Capítulo 2

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Parece ser mentira, parece ser mentira que há um mês eu estava sentada no sofá com meu pai, comendo batata frita e assistindo "Friends", me recordo até do episódio, aquele em que Ross ganha um colega de quarto macaco. Eu sinto muito que meu pai não tenha chegado a ver o macaco fugir do Ross, sinto muito de também não ter visto o Ross reencontrar seu velho amigo e agora famoso macaco. Eu sinto tanto, sinto tanta falta dele.

- Parece que chegamos. - disse minha mãe pondo um sorriso no rosto.

- Chegamos ao submundo, quantos graus fazem aqui? 50? - disse enquanto tirava a jaqueta.

Na cidade grande o clima era bem diferente, dificilmente o tempo deixava as meninas usarem shorts ou blusinhas de alça.
Pelo jeito, aqui no interior ninguém deve nem saber o que é uma calça jeans.

- Não seja ingrata, você vivia reclamando do frio da cidade, agora compre e use os shorts que quiser. - disse minha mãe.

Abro a porta do carro e coloco meus pés que estão calçando um bota vermelha, no chão.
Está tão quente e meu traje é o mais inadequado possível, essa calça justa e camisa de manga comprida, ambas pretas, essa bota vermelha de cano alto, me dá vontade de me jogar no lago que avisto assim que saiu do carro.

- Acho que você se perdeu no meio do caminho, aqui não é o Alaska. - disse um cara alto, sem camisa, bem forte por sinal.

- Vim de um lugar frio, não esperava que aqui fosse assim. Quem é Você? - digo enquanto levanto as mangas da camisa e enrolo meu cabelo longo e negro em um coque.

- Deixa eu te ajudar com as malas, parece que vieram pra morar. - ele diz enquanto pega as malas da minha mão.

- Querido, como você cresceu! - diz minha mãe abrindo os braços para um abraço.

- Tia, faz tanto tempo, eu tinha quantos anos? 10?

- Só sei que não tinha todos esse músculos - ela diz rindo - Você era a criança mais doce que conheci.

- Pode ter certeza que continuo todo esse doce. - ele diz e fita seu olhar em mim.

Nós entramos na casa em que iríamos ficar por um tempo, era a casa da minha tia Sabrina. Aquilo não estava sendo nada como eu esperava, na verdade, a casa era bem maior que a nossa da cidade, tinha escadas e tudo mais, janelas enormes que dá direto para a vista do lago com um píer.

- Wow... - digo em voz baixa.

- Parece que gostou daqui. - diz minha mãe.

- É bem diferente do que eu esperava.

- LEONARDOOO... - grita minha tia Sabrina descendo das escadas.

- Mãe, as visitas já chegaram. - ele diz com um sorriso sem jeito.

- Você é o Leo com quem eu brincava de lama? - digo sem acreditar.

Ele sorri e confirma com a cabeça.

- Minhas queridas, finalmente chegaram! - diz minha tia nos dando um abraço - Eu sinto muito pelo que aconteceu para que vocês viessem parar aqui.

- Nós também sentimos Sá, mas já que aconteceu, o melhor foi ter vindo ficar com vocês. - disse minha mãe.

- Querida, pode ir tomar um banho e trocar de roupa, a viagem deve ter sido longa, o Leo vai mostrar o quarto de vocês. - disse minha tia.

- Na verdade, vai você Katerina, eu tenho algo para falar com sua Tia, jajá eu subo.

O Leonardo pegou as malas e me pediu para o seguir. Fomos em direção às escadas, todos os quartos ficavam no andar de cima, a casa era muito bem decorada, eu estava deslumbrada.

- Aqui nós temos quartos de sobra, então organizamos dois quartos diferentes, um para você e outro pra sua mãe.

- Não precisava de tudo isso. - digo enquanto o sigo subindo as escadas.

- Nós queremos que vocês se sintam em casa, sendo assim, cada uma com seu quarto vai ser mais fácil de se sentir a vontade.

Ele deixou as coisas da minha mãe no quarto que seria dela, e nós fomos até o quarto em que eu ficaria.

- Este é seu quarto. - ele disse abrindo a porta.

UAU! Era do tamanho da nossa antiga sala.

- Meu quarto é bem ao lado, se precisar de alguma coisa é só dizer. - ele disse deixando as malas no chão - Ah, e a mamãe esqueceu de avisar, mas essa semana vamos ter uma festa perto do lago, que chamamos de festa da fogueira, vai se preparando pra melhor festa que você já foi.

Eu lhe soltei um sorriso e ele saiu fechando a porta do quarto. No mesmo momento eu me joguei na cama enorme que tem no quarto e fiquei olhando para o teto, pensando em como minha vida iria mudar daqui pra frente.

- Que merda fiz com Genevive e Roberto. - Pensei alto.

Peguei o celular para enviar uma mensagem para os dois, mas estava sem sinal e eu também nem perguntei a senha do Wifi, que tipo de pessoa não pergunta isso?
Fiquei com vergonha de chamar o Leonardo de novo, aqueles olhos azuis me deixam nervosa.

Levantei da cama e fui organizar minhas coisas no guarda-roupa, colocar meus produtos de higiene no banheiro que era exclusivamente meu, minha suíte, eu não tinha isso nem na minha casa da cidade. Que banheiro! Com direito a uma banheira enorme.

- Não sabia que minha tia havia ficado tão rica. - falei baixinho.

- Acredita em sorte? Ganhamos na loteria. - O Leo aparece do nada atrás de mim.

Dei um pulo de susto ao ouvir aquela voz máscula atrás de mim.

- Como você entra assim??? Me deu um baita de um susto.

- Bati na porta e você nem respondeu, então abri.

- E se eu estivesse pelada?! Não pensou nisso? - falei com raiva.

Ele soltou um sorriso e deu de ombros pra mim.

- O que veio fazer aqui?

- Vim te dar a senha da internet, sei que vocês da cidade não conseguem ficar sem.

Parece que leu meus pensamentos.
Ele me deu a senha e logo em seguida meu celular começou a vibrar sem parar.

- Parece que você era importante onde morava. - ele disse.

- Só parece mesmo. - digo digitando.

Mando uma mensagem rápida para Genevive e Roberto, pedindo desculpas pelo que disse.

- Faz tanto que a gente não se ver. - ele diz.

- Acho que faz mais de 10 anos né? Tivemos problemas financeiros, não deu pra ficar viajando. - digo soltando o celular na cama.

- A gente nem se conhece mais então. Ou você ainda gosta de me bater e me jogar lama? - ele diz rindo.

- Você me fazia raiva, não sabia brincar. Mas a gente pode conversar se você me ajudar a organizar minha bagunça. - digo com um olhar de pidona.

- Acho que você não mudou muito então, continua querendo me usar.

- Então continue sendo o mesmo, e deixe eu te usar. - digo abrindo um sorriso.

- Sabe que essa frase muda de sentido quando somos adultos não é? Tenho 23 anos, não 10.

KaterinaOnde histórias criam vida. Descubra agora