Across the Time

Dance

Pois amantes dançam quando estão apaixonados

Holofote brilhando, somos só nós

Essa é uma sensação que nunca tive, mas

Somos só nós

All About Us - He Is We

* * *

- Não, eu definitivamente não vou dançar - Zayn disse balançando a cabeça enquanto sorria ironicamente. - Isso está fora de cogitação.

- Por que? - o diretor perguntou. - A cena ficaria ótima no clipe.

- Então arrumem alguém pra dançar, eu que não vou - respondeu e em seguida tomou água.

Me afastei para dar privacidade aos dois. O diretor queria fazer uma cena de dança na chuva, mas por algum motivo o Zayn se recusa a aceitar.

Fui tomar água e aproveitei pra fazer uma ligação para minha mãe dizendo que está tudo bem e contando todas as novidades. Nunca fomos tão próximas, mas com toda a certeza do mundo ela é a pessoa que mais confio. Após um tempo de conversa, eu desliguei.

- Me desculpe.

- Por qual motivo? - perguntei me virando e observando Zayn pegar uma garrafa d'água.

- Aquilo com o diretor - ele disse.

- Não precisa se preocupar, é sua escolha ter algo ou não em seu clipe.

- Você é tão politicamente correta - Zayn riu e encostou no balcão que estava atrás de nós dois.

- Você que fala "politicamente correta" e eu que sou?

- Sim - falou e piscou para mim. - Você fala tudo certinho, tem uma postura boa e anda como... sei lá, você anda bem.

- Sou modelo - falei rindo e dando de ombros.

- Eu também sou às vezes - Zayn disse e em seguida tomou mais água - Por que decidiu ser modelo?

- Era apenas um sonho de criança que se tornou realidade, acho.

Ele concordou e acenou com a cabeça dizendo que ia filmar a última cena do dia. Ficamos entre quatro à sete horas gravando. Depende muito do dia, do clima e de como estamos atuando naquela hora.

Fiquei assistindo a gravação por mais uma hora até a estilista me chamar para irmos em algum lugar na cidade para comprar roupas e tecidos para os figurinos. Todas as equipes envolvidas no clipe são muito simpáticos e alegres, prontos para ajudar em qualquer coisa.

A paleta de cores foi escolhida por Zayn junto ao diretor e é incrível em todos os aspectos. São tons amarelos com preto e branco. Falando pode parecer estranho, mas forma uma harmonia maravilhosa.

Ficamos escolhendo mais tecidos do que roupas já prontas. A estilista, Amy, queria roupas mais originais e feitas exatamente para aquela ocasião. Conversamos como poderia ser e ela tirou minhas medidas.

- Pode parecer legal, mas ficar em meio a tantos homens é estressante - falei lhe esticando o braço.

- Eu entendo. É legal ter uma mulher para conversar - Amy disse me dando um sorriso.

- Concordo. É como se fosse uma válvula de escape.

- Mulheres apoiam mulheres - respondeu apertando minha mão de leve.

Cheguei no hotel já de noite. Estava extremamente cansada, então pedi janta em meu quarto para não precisar descer. É tão bom participar de um grande projeto, mas tão cansativo. Meu sonho sempre foi ter nascido rica e não precisar trabalhar para me sustentar, seria a melhor coisa que poderia me ocorrer. Infelizmente isso fica só nos pensamentos.

Uma mensagem chegou em meu celular e vi o nome de Zayn. Pera, Zayn?

Venha ao meu quarto, por favor, Lolo.
É o Zayn, só para saber.

Lolo? Que apelido é esse?

Terminei de jantar primeiro, depois fui escovar os dentes. Saí do quarto e atravessei o corredor a procura do quarto certo. Bati na porta assim que achei. Tá, isso é mentira. Eu hesitei por alguns segundos - ou minutos.

- Pode entrar, a porta está aberta - ouvi sua voz soar.

- Você não deveria deixar a porta aberta sendo famoso - falei entrando e o procurando apenas com os olhos.

- Não deixo, só deixei agora porque fiquei com preguiça de ir abrir depois - me respondeu ao sair do banheiro vestindo apenas um calça preta. Uau. - Ótima escolha de roupa para vir conversar com seu chefe.

- Não ia tirar meu pijama só para vir aqui - falei brincando.

Fui andando e me sentei numa cadeira que estava ao lado da cama.

- Como sabia que eu viria sendo que não respondi sua mensagem?

- Eu consigo tudo o quero.

- Exibido - falei jogando o travesseiro nele. Zayn riu se desviando. - Não me leve a mal, você é lindo, mas não faz meu tipo.

- Seu tipo? - perguntei e concordei com a cabeça. - Quem exatamente é seu tipo.

- Não sei... Michael B. Jordan, talvez.

- Michael B. Jordan? Você só gosta dele porque ele faz o primo do Pantera Negra - falou se jogando na cama e me encarando.

- E o Adonis Creed. Não se esqueça do Adonis Creed.

- Tanto faz, eu sou mais bonito.

- Só nos seus sonhos, querido - falei gargalhando e ele ergueu uma sobrancelha. - Aquele homem é um deus na Terra.

- Desde quando temos essa intimidade? - perguntou se sentando novamente.

- Desde que você me mandou uma mensagem me chamando de Lolo. De onde surgiu isso?

- É um apelido bonito.

- Definitivamente não é - falei e o empurrei pro lado. Me sentei na cama com o rosto apoiado na mão.

- Não me importo.

- Eu sei.

Ficamos conversando por um longo tempo e depois ele me disse para jogarmos vídeo-game. Mortal Kombat e depois Street Fighter. Modéstia parte, sou muito melhor que Zayn. Ganhei quase todas as partidas e ele desistiu com raiva alegando que eu estava "roubando". Foi apenas uma desculpa para não assumir que é péssimo. Foi uma discussão duradoura até ele dizer que eu perderia no Fifa, o que realmente aconteceu.

Paramos de jogar e voltamos a conversar. Perguntei por que ele não queria dançar como o diretor havia pedido e Zayn me respondeu que não sabia e que nunca dançou músicas lentas.

- Nem em bailes de escola? - perguntei chocada.

- Eu sempre tive vergonha - ele respondeu indignado.

Como alguém consegue viver sem dançar? A música pode ser feliz ou triste, mas eu sempre danço do mesmo jeito. Dança é a melhor coisa pra aliviar a tensão ou qualquer coisa.

Peguei meu celular colocando em uma música e o deixei no criado-mudo.

- Vem - falei me levantando e indo até o meio do quarto

- O que? - Zayn me olhou confuso e começou a negar freneticamente quando percebeu o que eu estava fazendo. - Não, isso não vai rolar, Lou.

- Você nunca vai saber se não tentar.

- Nunca vou saber o que?

- Vai que essa é sua vocação - falei brincando e ele riu. Comecei a balbuciar a letra da música. - Pegue minha mão. Eu vou te ensinar a dançar.

Realmente estiquei minha mão e ele a pegou de forma relutante.

Eu vou te fazer girar, não vou deixar você cair.

Quer me deixar guiar? Você pode subir em meus pés.

- Eu que deveria estar te ensinando a dançar com essa música - ele disse rindo meio nervoso.

- Tente, vai ficar tudo bem.

Conforme a música ia tocando, eu o guiava pelo quarto. Às vezes ele tomava as "rédeas" e me girava por vontade própria. Ele não era ruim, apenas se limitava a sair da zona de conforto.

Foi engraçado porque ele pisava em meu pé às vezes e isso realmente doía, mas continuávamos sempre no bom humor.

A música estava acabando e a dança diminuindo o ritmo. Foram apenas três minutos dentro de uma eternidade. Um momento legal em que o mundo afora não existia e nós dois estávamos em perfeita harmonia nos últimos segundos.

- Essa é uma sensação que nunca tive, mas somos só nós - cantarolou a última parte em meu ouvido e paramos de girar.

Ficamos sem nos mover por um tempo indeterminado. Segundos? Minutos?

Afastei minha cabeça de seu ombro devagar e o encarei. Ele me encarou. Acho que estávamos perigosamente próximos, mas isso não importou. O mundo afora realmente não existia mais. Éramos apenas duas pessoas que não se conheciam nem há uma semana direito ali, paradas se olhando intensamente.

Zayn começou a se aproximar e eu deixei.

No último segundo me afastei. Ele me olhou confuso e eu fingi que nada estava acontecendo.

- Acho que devo ir. Está tarde e vamos ir trabalhar cedo, não quero parecer um zumbi durante as gravações - falei e fui em direção à porta. - Boa noite, Zayn.

- Boa noite, Lolo.