Janeiro, 2015. Teresa Jugtons

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Duncan

Dias haviam se passado até que finalmente Duncan havia conseguido um horário com Teresa, vinda da Inglaterra para um estágio de alguns meses.

Sentado na poltrona da sua sala de espera, se pegava pensando no amigo e no quanto torcia para que ele saísse o quanto antes do coma. O quadro dele havia apontado uma melhora, mas ainda era pequena e ele rezava todos os segundos pedindo para Deus não tirar o seu amigo dele, afinal eles já haviam perdido tanto.

-Senhor Duncan sua vez me acompanhe por favor. -disse a secretária se mostrando gentil.

Ao entrar na sala de Teresa, Duncan paralisou, os olhos deles se conectaram de imediato e ele com toda certeza jamais a imaginou da forma como realmente é.

Alta, cabelo preto cacheado, olhos tão escuros como a noite, um sorriso largo e duas covinhas lindas em cada bochecha. Uma mulher muito bonita, pensou, mas logo se lembrou do que de fato o havia feito ir até ela e então se sentou na cadeira de frente a sua mesa.

-Teresa Jugtons?

-Isso mesmo. Em que posso ajudá-lo?

-Na verdade estou aqui porque procuro obviamente por um tratamento e acompanhamento psicológico, porém não é para mim e sim para um amigo que nesse momento está em um hospital em coma e eu espero do fundo do meu coração que ele saia dela o quanto antes.

-O que aconteceu com ele? Se importa em dizer?

-Ele era casado, a mulher tinha uma doença terminal e iria morrer em alguns meses, mas ela não havia contado isso a ninguém, porém ela nem teve a chance de aproveitar os últimos meses de vida, pois sofreu um grave acidente onde um cara bêbado acabou com a vida dela e a do meu amigo.

-Nossa que história triste, ele deve ter ficado muito mal com tudo isso e presumo que tenha tentado contra a própria vida, isso?

-Exato, uma tesourinha inofensiva a qualquer olhar fez o estrago todo. Ele estava todo ensanguentado quando o encontrei e queria nunca ter visto aquela cena porque jamais a esquecerei. Ele é tão forte, sabe, na verdade muitas vezes ele se faz de durão, mas eu jamais pensei que pudesse chegar a isso.

-A dor da perda deixa um vazio, um buraco imenso, ele perdeu o chão e não soube lidar com tudo que estava sentindo no momento e recorreu a uma atitude extrema como essa, uma forma de tentar aliviar ou mudar o motivo da dor.

-Sei exatamente o que ele sente.

-As vezes é difícil saber exatamente, cada um lida de uma forma diferente com as coisas que acontecessem. Talvez você lidasse melhor, ou não, apesar de parecer ser uma pessoa mais aberta ao diálogo e expressa sentimentos.

-Foi difícil comigo, dois anos e ainda não estou bem por completo, a estrada é longa e exige muita força de vontade e claro com parentes e com o Rob por perto ajudou muito.

-Está me dizendo que também perdeu a mulher?

-Sim, mas não quero falar sobre isso, não de novo.

-Tudo bem, respeito sua decisão, estarei aqui se quiser me procurar, no celular a qualquer momento do dia, não exite em me contatar. Sobre seu amigo, poderia fazer uma visita a ele no hospital, mesmo que em coma?

-Posso solicitar a autorização da família e do médico responsável.

-Faça isso por favor, quero conhecê-lo logo e assim que ele acordar iremos começar o tratamento, espero contar com você para que ele possa aprender a dar os primeiros passos de novo.

-Sempre estarei aqui por ele, a família dele fez o mesmo por mim, e ele é meu amigo, tudo o que tenho.

-Fico feliz com isso. Ele vai ficar bem, tenha fé, a jornada do seu amigo está apenas começando.

-Tomara. Que ele tenha a chance de continuar vivendo.

-Assim que conseguir a autorização me avise que irei imediatamente vê-lo. Pode ligar ou mandar mensagem, vou começar a estudar o caso dele e ver as melhores formas de iniciar o tratamento com ele.

-Aviso sim, muito obrigada por tudo.

-Até mais senhor Duncan.

-Até mais Teresa Jugtons.

E então ele fechou a porta ao sair e foi direto ao hospital pedir a autorização para o médico e depois foi para casa da família de Rob.

Bateu de leve na porta, e a mãe dele já o atendeu, com um sorriso triste nos lábios, os olhos pesados de quem sentia a dor de ver o filho em uma cama de hospital e por tudo que saberia que teria que passar quando saísse dela.

-Oi Duncan, entre por favor.

-Oi, como a senhora está?

-Bem, se posso dizer isso.

-Ele vai sair dessa, o cara é forte.

-Nem sempre ele é forte Duncan, vimos isso quando ele tentou suicídio.

-Eu sei, mas estamos aqui por ele e com ele, como vocês fizeram comigo.

-Obrigada de novo, por tudo, por não virar as costas para ele nesse momento.

-Jamais faria isso, seria desleal comigo mesmo, com a pessoa que escolhi ser.

-Você é incrível.

-Obrigado. Vim falar sobre a doutora Teresa Jugtons.

-Ah sim, já falou com ela.

-Encontrei ela hoje e tivemos uma conversa amigável, parece ser uma ótima profissional e pediu se eu pudesse solicitar uma liberação para ela vê-lo ainda que em coma. O médico já autorizou e por isso resolvi vir pessoalmente trazer o papel e deixar aqui para quando decidirem, assinarem ou não.

-Por que ela quer ver ele ainda em coma?

-Não sei exatamente, acho que pra ir conhecendo ele. Ela quer ficar por perto para começar o tratamento logo que ele acordar.

-Isso é bom. Conversarei com meu marido, acredito que ele irá concordar em assinar, mas preciso esperar por ele para conversarmos antes.

-Tudo bem, quando tiver uma resposta, me ligue.

-Ligo sim, Duncan. Fique com Deus.

-A senhora também

Duncan foi até a casa de Rob pegar as roupas deles e os objetos que sabia que seriam necessários. Contatou uma diarista e pediu para que ela deixasse a casa toda arrumada para quando o amigo voltasse não encontrasse nada de sujeira e sangue. E então ao final daquele longo dia, se deitou em sua cama e se perdeu em pensamentos.

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⏰ Última atualização: Apr 01, 2020 ⏰

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