Capítulo 2

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Eu não estava muito bem depois do incidente no sótão. Meu corpo estava estranho e sentia calafrios e medos constantes. Comecei a ter medo de tudo, inclusive do escuro. Tentava disfarçar quando estava perto dos meus pais para não preocupá-los, mas nem sempre tinha sucesso.
Eu pensava :
__ Como isso foi me acontecer agora?

Eu precisava me preparar para o Festival de Música. Já se aproximava o outono e aquilo não podia me atrapalhar, meu Deus, eu preciso de ajuda !

Sentei no meu lugar preferido... o meu piano, que tinha herdado da minha avó. Toquei " Fur Elise " de Beethoven, a canção preferida dela . Tocar essa canção sempre me acalmava... Aliás, sentar no meu piano era um refúgio para mim. Sentia uma paz incomum cantando e tocando minhas canções prediletas.
Fiquei ali tocando por algumas horas e pensando na minha infância. Como eu fui uma criança feliz. A nossa casa era repleta de plantas e flores por todos os lados. O nosso quintal era enorme. A minha vó morava perto e cuidava de mim as vezes quando a minha mãe precisava sair. Ela fazia cup cakes deliciosos, bolos, pudins... Brincávamos de bonecas e minha vó imitava vozes super engraçadas. Cada boneca tinha uma voz diferente.
Que saudade dela e dos nossos momentos juntas !

Estava ali, me lembrando daqueles fatos enquanto minha mãe chegava com uma xícara de chá e biscoitos, que eu, particularmente, amava...
__ Filha, está tudo bem? _ minha mãe me pergunta, afagando o meu cabelo.
__ Sim mamãe, eu estava aqui com minhas lembranças. Sempre que senti no piano, me lembro da vovó. Sinto saudades.
__ Filha, eu também sinto. Mamãe era uma mulher incrível. Ela amava muito você e tenho certeza, que saberia me dizer como tratá-la diante desses acontecimentos. Estou preocupada com você meu amor. Me sinto sem chão nesse momento, mas juntas, vamos vencer. _ mamãe me disse essas palavras enquanto me abraçava forte.
Parei por uns momentos para curtir aquele abraço tão gostoso. Eu me sentia impotente também diante de tudo o que estava acontecendo.

Pensar no futuro me causava ansiedades... Eu tinha que aprender a lidar com tudo aquilo. Precisava me controlar por causa do Festival.
Minha mãe marcou a minha primeira terapia com a psicóloga. Para mim, era estranho falar com alguém que eu nunca havia visto antes, mas precisava tentar alguma coisa.
Coisas muito estranhas estavam acontecendo no meu interior e eu precisava aprender a lidar com os meus fantasmas.

__ Filha, o jantar está pronto !_ ouço a mamãe me chamar, então, vou até a cozinha. Papai e o meu irmão estão sentados a mesa e me olham, espantados...

__ Louise, filha, está tudo bem? _papai indaga, segurando minha mão.

__ Papai, eu estou um pouco sonolenta, devido ao remédio que a doutora passou. Mas estou bem.

__ Ótimo filhinha. Pegue o seu prato, você precisa se alimentar. _ papai sorri.

Peguei meu prato e definitivamente, não estava com nenhum apetite. Coloquei um pouco de arroz, legumes e um pouquinho de salada e me servi de um pouco de carne assada. Consegui comer algumas colheradas, tomei o meu suco e saí da mesa.
Fui lá fora tomar um ar, estava uma noite bem fresca e o vento esvoaçava os meus cabelos. Olhei para o céu, que estava hiper estrelado... Lindo. Fiquei ali por alguns minutos pensando na vida... Senti uma paz inigualável naquele momento. A impressão que eu tinha, era que havia a presença de alguém do meu lado. Me lembrei do Sonho que eu tive e então, comecei a soltar algumas palavras.

__ Deus, o Senhor está me ouvindo? Se puder me ajudar, eu te agradeço. Eu não quero mais sentir essa ansiedade. Me ajude a lidar com ela. Eu não sei orar muito bem, mas estou começando a acreditar que o Senhor existe. Pega na minha mão, eu quero te sentir.

Balbuciei aquelas palavras e me sentei na cadeira da varanda.
Fiquei ali por alguns minutos e depois voltei para dentro de casa. No dia seguinte seria a minha primeira consulta e estava um pouco preocupada. 

Doce ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora