O Guerreiro Enferrujado

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Minha vida com Fantma seguiu por vários anos como um doce sonho. Casamo-nos, nos mudamos do dojo para uma casa modesta, mas confortável, no subúrbio de Krathious; lá, ela deu a luz a minha primeira herdeira, Kate. Uma doce criança, o mesmo cabelo negro e enrolado do pai, a pele mulata e macia da mãe.

Os primeiros 5 meses de paternidade foram especialmente difíceis de lidar. Sem empunhar espadas e cortar cabeças, sou um homem desajeitado. Dentre vários desafios que posso listar, ser normal fora com certeza meu verdadeiro calcanhar de Aquiles. Mas, por ironia da vida, minha maior fraqueza é minha maior fortaleza e, em um fatídico dia, conflitos externos se intrometeram na integridade de minha família.

Era uma manhã normal, até onde me lembro. Saí de casa, onde um céu nublado que pintava o dia em tons monótonos de cinza me aguardava. Estava indo até a Full Store, o aniversário de Kate estava me aproximando e prometi a ela que iria presentear-lhe com um par de patins a jato. A rua estava particularmente tumultuada. Pessoas se aglomeravam aos montes em frente a entrada da loja, enquanto seguranças se esforçavam para barrá-los. Aproximei-me com cuidado, pois indubitavelmente a agressividade se fazia presente na atmosfera. Em passos lentos, fui me aproximando, devagar, quase fazia parte da multidão, quando ouço um baque surdo e, em seguida, as pessoas ali presentes explodiram em uma cacofonia de berros e urros.

Uma confusão de cotoveladas, empurrões, socos e chutes iniciou oficialmente o caos. Pessoas indefesas fugiam, e bárbaros brigavam. Enquanto lutava para manter-me de pé, enxerguei com dificuldade por entre as pessoas o que talvez tivesse sido o estopim para o conflito. Um homem com o nariz sangrando se recuperava de um soco aparentemente desferido por um dos seguranças. A violência procrastinou-se até esse determinado momento, onde a fúria era tão pronunciada quanto o sangue era derramado. Não era possível se encontrar objetivo nesta pequena guerra, simplesmente uma pancadaria a qualquer um que se encontrasse.

Como já era de se esperar, uma vez que eu estava ali parado, a briga me alcançou. Meu devaneio mediante a incompreensão fora interrompida por um golpe no rosto que enfiou-me bruscamente na realidade. Estava ali em minha frente, a fúria animalesca no olhar, um homem alto, robusto e careca, com uma barba negra e desgrenhada que se estendia até o peito, sangue no rosto, porém nenhum machucado sério, claramente um dos mais fortes ali. Naquele momento, eu só esperava que soubesse infligir dor com a mesma eficiência de 10 anos atrás.

Com um grito estrondoso, levantou seus dedos grossos avançando em direção ao meu pescoço. Abaixei-me no último instante, dando-lhe um doloroso chute em seu joelho esquerdo, que se dobrou e fez com que o homenzarrão se curvasse. Tentei me aproveitar da queda do gigante para socar-lhe o rosto, porém, com uma velocidade incongruente a seu tamanho, o brutamontes aparou meu soco, segurando minha mão e lançando-me para longe. Caí de costas no chão, observei o homem levantar-se apoiando-se na perna que eu não havia machucado.

- Ao que parece, machuco bem mais do que você, meu querido! - disse, provocando-o.

O brutamontes, afetado por minhas palavras, avançou como um touro, levantei-me e corri até ao encontro dele. Estávamos a poucos metros do choque, quando dei um pulo alto. A imprevisibilidade do movimento imprimiu uma surpresa explícita no rosto do homem, sendo interrompida por meu joelho enterrado violentamente em seu rosto. Sua corrida foi interrompida, ele caiu pra trás, batendo com força a cabeça no chão. Com uma cachoeira de sangue saindo-lhe pelas narinas, e visivelmente aturdido, o homem tentou se levantar, mas com um movimento rápido seguido de um chute, terminei meu trabalho, levando-lhe a incosciência.

- Era como eu temia, estou enferrujado. - disse para mim mesmo.

Observei ao redor, algumas pessoas pararam para olhar a briga, mas a briga ainda perdurava. Após uns segundos de observação, decidi voltar ao propósito de minha vinda: o brinquedo, havia esquecido completamente. Vi um dos seguranças penando para conter dois rapazes jovens, estava cheio de marcas e corte. Me posicionei atrás dos dois rapazes e num só movimento, agarrei a cabeça dos dois indivíduos e as bati uma contra a outra. Reconhecendo o seu salvador, o segurança fez menção de agradecer, mas foi interrompido por mim:

- O que está acontecendo? - perguntei-lhe.

- A loja está com baixo estoque, eles querem entrar a toda custa. - respondeu com dificuldade.

De fato, a Full Store é a melhor loja de variedades da região, muitas coisas só se encontram ali, como o presente que Kate pediu.

- Por que estão com baixo estoque? - interroguei.

- Por que os Caminoeiros se recusam a abastecer as cidades.

- Como assim? - indaguei, sem disfarçar a surpresa na voz.

- Não sei por que, eles pararam de trabalhar, logo toda ShineTown vai ficar sem ser abastecida, logo mais brigas como esta serão vistas.

Isso não significava apenas que eu não iria presentear minha garota, mas também que possivelmente em breve não poderia alimentá-la. Os Caminoeiros são responsáveis por trazer comida, brinquedos, acessórios e diversas outras coisas para as cidades, e ShineTown, o próspero estado que se criou da junçao de Krathious com as cidades vizinhas, ruirá caso a situação não seja alterada, o que significa que eu e minha família também sofreremos. Essa é uma possibilidade aterrorizante para mim.

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⏰ Última atualização: Mar 13, 2021 ⏰

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Louis Edward e a Queda de ShineTownOnde histórias criam vida. Descubra agora