"meu silêncio gritava teu nome"
Quarto da manhã em ponto. O chão continuava gelado como em todas as outras madrugadas. Nada me faria esquecer que amarelo e violeta se misturados da forma errada, sempre terminariam em cinza.
Chris. Ou melhor Christina. Como meus pais preferiam me chamar.
Corey estava gritando pelo corredor, então já sabia que era hora de levantar. Meu irmão nunca atrasou um minuto sequer para levantar e ir à escola. O que seria um saco se ele não fosse a única coisa boa dentro de casa.
Nunca me importei em ainda morar com meus pais mesmo já estando na faculdade. Era meu jeito de ver se os métodos deles não iriam enlouquecer meu irmão antes mesmo dele ter mais de 1,50 de altura.
O sol já havia começado a aparecer pela cortina, mas não estava tão caloroso como outras manhãs de verão. O silêncio habitava o cômodo até que passos começam a se aproximar da porta.-CHRISTINA! Até que horas você pretende empatar o resto da família para sair?-minha mãe gritou, batendo continuamente na porta.
-Pode ir sem mim. O Ethan vai passar aqui hoje.-respondi tentando não piorar a situação.
-Se ele pode fazer todas essas coisas pra você, se vira pra voltar pra cá depois então.-retrucou, enquanto os passos ficavam cada vez mais distantes.
Era difil entender como era possível para minha mãe acordar todos os dias com aquele mau humor de dragão faminto fora da caverna.
O primeiro dia do segundo semestre na faculdade era sempre o mais chato. Pegar material. Escolher novos lugares na sala. Tentar não enlouquecer com os novos alunos transferidos. Conhecer novos professores. E principalmente aguentar a Nathalie falando 24Hrs sobre os novos caras bonitos do campus. Ugh.
Peguei no armário meu suéter favorito. Era amarelo. Como todo o meu quarto. Amarelo sempre foi uma cor feliz pra mim, me trazia boas energias e combinava bem com meu tom moreno de pele e com meu cabelo castanho. Abri as cortinas e arrumei a cama. Eu não suportava ver meu quarto desarrumado, era como se a minha mente ficasse bagunçada também.
Saindo do quarto, Corey grudou na minha perna e foi assim comigo, rindo, até a cozinha, onde logo de cara o clima estava tenso.-Ah, agora virou um circo aqui dentro? Onde vocês pensam que tão?-meu pai falou alto logo que colocamos o pé dentro do cômodo.
-Uau como você é divertido Kellan. Até o dia dos seus filhos você consegue estragar.-debochou minha mãe, arrumando as coisas para ir trabalhar.
-Vai se foder, mulher!-xingou jogando a xícara no chão, tornando a situação ainda mais desconfortável, e saiu.Troquei olhares com a minha mãe e entendi o recado. Falei pro Corey ir pegar a mochila no quarto, e depois fui limpar os cacos no chão.
-Como você ainda vive nessa situação mãe?-perguntei ajuntando a sujeira com uma pá.
-Olha, eu não sei. Eu deveria me dar mais respeito mesmo. Mas eu sei que seu pai só tá estressado esses dias.
-É, esses dias, no mês passado, na nossa vida toda.-falei baixinho resmungando.
-O que foi?-senti o tom de voz subindo.
-Nada mãe, pode ir trabalhar, eu acabo aqui.
-Tá.-terminou e saiu com Corey.Terminei de limpar o chão. 7:27. Ainda dava tempo de pegar uma fruta e encontrar o Ethan.
Ethan era meu namorado. Estávamos juntos a quase 2 anos, e ele era o garoto perfeito, era quase um clichê de adolescente. Tirando que ele não era nenhum jogador bombado do time de futebol, e sim um poste alto com cor de palmito. Mas ele até que era um palmito bonitinho. O cabelo era ajeitadinho, o estilo era próximo à época de Boyfriend do Justin Bieber, mas eu amava ele mesmo assim.
Escutei a buzina na rua e fui correndo pra lá.
-Uaaaaaaauu.-ele falou na hora que me viu chegando perto do carro, e eu dei uma rodadinha.-Você é linda demais sabia? Mas por que tá de pijama ainda?-brincou.
-Ridículo.-resmunguei dando uma livrada no braço dele, e logo o depois ele veio com aquele sorriso bonitinho que ele sabia que eu não resistia.-Golpe baixo, ein? Você não sabe brincar, não?A faculdade não era muito longe dali, então escutamos algumas musicas medianas na rádio e logo chegamos.
NYU. Lar de todas as estrelas em ascensão. E eu, cursante de publicidade.
Ethan fazia música. Esse era o último ano dele lá. Sortudo eu diria. Ainda faltavam dois pra minha libertação daquele barraco.
Depois de entrarmos, Ethan me deixou no meu campus e foi embora.
De longe avistei Nathalie, com aquelas roupas cor de rosa, acenando pra mim.
-E aí, Chris? Demorou ein?-me cumprimentou já colocando os braços em volta dos meu ombros.
-Você sabe como minha mãe é, né?
-Sei amiga, mas você sabe qu... MEU DEUS.-ela se interrompeu olhando boquiaberta para trás.-Alerta calouros, esse momento é meu.
-Tá no cio, é, cadela?-brinquei e Nathalie me respondeu com uma cara de deboche.Nathalie e eu nos conhecemos num pub perto do apartamento dela. Seria engraçado se não fosse trágico o fato de termos nos conhecido quando ela deu em cima do Ethan, e a gente quase saiu no soco. Mas depois de umas bebidas a gente se entendeu, e cá estamos. Ela sempre foi a garota bonita que os garotos caiam em cima, não me chocava. Olhos castanhos claro, cabelos loiros, cropped, jaqueta jeans, óculos de sol espelhado, e o pior gosto em homens, típica White Girl de Nova Iorque.
No meio desses pensamentos você apareceu. Junto com outros calouros. E por um momento eu senti minha nuca arrepiar, você cheirava arte e problemas. Muitos problemas. E quem diria que minha primeira impressão de você, no final, estava correta? E que aquele cabelo branco descolorido, tatuagens, pele pálida, olhos pretos, estilo largado e jeito irreverente iam me foder completamente? E eu não tinha noção disso quando me envolvi com você. Mas eu não conseguia parar de olhar pra você, e eu senti um soco no estômago quando você olhou pra mim de volta. Me pergunto se você sentiu isso também. "505" começou a tocar na minha cabeça quando você se virou e riu com seus amigos despojados, entrando no prédio. E depois daquilo nada ficou mais na minha cabeça do que você.
-Helloooou! Terra chamando Chris.-Nathalie me tirou do transe.
-Que foi?
-Hmmmmm, que calouro você tava secando?? Ele é bonito? Quem é?-perguntou enquanto olhava em volta.
-Ninguém, Nat. Não vi ninguem.-menti descaradamente e tive certeza que Nathalie percebeu.
-Por que você tá escondendo isso de mim? Achei que a gente conversasse abertamente sobre caras. Eu não vou contar pro Ethan, ce sabe né?
-Se fosse alguma coisa eu contaria, fica tranquila, Miss fofoca.- rimos.Eu contaria tranquilamente para Nathalie sobre você naquele momento, mas foi a primeira vez que me senti assim por alguém com cabelos longos e lábios rosados. Uma garota nunca tinha arrepiado minha coluna do jeito que você arrepiou. Uma garota nunca tinha me atraído desse jeito.
Uma garota nunca tinha me quebrado do jeito que você me quebrou.
Fomos para os nossos respectivos prédios e eu não te tirei da cabeça. Pensei no seu possível nome, e se você se interessaria em conhecer alguém basic que nem eu, você transpirava algo interresante que eu nunca entendi o porquê de me interessar tanto.
Na saída avistei o seu grupo de amigos, te procurei no meio deles. Mas nenhum sinal do seu cabelo descolorido e aquele blusão do Red Hot Chili Peppers.
-Procurando alguém?-Ethan perguntou, me abraçando por trás de surpresa.
-Oi! A Nathalie, não achei ela depois da aula.-Caralho, eu nem te conhecia ainda e você já me fazia mentir descaradamente para as pessoas que eu me importava.
-Aah, quer que eu ligue pra ela?-perguntou preocupado.
-Nah. Não precisa, ela já deve ter ido embora. Obrigada, amor.
-Ta tudo bem, linda?
-Claro. Por que não estaria? Tudo normal.Meu Deus, eu parecia uma criança tentado esconder que quebrou alguma coisa.
-Ok, então. Você vai querer uma carona pra sua casa?-Ethan ofereceu. Ele ainda parecia preocupado.
-Se não for pedir muito, eu aceito viu. Minha mãe não vai vir me buscar hoje, aparentemente ela tem ciúmes de você, e ficou brava quando eu falei que vinha com você pra cá hoje.
-Caraca, ela realmente não gosta de mim né?-riu.
-Ela gosta mas ela não aceita meu relacionamento funcionando e o dela não.
-Uau, que naja venenosa.-Ethan riu.Ethan me levou pra casa, e aquela foi a última noite que dormi sem saber da catástrofe que seríamos, a última noite antes de você me começar, aos poucos, a me destruir.
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Nourish
RomanceNosso caos sempre foi cinza. E depois disso todas as sua telas foram pintadas com preto e branco.