Capítulo 2 // "O seu chinês é bastante fluente!"

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Acordei com bastante energia. Levantei-me rapidamente da minha confortável cama de hotel, tomei um duche rápido, vesti-me e arranjei-me e num ápice estava na elegante sala de refeições do hotel Al-Andalus Palace, pronta para tomar o pequeno-almoço.

O serviço era self-service, portanto pude escolher o que me apetecia. Ao servir-me de chá, sem querer virei algum em cima de mim.

-Ah! Mar sin, clumsy a bhfuil tú, Kelly! Damn! Ach a dhéanann nonsense! Anois, tá mé ag dul éadaí athrú! -reclamei comigo mesma. (n/a: obviamente vocês não percebem irlandês! vou tentar explicar: basicamente ela disse que era uma desajeitada e que tinha de trocar de roupa!)

-O seu chinês é bastante fluente! -uma voz masculina falou em inglês com um sotaque americano vincado, acompanhado de gargalhadas alegres.

Olhei para o lado e vi um homem um tanto mais velho que eu, com ar de homem de negócios, a rir-se para mim.

-Oh! Eu não falo chinês! Sou irlandesa. -acompanhei as suas risadas, enquanto me explicava no meu inglês desenrascado.

-Poderia jurar que seria chinês! -exclamou o homem, continuando as gargalhadas, estendendo-me um guardanapo e continuando a caminhar em direção á mesa dos enchidos.

Limpei-me ao guardanapo que o simpático senhor me havia dado e continuei em busca de  algum petisco para comer acompanhado do meu chá.

Acabei por tomar umas torradas com manteiga e compota, que me souberam muito bem.

Levantei-me e fui em direção ao quarto 370 para trocar de camisola. Vesti uma camisola de lã cinzenta e voltei a sair do quarto. Fui até á recepção, entreguei o cartão que servia para abrir a porta do meu quarto e em poucos segundos já estava a empurrar a pesada porta giratória que me permitiria sair do hotel.

Ao pousar os pés no passeio no exterior do hotel, dei-me conta que a luz forte do sol outonal me incomodava os olhos.

Pus os meus óculos de sol e andei com confiança pelas ruas sevilhanas, explorando a cidade.

*********

-Alô? -a voz feminina de Andreia soou pelo outro lado da linha.

-Andreia, fala a Kelly! Estou a incomodar?

-Não, querida! Não incomodas nada! O que me querias dizer?

-Pensei que se não tivesses nada que fazer, talvez pudesses vir almoçar comigo. -disse-lhe.

-Sim, adoraria. Propões algum sítio? -perguntou Andreia.

-Eu fui a um posto de turismo para ver se me diziam bons sítios onde comer e aconselharam-me um, que dizem ser muito bom. -expliquei eu.

Disse-lhe o nome do restaurante e Andreia respondeu que em pouco tempo nos encontrariamos.

O restaurante não ficava muito longe da rua onde eu me encontrava. Caminhei calmamente até ao dito restaurante. Sentei-me na esplanada e esperei pela portuguesa dos cabelos escuros.

Estava a brincar com a pulseira que trazia, quando ao longe vi uma jovem a caminhar atarefada e cheia de sacos. Ao vê-la aproximar-se mais, acenei alto.

Andreia pousou os sacos na cadeira ao meu lado e cumprimentou-me com a respiração acelerada. Cumprimentei-a com dois beijinhos e convidei-a a sentar-se.

-Vejo que já andaste nas aquisições! -exclamei eu olhando para todos aqueles sacos.

-Tem de ser! -riu-se- E tu? O que andaste a fazer?

-Estive a explorar um pouco a cidade, ver montras, passear pelas ruas, essas coisas. -respondi, divertida.

-Sevilha é linda! -exclamou a jovem, olhando em volta com os olhos a brilhar de felicidade.

-Muito! Estou maravilhada! -acompanhei.

Almoçámos calmamente enquanto conversávamos.

Estávamos a comer a sobremesa, quando reparei que Andreia estava estática a olhar para o chão não muito longe dali.

-Andy! O que se passa? -perguntei-lhe. Resolvi chamar-lhe Andy, porque para mim Andreia era um pouco difícil de pronunciar.

Andreia não respondeu.

-Andy! Estás bem? Responde-me! -insisti.

Reparei que Andreia tremia bastante e o seu peito subia e baixava muito depressa. Ela continuava a olhar para um qualquer lugar no chão.

Acompanhei o seu olhar e percebi que ela estava fixada num pombo que se encontrava perto da nossa mesa.

Peguei num pedaço de pão que tinha sobrado da nossa refeição e lancei-o para fora da esplanada, fazendo com que o pombo fosse atrás dele e se afastasse de nós.

Senti Andreia a relaxar. Ela respirou fundo e encostou a cabeça para trás.

-Que foi aquilo, Andy? -perguntei, preocupada.

-Vamos sair daqui e eu depois explico-te tudo. -respondeu a portuguesa, já mais calma.

Pagámos o almoço a meias e saímos da esplanada, caminhando até a um parque próximo dali, onde nos sentamos num banco.

-Podes falar quando quiseres.

-Então é assim... -disse a jovem, antes de um longo suspiro.

Incentivei-a a continuar, com um aceno com a cabeça.

-Eu tenho ornitofobia. -desvendou Andreia, olhando-me nos olhos.

-Desculpa, mas não sei o que é isso... -disse eu, com cara de ponto de interrogação.

-Fobia de aves. -explicou ela.

-Ah! Agora percebo porque tiveste aquela reação há pouco!

-Pois... É uma coisa que atrapalha bastante o meu dia-a-dia. Mas deixemos de falar de parvoíces! -exclamou Andreia, recompondo-se no banco em que estavamos sentadas. -Que pretendes fazer esta tarde?

-Agora está na hora da siesta, segundo a tradição espanhola, -respondi, rindo- portanto estava a pensar ir ao hotel para descansar um pouco. E depois disso, não sei.

-Então está bem, faz isso. Eu acho que vou procurar apartamentos, não posso ficar para sempre num hotel durante este tempo todo que estiver aqui. Prefiro ter o meu espaço, com as minhas coisinhas. -disse ela. -Até era bom arranjar um apartamento com uma divisão em que eu pudesse montar um estúdio de dança, para treinar.

Despedimo-nos e eu chamei um táxi que me levou ao Al-Andalus. Na recepção pedi o cartão do meu quarto, e em seguida subi no elevador.

Ao chegar ao quarto, abri a porta e pousei a carteira e o casaco em cima da poltrona. Tirei os brincos e coloquei-os no cofre do quarto, onde já estavam alguns dos meus documentos e também a jóia para a coleção da minha avó. Fechei o cofre e fui até á cómoda, de onde tirei uma roupa confortável que vesti rapidamente.

Depois de tudo pronto para uma perfeita siesta, deixei-me cair em cima da cama e depressa me senti adormecer.


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