O tiro

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A neblina cobria boa parte de Sturat Ville, pequena cidade do estado da Washington. Onde boa parte da população vivia do clima do lugar e dos pontos turísticos que uma cidade de clima agradável poderia oferecer, ali os dias frios e nublados eram corriqueiros e muito bem utilizados. Boa parte da economia de Sturat Ville vinha do turismo que o clima trazia para a cidade, com ele vinham os turistas, empolgados para ver o imenso lago de Sturat Ville congelado, ótimo lugar para passar um dia com as crianças numa enorme e natural pista de patinação.

Karol sabia muito bem disso, tinha sido criada a vida toda na cidade, e conhecia o lago Mayson com a palma da mão, sempre que tinha oportunidade estava lá, dando voltas e voltas, riscando o gelo com os seus patins. Mas essa manhã durante sua corrida matinal em torno do bosque que corta o lago, algo chamou sua tenção.

Aprimoro não parecia ser nada, apenas alguns galhos balançando, normal daquela época do ano onde os animais procuravam frutas e sementes que sobrará do inverno, mas quando mais se aproximava mais o balançar dos galhos ia aumentando e um barulho um tanto quanto estranho começava a tomar conta do lugar. Pausou a sua música favorita tentando ouvir os sons que vinham de um canto do bosque, e de repente, nada, tudo estava em absoluto silêncio. O bosque voltou a ficar quieto e tranquilo, até demais, estava preste a voltar e seguir seu caminho quando um som alto e estridente soou no píer do lago.

Alguém tinha disparado uma arma, o som ecoou por todo bosque espantando os pássaros mais próximos que fugiram com o barulho alto do tiro.

Então era isso, alguém estava caçando, o que era algo normal para região, mas mesmo assim, aquela época os animais grandes estavam escondidos do frio ou invernando. Passos eram ouvidos quebrando os galhos molhados pelo caminho do píer. Karol estava a poucos metros do local, suas mãos começaram a suar e ela sabia que algo não estava certo, o silêncio que se instaurou depois era perturbador. Aos poucos Karol começou a se aproximar do píer onde tinha ouvido o tiro sendo disparado.

O lugar parecia estar vazio, nada nem ninguém parecia querer enfrentar o frio da manhã, tirando ela, o barulho dos seus sapatos de corrida batendo contra as madeiras velhas e gastas do píer faziam seus ombros tremerem. Mais alguns passos e ela estria no final do píer bem próximo ao lago e a água, agora congelada.

Então os barulhos de passos voltaram entorno do píer, ela tentou enxergar quem estava tentando assustá-la em plena manhã, mas ninguém parecia estar ali. Em passos lentos foi se aproximando da beira do píer, ali as tábuas pareciam mais gastas e velhas, e uma camada de musgo verde começava a tomar o píer inteiro.

Então algo mais estranho aconteceu, o lugar que antes estava calma e sem qualquer vento começou a transbordar inquietude e as arvores atrás de Karol balançavam num ritmo rápido e assustador, o vento começava a ficar mais forte e parecia perseguir a garota. Recuando em passos rápidos a ponta do píer estava cada vez mais próxima, e todo mundo da cidade sabia que aquela coisa velha estava aos pedaços, mas o vento ao seu redor parecia muito mais tenebroso do que a chance de cair de uma altura de dois metros e meio de encontro ao gelo duro.

Agora a ventania repentina tinha a alcançado e seu cabelos antes presos estavam ao vento chicoteando seu rosto pálido e boca seca.

Sua mão encostou na madeira que impedia as pessoas de pular dali com frequência, o toque fez com que uma corrente elétrica percorresse todo seu corpo, algo muito errado estava acontecendo e ela sabia disso, mas a única coisa que conseguiu fazer foi prender a respiração e entalar com o grito preso na garganta quando a madeira cedeu com seu peso.

Karol se viu caindo, e tudo parecia acontecer muito devagar, mas o choque com o gelo foi forte e rápido, seu braço em um reflexo rápido protegeu sua cabeça da queda e tudo teria sido muito pior se ela não tivesse sido amortecida por algo ali no gelo.

Seu braço e pernas latejavam, mas sua cabeça começava a girar e manter os sentidos estava cada vez pior, mal conseguia abrir os olhos, mas assim que fez, descobriu o que tinha amortecido sua queda.

Gastón Pasquarelli estava ali, sua pele perdia a cor rapidamente, mas seus olhos vidrados não deixavam dúvidas, ele estava morto. E o sangue ao seu redor não poderia negar.

O grito antes preso na sua garganta agora fazia sua garganta arder, e foi a última coisa que ouviu antes de fechar os olhos. 

When Something Bad Happens - RuggarolOnde histórias criam vida. Descubra agora