opostos. Ele mantinha os braços cruzados bloqueando a porta de entrada para o vagão da monitoria quando ela se aproximou. Já não usava o uniforme, mas seu distintivo dourado de monitora estava ajeitado perfeitamente sobre o vestido trouxa que ela usava para descer na plataforma de Kings Cross e ir embora para casa.

Magnífica.

Era uma palavra que a descrevia bem.

Sangue-ruim, era outra.

Hermione Granger andava como se estivesse alheia a qualquer um ao seu redor, entretanto sua postura lhe impunha tanto domínio que ela parecia ter magicamente o controle sobre todo o ambiente. Ela estava se tornando mulher e isso estava chamando atenção das pessoas mais do que o necessário. Algo detestável.

Ele trocou o peso de uma perna para a outra quando ela parou de frente a porta da cabine e o encarou. Seus olhos eram âmbar, mas ali com o sol que vinha da janela lhe tocando quase toda a extensão do corpo, eles estavam reluzindo dourado. Os cabelos que intercalavam seus fios claros e escuros moldavam um castanho exótico que descia perfeitamente alinhados do topo da cabeça e se abriam em enormes cachos para até a altura de sua cintura. Ele não gostava de competir atenção com ela. Não gostava de ver que as pessoas se sentiam divididas quando ela estava no mesmo ambiente que ele. Também a odiava por isso. Era como se até mesmo nas características física, competisse com ele.

Ela esperava que ele lhe desse espaço para passar. Esperava que ele dissesse algo em implicância também, como sempre fazia. Ele tinha sua frase, na ponta da língua, como sempre havia tido. Para provocá-la, fazê-la se sentir ofendida, fazê-la odiá-lo, mas ali para ambos pareceu claro demais que tudo entre eles havia mudado. Havia mudado porque desde que os jornais gritaram o retorno de Lorde Voldemort o mundo virara de cabeça para baixo, mas eles, eles sabiam claramente de que lado cada um estava naquela pequena guerra indireta que havia se iniciado desde o outono passado. Agora tudo era sério e verdadeiramente perigoso.

Não era necessário que ela recebesse qualquer palavra ofensiva. A figura que ele era estando ali parado, com os trajes elegantes de um verdadeiros Malfoy, o porte de um e o olhar tão incrivelmente encantador e assustador ao mesmo tempo já dizia que ela deveria recuar. Mas ela insistia. Mostrava a ele que não tinha medo do que quer que ele pudesse significar agora que Voldemort havia voltado. Então ele deu espaço para que ela passasse sem soltar uma palavra sequer. Ela seguiu seu caminho tão igualmente calada quanto ele. Mas o olhar que haviam trocado mostrava que agora tudo era diferente e que a brincadeira de gato e rato que haviam mantido até então havia tomado uma proporção realmente agravante. Eles estavam prontos para a guerra. Seria mais uma competição entre eles. Uma séria. As insignificantes vitórias de ser escolhido para responder uma pergunta quando levantavam a mão ao mesmo tempo em sala de aula agora iriam fazer parte de um passado que poderia ser considerado até mesmo nostálgico.


Início de Outono

6º ano

Ele tinha orgulho de mostrar a todos quem era. Era um Malfoy. A família mais clássica de linhagem puro sangue de todo o mundo bruxo. Pessoas comentam sobre eles, escrevem livros sobre eles, estudam sobre eles, esperam grandes coisas deles. A linhagem Malfoy estava cravada na História. Cada geração possuía, no mínimo, um cofre dez vezes maior do que a anterior. Draco Malfoy tinha o orgulho estampado em seu ego. O sangue que lhe corria as veias valia ouro. E como um perfeito puro sangue ele caminhava por onde fosse com toda a sua glória. Chamava atenção, claro, todos o conheciam, mas ele era o pacote completo. O dinheiro que carregava no bolso valia, mas também sabia que sua família era famosa por possuir traços invejáveis e ele não ficava de fora, especialmente quando tomava conhecimento sobre seu clube de admiradores. Não era modesto. Gostava de entrar no jogo daqueles que conseguiam se colocar no mesmo nível dele para peitá-lo. Gostava do desafio.

SOBRE A ROSA E OS ESPINHOSOnde histórias criam vida. Descubra agora