Capítulo 01 - Não vou para casa nenhuma.

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Orfanato José Luís Sánchez del Río:

Na sala da direção do orfanato, os senhores Luiz Martin e Célia Martin, estão sentados de frente a mesa da administradora do lugar esperando ela chegar. Casados a quase 20 anos, pais de um garoto de 15 anos, chamado Diego. Eles estão apreensivos, a muitos meses estão aguardando o momento de fazer a adoção. A ideia de adotar uma jovem surgiu a alguns anos após Célia ser diagnosticada com uma doença que a impede de ser mãe novamente a deixando com o sonho de ter um casal de filhos adormecido por um tempo. A diretora entra na sala, junto com uma outra funcionaria. Nas suas mãos alguns papéis que ela joga em sua mesa de trabalho. Ela então se senta de frente para o casal e após colocar seus óculos de grau, começa a dizer:

Diretora- Boa tarde. É muito bom ver vocês novamente. Eu trouxe alguns dos papéis da adoção que os senhores precisam assinar. Podem levar uma copia para casa para estudarem seu conteúdo.
A diretora entrega os papéis ao senhor Luiz.
Luiz- Obrigado, nós agradecemos a ajuda que a senhora está nos dando desde o começo.
Diretora- Não faço mais do que a minha obrigação. Estou feliz de terem continuado com o processo de adoção, apesar de toda o tempo e burocracia que tiveram.
Luiz- E como ela está? Digo, em relação a adoção.
Diretora- Bom, para ser franca com o senhor, ela ainda não está 100% de acordo com a ideia de ser adotada.
Célia- E por que? Ela disse o motivo?
Diretora- Isso ela não diz, e é difícil ter certeza. Ela apenas não quer deixar o orfanato.Chega a ser irônico, enquanto todas as outras crianças e jovens daqui rezam para aparecer uma família, ela se recusa a todo custo em deixar este lugar.
Luiz- Será que tem alguma a coisa a ver com as outras adoções que a senhora comentou da outra vez que estivemos aqui?
Diretora- É uma possibilidade. De fato ela já esteve em 3 lares diferentes, mas sempre acaba voltando para cá por um motivo ou outro. Eu imagino que ela deva estar traumatizada com isso e pode ter medo de que aconteça novamente. Apesar de achar que tem algo mais.
Luiz- Algo mais? E o que seria?
Diretora- Isso eu não sei. É difícil saber, a Michele é uma garota muito fechada em relação a tudo.
Célia- Não a culpo, eu imagino que tudo isso tenha a ver com essas experiências passadas de rejeição. Mesmo que nossa intenção seja totalmente diferente disto.
Luiz- Não dá para acreditar nessas pessoas que acham que os jovens são objetos que você pega para criar e na primeira dificuldade simplesmente desiste e os manda de volta para o orfanato. Será que não percebem o mal que fazem a essas crianças? Abandonadas pelos pais biológicos e pelos pais adotivos.
Diretora- Infelizmente isso é mais comum do que se imagina. Michele não é um caso exclusivo aqui. Outros como ela já passaram por essa mesma situação.
Célia- Dessa vez posso garantir que vai ser diferente para ela. Michele será amada do mesmo jeito que amamos nosso filho Diego.
Diretora- Por outro lado, e sem querer defender essas pessoas, de maneira nenhuma, mas, Michele é um caso especial de péssimo comportamento que nós temos aqui. Eu já contei tudo o que ela já aprontou e que também os senhores terão que ter muito pulso firme e principalmente paciência. Ela não é do tipo que se possa controlar facilmente. Eu já deixei isso bem claro desde a primeira vez que os senhores demonstraram interesse na adoção.
Célia- Sim, nós ouvimos tudo, mesmo achando um pouco exagerado, não nos leve a mal. Mas talvez um convívio familiar possa fazer com que ela mude. Sabe, um lugar que ela possa ser feliz, ser amada... tenho certeza de que o que falta para ela é saber que está em um lugar em que ela possa chamar de casa.
Luiz- Logico, eu não sou psicologo, mas eu imagino que essa rebeldia dela se deva ao fato dela ter crescido sem uma família. Eu não posso me imaginar crescendo em um orfanato sem ter pensamentos de revolta de vez enquanto. Não me entenda mal diretora. Só estou tentando me colocar no lugar dela.
Diretora- Eu entendo o seu pensamento senhor Martin e concordo que não deva ser a melhor das experiencias. Os senhores demonstram serem bem diferentes da maioria dos casais que aparecem por aqui. Esse aqui é o orfanato com o maior numero de adolescentes em todo o país, e a maioria veio da rua com um histórico de mal comportamento. Por isso eu sei que 80% dos que estão aqui dificilmente serão adotados e que só sairão quando completarem 18 anos e isso é muito ruim. Por isso, quando aparece alguém interessado na adoção eu faço todo o possível para que ela ocorra. A maioria das pessoas só se interessam na adoção de recém nascidos e todos com aquelas mesma características que todos nós sabemos quais são.
Luiz- A verdade é que não viemos atrás de nenhum padrão. Michele foi quem mais nos tocou, por tudo, então a verdade é que estamos apenas seguindo nossos corações, posso dizer assim.
Diretora- Isso é muito bom da parte dos senhores. A maioria vem aqui, esperando encontrar o filho perfeito, que só existem nos sonhos daqueles desavisados. Quando chegam aqui e não encontram aquilo que procuram, se nota na cara, a decepção dessas pessoas. A verdade é que muitas pessoas ainda não sabem o que realmente os espera quando tomam a decisão de adotar uma criança ou adolescente, por isso muitos, como a Michele, acabam voltando para cá todas as vezes.
Célia- Nós vamos poder vê-la? ~perguntou ansiosa~
Diretora- Hm... acho que não tem problema. Vou pedir para alguma funcionaria traze-la aqui.

***

OS MELHORES PIORES ANOS DE NOSSAS VIDAS.Where stories live. Discover now