Sherlock Holmes olhava seu relógio que havia herdado de seu avô. Fazia exatamente meia hora que seu trem partira de Liverpool, deixando aquela cidadezinha para trás. Era o segundo trem que pegara naquele dia e o homem chegou a conclusão que não aguentaria nem mais um minuto sem uma xícara de chá e um cigarro.
Levantou-se do assento aveludado e caminhou em direção ao banheiro. O trem era gasto, suas cores eram velhas e a madeira precisava de verniz. O homem que lhe vendera os bilhetes havia jurado que os vagões foram feitos à cinco anos, mas Sherlock reparou que todos eles pareciam ter saído direto do fim da Segunda Guerra Mundial e provavelmente o moreno estava certo. O transporte era usado pelos trabalhadores que saíam das cidades vizinhas para ir se aventurar na pesca de Liverpool, na tentativa de conseguir o mínimo de sustento para as suas famílias. Possivelmente Holmes seria o único ali que conhecia Londres.
Esperava na porta do banheiro quando seu ocupante saiu. Era um homem negro, de cabelos raspados e roupas gastas.
- Tenha uma boa tarde, senhor! Poderia me dar um dos seus? - Ele perguntou, apontando para o maço de cigarros na mão de Sherlock.
- Claro! - O homem retirou dois cigarros, passando um ao colega na sua frente. - Quer fumar comigo no banheiro? Vi que são rigorosos contra fumaça dentro do trem.
- Oh, é uma ótima ideia! - O outro respondeu entrando no banheiro novamente. - Meu nome é Tom.
- É um prazer, Tom. O meu nome é Sherlock Holmes.
Os dois entraram no banheiro, fechando a porta e abrindo o pequeno vidro na parede de madeira do vagão. O aspecto do lugar era sujo como um esgoto ambulante, mas ainda era melhor do que a abstinência do fumo.
- Sherlock, você não me parece ser dessa região. - Tom disse enquanto esperava um fósforo que o outro riscava.
- É, suas observações estão corretas. Sou de Londres. Estou indo para Conwy. - O cacheado tragou o cigarro com paixão, soltando uma bola de fumaça aliviada no ar. Sentou- se na bancada da pia, que fedia à mijo.
- E o que faz um cara da cidade grande em um lugar medieval como Conwy? - O homem riu ao ver a expressão de nojo que Sherlock fez quando sentiu o cheiro de seu assento.
- Vou pintar o castelo. Uma cliente minha disse que cresceu brincando aos arredores do lugar e quer uma recordação... e você, Tom? Trabalha na pesca?
- Não. - Tom riu, olhando para suas vestes. - Estou voltando para casa após uma obra que trabalhei em Liverpool. Era uma casa de família, acho que os clientes ficarão felizes.
- Ah isso é melhor que pesca, sinceramente.
- Sim, realmente. Você nem imagina como os trabalhadores são abusados nos barcos. Você pode se dar bem se tiver um negócio próprio, ao contrário irá ralar para receber o mínimo. Exploração total. - O homem tragou o cigarro, olhando um pouco mais para Sherlock. - Espere... Você me disse que seu nome é Sherlock Holmes, não é?
- Sim.
- Espere um momento. - Tom olhou para a cesta de jornais ao lado do vaso sanitário, procurando por algo em meio aos papéis. Quando encontrou, se levantou e apontou a matéria de capa. - Você apareceu no Conwy News.
- Ah não, achei que ninguém me conhecia. - Suspirou, um pouco constrangido.
- Bom, devem conhecer depois dessa matéria... mas poucas pessoas realmente compram esse jornal. Geralmente eles são usados nos entretenimentos de banheiro, entende? Tipo, nessas cestas que ficam ao lado dos vasos sanitários, ou como toalha de mesa dos bares vagabundos de Liverpool. Poucas pessoas ligam para o que acontece em Conwy.
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Oh Danny Boy || Johnlock!
FanfictionSherlock chega ao seu destino: Conwy, no interior da Inglaterra. Ele se prepara para terminar sua encomenda, mas se vê absolutamente fascinado pelo artista que encontra no lugar. Inspirado na música Danny Boy, Elvis Presley.