Capítulo 2 - Floresta

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      Após descermos todo o trecho inclinado, alcançamos a floresta. Era um belo cartão postal.

      Pelo menos, durante o dia, porque à noite, a visão interna da floresta era tenebrosa: os galhos pareciam mais retorcidos, quase cadavéricos, formando sombras animalescas sob a luz das lanternas que usávamos para abrir caminho; dava a impressão de estarem se movimentando de acordo com os ângulos diferentes de luz. Pareciam árvores vivas.

      Me fez pensar nos simpáticos Ents de Senhor dos Anéis. Acho que isso me ajudou a anular um pouco o efeito do terror.

      Como se o som de nossos pés farfalhando na vegetação rasteira já não fosse bastante perturbador, alguns animais faziam questão de emitir ruídos pontuais para deixar o cenário ainda mais tenso.

     Malditas corujas.

      Eu não estava com tanto medo assim, mas não conseguia evitar a sensação de que alguém se aproximava de nós por trás, com um machado nas mãos, pronto para dividir nossas cabeças num golpe só. Volta e meia, eu acabava olhando para trás.

      Mas não encontrava ninguém. Nem... coisa nenhuma.

      E a amiga dela veio aqui de noite e sozinha...! 

     Depois de entrarmos uns cento e cinquenta metros mata adentro, finalmente chegamos no sopé da montanha onde se encontrava a abertura da tal caverna que servia de refúgio.

     E... caramba! Se ela escolheu este lugar para se esconder de uma criatura que vivia numa caverna aterrorizante, nem imagino como deve ser a outra cova, a que servia de túmulo para a coisa.

     — É isso mesmo? Ela se escondeu aqui para ficar longe desse tal monstro que quer matá-la? — Não resisti em verbalizar minha surpresa. — Com certeza, isso aqui deve ser só uma filial daquela outra catacumba! Esse lugar é medonho! Essa sua amiga é maluca!

      — Sara não teve muita opção — respondeu ela, num sussurro gélido. — Não tem mais cavernas acessíveis por aqui, além dessas duas!       

      — Tá bom, mas precisava ser numa caverna? — insisti. — Sei lá, no caminho para cá, tinha aquela borracharia que está abandonada há tempos, mas é um lugar mais limpo e menos tenebroso! Ela podia se esconder lá, fechar a porta e selar a entrada com o sal grosso e as paradas do despacho!

      — Tem que ser numa caverna... — murmurou ela, entre dentes.

      — E onde está escrito essa regra?

      Como resposta, ela apenas me olhou com um olhar meio assassino e me calei. Iria perguntar onde se localizava a Caverna Matriz do Mal, mas acabei optando por ficar quieto. Mas não me surpreenderia se fosse ali perto...

      Sobre o umbral rochoso da entrada, símbolos que pareciam com runas gaélicas carcomidas pelo tempo estampavam uma mensagem que eu não consegui decifrar. Certamente, um aviso do tipo: afastem-se daqui, seus idiotas! É a filial 2 da rede de Cavernas do Mal! Não entrem de jeito nenhum!

      Talvez, se o responsável pelo aviso tivesse colocado umas imagens pictográficas representando um sujeito sendo devorado por um demônio, teria ajudado a deixar mais clara a advertência.

      Se bem que, quando o ser humano é metido a corajoso (lê-se idiota), mesmo se tivesse uma frase de alerta piscando em neon, junto a avisos gritados em auto falantes e acrescidos de imagens de vídeo com legendas em telas gigantes, nada disso adiantaria...

Caverna Mortal (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora