Capitulo 1

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Sempre pensei que a vida seria fácil, que conquistaria as coisas sem sofrer e que o final feliz não tivesse passado por uma tempestade enorme. Acontece que sempre estive errada, mas é bom sonhar as vezes, certo?
Viver em uma das favelas mais bem desenvolvidas da Esfera, pra alguns, é uma vida de luxo, mas para nós, que praticamente caçamos nossa própria comida, ou você mata ou morre. Nunca foi fácil viver sem saber seu passado, em uma simples manhã eu acordei sem saber quem eu era, ou onde eu estava, ou qualquer informação básica que um ser humano precisa para sobreviver. Só me disseram que tudo iria ficar bem e me deram instruções necessárias para viver na Esfera.
A Esfera seria basicamente um estado enorme que foi protegido por uma grande muralha de aço e que aos poucos subiram tudo, até se formar uma grande esfera que era possível de ver até da lua. Mas o problema é que não sabemos se há vida lá fora, só o que sabemos é que há outros planetas e um Sol. Mais nada!
–Quando que você vai ajudar? –ouvi a voz de Miles do outro lado do fone que eu usava. Resumindo, vida de saqueadores não é fácil, já que o Governo exige de sermos certinhos, então, criamos pequenos planos de fuga, mas sempre com planos B caso dê errado.
–Na hora que você parar de ser um babaca –respondi com certa ironia enquanto via ele correndo entre os prédios antigos da favela com um monte de guardas atrás dele.
–Não é isso que você diz na cama.
Peguei meu arco e uma flecha que eu havia fincado no chão e mirei em um ponto fixo da parede de um prédio próximo a Miles. Atirei a flecha e vi ela passando de raspão pelo cabelo dele. –Por que leva tudo tão a sério? Quase perco a cabeça, literalmente!
–Talvez seja difícil ser o cérebro de tudo e ser comediante –falou Peggy no meu lugar, percebi que ela estava no prédio em frente ao meu, sentada no parapeito, com as pernas balançando no ar.
–Obrigada Peggy. Tem como apressar o passo Miles? Consigo tirar eles da sua cola na próxima esquina.
–As suas ordens capitã! –observei ele correr mais depressa entre o prédio que eu e a Peggy estávamos.
Me virei para pegar minha flecha e girando meus calcanhares mirei em uma placa de choque que instalei minutos antes. Respirei fundo e atirei minha flecha.
A flecha passo raspando pelo pé de Miles, já que a placa era na altura dos calcanhares, mas por sorte, conseguiu fazer uma barreira, que quem encostasse levaria, claro, um choque.
Alguns guardas idiotas até conseguiram passar da barreira, porém por conta da alta voltagem, caíram feito uma folha de outono do outro lado, sem vida e secos.
Percebi que Miles gritava loucamente por ter conseguido despistar os guardas enquanto pegava um atalho para nosso prédio abandonado, Peggy dava pulinhos de alegria ao mesmo tempo que informava o pessoal que havíamos conseguido roubar a carga com sucesso. Me contive em apenas um sorriso de lado e me dirigi até nosso esconderijo.

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–Ainda não entendi porque roubamos um monte de papelada do Governo –Claus explodiu enquanto estávamos tentando decodificar os documentos. Acontece que todos eles não estavam na nossa língua, parecia um código do próprio escrito dessas papeladas.
–Acontece que não é qualquer papelada –Peggy pronunciou enquanto estava com as mãos apoiadas na mesa, tentando achar alguma maneira de solucionar –Tudo isso diz o que mais queremos saber.
–Quem fomos nós no passado –completei. Estava sentada no colchão em um canto do cômodo, Miles já havia desistido e estava descansado ao meu lado, depois de roubar os documentos do Governo ele disse para acordamos ele só quando o Governo caísse, algo que não está próximo.
Claus soltou uma risada engasgada e desceu da mesa que estava sentado, onde também estava todos os papéis.
–Ainda não entendo essa fissura por saber quem fomos. Se apagaram nossas memórias, foi porque não merecíamos saber! Pronto! Fim da história Claire!
Ficamos em silêncio durante um bom tempo, até que Lydia entrou com sacolas cheias de comidas, provavelmente roubadas.
–Cheguei! –parecia que ela reparou o clima tenso, pois seu sorriso se desfez –Que cara de merda é essa de vocês?
–Os papéis parecem ter um tipo de código que não sabemos identificar.
–Ja tentaram Código morse? –Lydia me rebateu colocando as sacolas em um canto e indo direto pra mesa examinando os documentos.
–Muito óbvio, nunca que um cara do Governo colocaria esse pra gente descobrir fácil –Claus respondeu ríspido enquanto voltava pra mesa.
–Vai ver alguém de dentro quer que a gente saiba de algo! –Peggy chutou, mas Claus novamente disse com grosseria.
–Ah, por favor! Eles nos odeiam!
Os três entraram em uma discussão interna enquanto eu me deitava pra ver se minha dor de cabeça aliviava.
–Por isso não quis virar o Cabeça do nosso grupo –Miles disse baixinho e em um tom sonolento enquanto me aninhava nele para tentar dormir.
–Só me tornei a Cabeça da equipe porque é bom saber de tudo.
–Ou não –rebateu –Nunca se sabe.
E assim eu dormi, com essa incerteza se saber de tudo era bom, ou não.

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