SETE CORAÇÕES

1.

As asas de Divor doíam como nunca antes, mas ele jurou não parar de fugir até deixar Nainin em segurança. Ele já previu o tamanho dos problemas que isso lhe traria e ainda assim se recusava em deixar a natureza decidir o destino daquele filhote - ele não tinha culpa de ser o que era - assim como Divor.

Não muito longe, os lagartais seguiam o rastro de pó mágico deixado pela fada em fuga. Nunca antes uma delas tinha chegado tão perto do Ninho Bifurcado - reino dos lagartais e víboras - e tampouco já tinham lhes roubado algo, seja uma escama, dente ou lasca de osso.

- Capitão - chamou Recon, a víbora rastreadora - sssangue no pó.

O capitão lagartal olhou o fluido colorido nas folhas altas e sibilou em júbilo:

- Sssua essssência está vazando rápido. Assim nem sssserá gostoso de comer essa praga sssseca!

- Masss Capitão - interveio Recon - Sssse dermo zespaço pra ela, acharemos a entrada par o Covil Colorido...

- E lá vai ter muita praga macia pra comer. Bom, bom Recon. Dar espaço, masss Recon perder praga, Recon ssserá devorada sem abate.

A víbora sentiu seu sangue frio gelar e partiu em busca do rastro seguinte.

No Bosque dos Cogumelos, Increa, a gnomo responsável pelo alerta de perigo na área das árvores de outono, preparava a terceira garrafa de nectamel para levar ao seu posto, onde nada acontecia, nunca.

A porta abriu num estrondo. Increa num piscar de olhos apontava para o invasor com sua trombeta de alarde.

- Não há tempo para brincar, Increa - disse o gnomo uma vez e meia mais alto que ela - Úria está morrendo e chamou por você!

A gnomo sentiu o chamado no coração lhe apertar o peito e expulsar a leve embriaguez que se instalara nela como maldição. No tempo de uma respiração ela largou a trombeta e partiu correndo por debaixo das pernas de Colin, o alto. Ele sabia que ela não voltaria para aquela casa raiz, então recolheu tanto a trombeta de alarde quanto a mochila com as garrafas.

Eles ainda não sabiam como, mas sentiam que tudo seria diferente agora.

(Continua...)