Por todos os lados

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Ela coloca o prendedor de cabelo preso ao cinto da minha calça, para soltar os cabelos e depois olhar para os lados. E aonde quer que eu olhe, há um pecado. Aperto forte sua mão, estou suando. Ali, entre os moradores de rua, lá está ela. E aqui, comigo, aturando tudo que meu corpo sente a golpes de coração inchado. Ela não tem nojo do meu suor. Eu fecho os olhos, mas não muda nada, está tudo ali. Ela está entre os moradores de rua, satisfazendo seus desejos, dando para eles todas as expressões que deveriam ser só minhas. Ao menos, é nisso que acreditei toda a minha vida, que existem coisas que recebemos e que são só nossas, quando somos especiais, quando temos aquele lugar destacado na vida de alguém. Eu via minha prima Joelma olhando o namorado dela, Paulo Vítor, de um jeito que nunca mais vi Joelma olhar ninguém, mesmo depois dele ter terminado tudo para morar fora do Brasil. Ela me olha. Está ao meu lado e me olha com um olhar preocupado. "O que você tem", ela quer saber. Eu olho para o outro lado da rua e a vejo, cabelo desgrenhado, suor no rosto, o corpo subindo e descendo com o impacto dos outros dois corpos que saciam sua fome naquele lugar onde depositei uma parte de mim. "Nada", respondo, engolindo em seco. Ela não está mais entre eles. Os dois desabrigados nos olham quando passamos e os vejo cavucar latas de ervilha, enquanto remoem um silêncio doído. 

Cruzamos a rua. Um homem vem em nossa direção, depois de sair da padaria. Está olhando fixamente para ela. Ela não levanta a cabeça. Está olhando para frente, o olho duro no horizonte, não quer deixá-lo entrar. Não aqui, não agora. Mas e depois? Olho para trás. Ele é grande. Ela está ali, ao lado dele. E também está aqui, ao meu lado, segurando minha mão. Não quero olhar mais para trás. Há uma rua com jasmins aqui perto, onde podemos sentir um cheiro tão gostoso, sempre que o vento dá nas plantas e espalha as pétalas no ar. É como se a primavera dançasse, de repente, levantando as anáguas de uma saia rodada, que toca o rosto e transporta para um lugar fora do planeta Terra. Olho para trás. Ele tem o pau gigantesco e está com metade dentro dela. Ela me olha. Sua boca entreaberta. Seu rosto suado. As mãos para trás, com os antebraços envolvidos por dedos tão grandes quanto bananas, os dedos dele, as unhas sujas, a pele grossa. Sinto que não estou respirando e por um momento fico confuso. Meu passo tropeça. Olho para os lados. Ela, que ainda segura minha mão, pergunta, "está tudo bem mesmo". Não posso responder e só digo que sim com um sinal de cabeça. Não posso olhar mais, mas é inevitável sentir os movimentos acontecendo atrás de mim, ecos dos corpos reverberando pela rua, como um grito que não se cala ao pé do ouvido. Ela aperta a minha mão e olha para trás, na direção da obra que segue asfaltando a rua. Ela tem o olhar confuso de quem não entende o que estou vendo. 

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