1 ・ sorrowful

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👼

─ Próximo! ─ falei automaticamente.

Já era final do expediente e eu mal conseguia me manter em pé, mas mesmo assim dei o melhor sorriso que os meus calos me permitiam e atendi o próximo cliente.

Os sapatos apertados me causavam um extremo desconforto e o frio de inverno que se infiltrava na loja de conveniência toda vez que alguém adentrava o estabelecimento me causava arrepios. Entretanto, permaneci firme e passei os produtos no leitor óptico que analisava cada um dos códigos de barra.

─ 5.300 Won é o total. ─ me dirigi ao homem de meia idade com uma aparência asquerosa a minha frente, que permaneceu em silêncio me encarando com um sorriso depravado no canto dos lábios.

Ah, não. De novo, não.

─ E você, gracinha... ─ o homem segurou meu rosto brutamente e falou maliciosamente. Agradeci aos céus pelo balcão que nos separava e impedia que ele se aproximasse complemente ─ Qual é o seu preço?

─ P-Por favor, não. Eu não estou a venda. ─ gaguejei assustado sentindo minha garganta secar. Tentei segurar suas mãos e afasta-las de mim. Não tive sucesso. O mais velho me puxou violentamente fazendo com que meu corpo colidisse contra a bancada. Provavelmente acordaria na manhã seguinte com um hematoma, assim como os tantos outros que eu tinha pelo restante do corpo.

Já nem doía mais.

─ Como assim, gracinha? ─ ele perguntou sugestivo enquanto aproximava o rosto do meu pescoço e pude sentir o cheiro de álcool em seu hálito. ─ Vamos lá...tenho certeza que você precisa de uns trocados, ao contrário não estaria trabalhando nessa espelunca essa hora da noite. Não se faça de difícil. Eu tenho dinheiro suficiente para te pagar. Eu só quero te comer. Tem um beco aqui do lado e ninguém vai saber, gracinha.

Nojo e Medo. A mistura desses dois sentimentos me deu coragem para empurrar o embriagado com o máximo de força que meu corpo de adolescente permitia.

Então, o mais velho se chocou em uma prateleira de salgadinhos atrás de si, fazendo com que as embalagens fossem espalhadas por todo chão, mas quando eu menos esperei ele já estava pulando o balcão, avançando em mim e me imprensando na parede com as mãos em volta do meu pescoço.

─ Você vai se arrepender, moleque. ─ falou exasperado fazendo ainda mais pressão em meu pescoço, senti todo o oxigênio do meu corpo ir embora. ─ Eu vou voltar e vou me vingar. Além do mais, você não passa de uma putinha insignificante. Consigo arranjar algo bem melhor que você.

Com essas últimas palavras, ele me soltou e foi embora. Desmoronei no chão ainda sem ar. Todo meu corpo doía e eu só tinha vontade de chorar.

Mas eu não tinha tempo para isso.

Levantei o mais rápido que pude ainda sentindo minhas pernas bambas. Já eram 22:00 horas, ou seja, meu turno havia finalmente terminado.

Coloquei o dinheiro que havia arrecadado durante o dia dentro do cofre e juntei os salgadinhos que ainda estavam caídos no chão. Cada centímetro do meu corpo latejava, mas o que mais doía era saber que depois de um longo e cansativo dia eu voltaria para minha casa, o próprio inferno na terra.

O vento frio do início de março atingiu meu rosto e todo meu corpo se arrepiou quando eu saí da loja. Apressei o passo para não perder o ônibus enquanto me certificava que as marcas avermelhadas deixadas pelas mãos do bêbado em meu pescoço estivessem cobertas pelo cachecol. Cheguei até a parada e, por sorte, consegui alcançar o coletivo.

Parei para analisar o evento que ocorrera minutos atrás. Não era a primeira vez que isso acontecia. Parando para pensar, já era a terceira vez essa semana. Homens e mulheres determinando um preço para meu corpo e ainda zombando das minhas condições financeiras. Felizmente, nunca passou disso e eu agradecia todos os dias por qualquer força maior ou espírito ou destino (se é que isso existe) por me proteger. Eu estava verdadeiramente cansado, mas eu não tinha escolha.

angelic ・ jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora