Doce Paris

Capítulo 3

Era 06:45 da manhã quando o relógio despertou. A noite foi tranquila, consegui dormir bem. Acredito que foi a oração que eu havia feito antes de dormir.

Me levantei, abri a janela, que dava de encontro com o pé de goiaba do meu quintal, e fiquei ali ouvindo os passarinhos cantar. Fazia algum tempo que não me sentia tão bem. A consulta com a Dra. Jane seria às oito, então, poderia me arrumar tranquilamente. Tomei um banho, fiz a minha higiene e coloquei um vestido florido que eu amava e fiz um rabo de cavalo no meu cabelo. Coloquei meus brincos de pérola e calcei uma sandália. Estava um tempo fresco delicioso e eu curti cada minuto.

Desci e fui até a cozinha e mamãe já havia feito o café da manhã. Ela fez waffles e panquecas doces... O cheirinho de café inundava a casa toda.

_ Bom dia minha filha ! _ mamãe diz, vindo até mim e me dando um abraço.

__ Bom dia mamãe. Que cheirinho bom ! _ falei, enquanto pegava uma banana.

__ Você está com um rosto tão sereno filha. Que ótimo te ver assim !

__ Eu dormi bem mãe. Passa o leite pra mim por favor ! Papai já saiu?

__ Sim meu amor. Ele saiu mais cedo hoje. _ mamãe diz, enquanto abre a geladeira.

Ficamos ali tomando o café calmamente e conversando por algumas horas. Mamãe iria me levar até o consultório. Eu já havia tirado a minha carteira de motorista, mas o documento ainda não havia chegado.
E também, eu precisava que ela fosse comigo. Gostava de sair com a mamãe.

Chegamos ao consultório e fomos para a sala de espera. Não demorou vinte minutos e a doutora me chamou.
A consulta demorou cerca de trinta minutos. Foi uma experiência diferente para mim. De início, foi um pouco estranho, mas depois fiquei mais a vontade.

Saímos do consultório, mamãe e eu,  passamos ao supermercado para comprar verduras. Chegamos em casa, ajudei a mamãe a preparar o almoço e mais a tarde, iria ensaiar.

Normalmente, todas as tardes, eu me dedicava ao ensaio para o Festival.
Dei uma descansada de uns vinte minutos e fui até meu quarto pegar minhas partituras.
Estava indecisa quanto a canção. Gostava de tocar canções de Mozart e Bach também. Durante o curso, tocava muito a " Flauta mágica, a Lacrimosa e a Riquiem", de Mozart.
Comecei a procurar dentre as partituras e percebi que faltava algumas em minha pasta. Me lembrei que mamãe havia guardado algumas no sótão, então, precisava ir lá buscar, mas... E o acontecimento daquele dia terrível? _ perguntei a mim mesmo.
Fiquei receosa por alguns instantes. Precisava ensaiar, mas teria que ir lá buscar.

Fiquei ali parada e os meus pensamentos começaram a me assustar, senti uma espécie de tontura e meu coração começou a bater forte. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo. Aquilo de novo não...

Comecei a suar frio, minhas mãos estavam suadas e frias. Meu corpo todo estava estranho. Eu estava tendo mais uma crise de ansiedade. Precisava de ajuda e não queria chamar a mamãe. Não queria preocupa-la, então, tentei me acalmar, mas tudo estava sendo em vão.

Pensamentos estranhos me envolviam, parecia que havia mais pessoas ali no quarto, que sensação horrível eu sentia.
Me deitei e fiz força para gritar,mas a voz não queria sair. Tentei várias vezes e chegou uma hora que minha mãe ouviu e abriu a porta.

__ Filhinha, o que houve? _ mamãe disse, me abraçando.

__ Calma meu amor, está tudo bem. Fique calma. Já passou !

Mamãe ficou ali por algum tempo me abraçando.
Sentimentos de tristeza, dúvida, sensação de derrota e muitos outras coisas passaram pela minha cabeça. Eu queria desistir de tudo. Sentia-me impotente, talvez, um fardo para minha família.

Eu precisava ensaiar, havia um grande desafio pela frente, e o que eu poderia fazer?
Eu precisava de um milagre... Sim, com certeza, eu precisava.