Capítulo 4 - Selfie

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      O ataque da Coisa Ruim foi rápido e fulminante, numa investida visando atravessar meu peito: aquelas unhas rasgaram minha camisa como se ela fosse de papel (à proposito, só para registrar, eu adorava essa camisa! Presente da minha avó!), mas o golpe nem chegou a arranhar minha pele.

      Parecendo incrédula com a tentativa frustrada de me retalhar, aquele Projeto de Samara logo tentou me fatiar num segundo golpe ainda mais forte, que me atingiu no lado esquerdo do rosto.

      E o ruído forte de um estalo ecoou dentro da caverna quando suas garras se quebraram.

      Apesar do nítido choque de dor que lhe lambeu a mão usada no ataque, ela ainda insistiu uma terceira vez, agora numa arremetida frontal direta, com as garras da outra mão viajando velozes para vazar meus olhos. Um brado infernal acompanhou seu movimento, um grito que deixou sua garganta num misto de ódio e dor. E neste último rompante de fúria, toda sua força foi empregada no golpe.

      Desta vez, além das garras, seus dedos também se quebraram quando se chocaram contra meus olhos, ainda abertos, sendo que percebi também um estalo na altura de seu cotovelo, quando a articulação deslocou devido ao impacto que percorreu seu braço.

      É o que acontece quando se experimenta socar alguém que tem o corpo mais resistente que aço.

      Chegava, então, a minha vez. Mas peguei leve e acertei-lhe apenas um tapa.

      Não optei por um soco por estar lidando com uma dama.

      Não bati muito forte, apenas o suficiente para que ela se chocasse contra o fundo da caverna, embora não tenha conseguido identificar com clareza aquele barulho de coisas se quebrando; não sei se foi apenas o som de rochas sendo pulverizadas pelo impacto de seu corpo, ou se foi ela mesma que se quebrou toda.

      De qualquer forma, o grupo principal de ossos da Samara 2.0 deve ter sido preservado, já que ela caiu numa trouxa no chão, mas conseguiu se levantar em seguida.

      Meio cambaleante, mas conseguiu.

      Já ganhou meu respeito.

      Gostei do desenho que ficou marcado de modo profundo na parede interna da caverna; uma silhueta sulcada na rocha, formando um molde perfeito daquele corpo magro e estranho.

      Me lembrou desenhos animados...

      Ainda mais rapidamente que meu ataque anterior, avancei até ela e minha mão agarrou seu pescoço num aperto firme, impossível de escapar.

      Então, vi uma bela e convincente expressão de medo naquele rosto ossudo.

      E, cara, sério, era simplesmente hilário.

      Não resisti.

      Acendi a tela, escolhi a opção de foto, apontei a câmera do smartphone para ela e cliquei. O flash garantiu a captura da imagem. Depois, a abracei, puxei-a mais para perto e aproximei bem meu rosto do dela, deixando-nos lado a lado, nossas faces coladas, como um simpático casalzinho. Caprichei no sorriso.

      Click.

      Não podia sair daqui sem uma selfie, né?

      Rapidamente, conferi as fotos.

     Perfeitas!

      O enquadramento ficou legal. Essas mereciam ir para o Instagram.

      Pena que ela não sorriu também...

      No entanto, depois de tremer sob minha mão ainda fechada em torno de seu fino pescoço, a Samara Cover me surpreendeu quando sua pele adquiriu um estranho brilho amarelado e entrou em combustão, transformando-a em uma tocha humana, com as labaredas de fogo se projetando sobre mim como se tivessem vida própria.

Caverna Mortal (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora