- Você precisa melhorar essa sua vida social. – Manuela diz para mim no dia seguinte, uma sexta-feira, quando nos encontramos no metrô para irmos até o shopping assistir a um filme. Não deixei que marcassem nenhuma consulta para essa sexta, porque é o lançamento de um filme que Manu estava louca para ir, e como havia acabado de terminar com seu ex-namorado (de novo), precisava da amiga para fazer o step.
- Eu saio bastante. – me limito a responder.
Não é mentira. Eu saio. Muito. Vou a bares, baladas, shows, teatros, museus, parques, shoppings... sozinha ou na companhia de uma, ou mais pessoas. Já que não posso usar minha magia comigo, tenho que me esforçar para conseguir encontrar com um cara que goste de mim.
Mas, como é de se esperar, não é tão fácil assim.
Não é que eu seja magra (lembra da forcinha de San Valentin?), mas estou, sim, acima do meu peso ideal. Isso não significa que eu seja feia. Acredito que estou na média. Meus cabelos escuros são muito lisos e pesados, por isso sempre o mantenho com um corte repicado, tornando-o mais leve e esvoaçante. Não ajuda muito na hora de fazer penteados, mas quando soltos são uma maravilha. Minhas pernas são tortas e tenho uma barriguinha pendurada. Fora isso, sou bem legal. Altura legal, seios legais, bumbum legal, aparência, no geral, legal. Além disso, minha personalidade não é tão ruim. Topo 90% dos convites que me fazem para sair, não faço birra com a divisão da conta (só quando não consumo nada) e sou uma ótima ouvinte (e também falante). Como disse, na média.
O problema é que os paulistanos não se importam com as garotas na média. Eles querem as peitudas demais, magras demais, bundudas demais, maquiadas demais, simpáticas demais, com atitudes demais ou modelos demais.
Sou facilmente descartada pelos homens por quem mostro interesse e também pelos que não dou a mínima. Nunca fui em um encontro e, o pior de tudo, ainda sou virgem.
Virgem. Você conhece uma pessoa virgem aos 29 anos? Quero dizer, virgem por obrigação, não opção.
Sim, eu mesma. Emília, do 151A.
Como uma integrante da minha família amaldiçoada por San Valentin, acredito muito no amor e que se o beijo não foi com uma pessoa amada, pelo menos que o ato sexual seja. Isso me garantiu o prêmio de virgem do século 21.
Se me arrependo? Não.
Não que eu tivesse tido a opção de aceitar ou recusar, mas prefiro pensar que em algum momento, em algum bar, balada, happy hour, evento... alguém sentiu uma atração sexual por mim e eu decidi que não.
- Eu posso te reapresentar meu irmão. Eu juro que ele está mais legal.
- Legal e seu irmão são duas coisas que não batem em uma frase. Uma tenta chutar a outra para longe.
O irmão mais velho de Manu, Marco, também mora em São Paulo. Porém, ao contrário da minha amiga, ele é a pessoa mais bem-sucedida que já ouvi falar (afinal, não o vejo desde os 13 anos, quando ele tinha 17 e veio para a capital após passar no vestibular). Seu relacionamento anterior com a filha do diretor do melhor hospital de São Paulo garantiu seu posto importante no lugar. Mesmo após o término, o agora ex-sogro não permitiu que o relacionamento pessoal dele afetasse o profissional. É por isso que agora faz quatro anos que Marco é o neurocirurgião mais requisitado entre os profissionais da área, em toda a nossa região Sudeste.
- Ele mudou. Viu que não adiantava de nada ser um mala como o nosso pai. – ela disse, passando pela catraca da saída do metrô. – Além disso, já faz 15 anos.
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A Maldição de San Valentin
Chick-LitVinda de uma família que possuía o dom de trazer o amor desejado, Emília se viu presa em uma maldição quando desobedeceu uma das regras de San Valentin: "Não quebrar uma corrente de amor." Ela havia feito porque o garoto havia traído sua melhor amig...