As manhãs em Conwy eram tão frias quanto as noites e Sherlock apreciava a neve pela sua janela de madeira. A cidade amanhecera branca e gelada, parecendo uma Londres calma e amigável. Não que Holmes fosse um grande admirador da paz. O homem gostava do cotidiano urbano e poderia citar todos os endereços de Londres em uma conversa de bar. Talvez este seja um dos diversos motivos pelos quais o artista não consiga fazer muitos amigos. Na realidade, não tinha nenhum. Tinha uma tartaruga chamada Clyde e um crânio humano que ganhara como pagamento de um retrato que fizera certa vez. Mas era solitário e não se incomodava com este fato. Conseguia ser amigável com desconhecidos, mas só chegara nesse nível de socialização porque devia fazer contratos e manter clientes. Se tivesse uma profissão menos social, não conversaria com ninguém por meses e estaria plenamente bem assim.
Algumas batidas leves na porta acordaram o moreno de suas reflexões, o deixando levemente irritado. Não gostava de interrupções.
- Quem é? - Perguntou alto, para que ouvissem do outro lado da porta.
- John Watson, senhor!
Holmes caminhou calmamente até a porta, abrindo-a para que pudesse ver a silhueta que tanto admirou na noite passada.
- Bom dia, Watson. Já pedi para que não me chamasse de senhor, não é? - Sorriu levemente.
- Ahn... desculpe. Minha mãe me ensinou a ser educado com os hóspedes, me sinto estranho com tanta intimidade... - O rapaz corou um pouco.
- Não é intimidade. É amizade. - Sherlock piscou, mas John achou aquilo um pouco forçado demais.
- Você parece falso. - John disse, em meio devaneios. Quando percebeu o que havia dito, corou ainda mais. - Merda, eu falei alto... me perdoe... Eu...
- Tudo bem, tudo bem. - Sherlock riu da reação do menor. - Olha, as vezes eu sou social apenas porque devo ser. Me admira sua sinceridade, de fato. Mas, sério, não me chame de senhor. Me lembra meu irmão e ele é a pior pessoa do mundo.
- Desculpe... Sherlock... Eu... Não quis ofender. Na verdade estava aqui para levá-lo ao castelo. - John sorriu.
- Ótimo. Está na hora de começar o trabalho. Quero pintá-lo do outro lado do rio, existe algum problema?
- Nenhum. Mas precisará ir de barco, temos um disponível, que uso em dias que quero pescar. Posso te levar até lá.
- Perfeito!
- Por favor, Sherlock, - Disse, ainda constrangido - Vamos descer, tomamos o café da manhã e depois partimos.
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O sol era frio e fraco. De nada adiantavam os raios alaranjados. A neve ainda prevalecia por toda a cidade, que agora se distanciava dos dois. O lago de Conwy não era extenso, mas sua profundidade era deveras amedrontadora. John se segurava nos remos e olhava para a madeira do barco, evitando contato visual com a água. Ao reparar no medo do mais novo, Sherlock sorriu e balançou de leve o barco.
- Por favor senhor, não repita isso. - John apertou os remos em suas mãos. - Eu não gosto da água no inverno...
- Se me chamar de senhor de novo eu te jogo nesse lago. - Respondeu o moreno, levemente irritado. - E qual é a diferença entre a água no inverno e a água no verão? Achei que gostasse de pesca.
- A água do inverno é escura. É densa... Existem histórias sombrias sobre as criaturas que nadam nesse lago no inverno. Sei que você vai achar idiotice, ninguém acredita nos livros antigos que meu pai colecionava... Apenas eu, o idiotason. - John havia corado, sem fazer contato visual com Sherlock.
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Oh Danny Boy || Johnlock!
FanfictionSherlock chega ao seu destino: Conwy, no interior da Inglaterra. Ele se prepara para terminar sua encomenda, mas se vê absolutamente fascinado pelo artista que encontra no lugar. Inspirado na música Danny Boy, Elvis Presley.