Querida mãe,
Decidi fazer uma coisa.
Não entres em pânico: não se trata de um piercing no lábio, nem me vou alistar na próxima missão para Marte ou fugir com um circo e palhaços malabaristas ou outra coisa do género. (Embora tu provavelmente achasses isso fixe.)
É simplesmente isto, sabes que eu guardo numa caixa todas as nossas fotografias e relatórios escolares e outro material para tu veres? Bem, não sabes — é esse o problema —, mas confia em mim, é o que estou a fazer.
Bem, de qualquer modo, para além de tudo isso, decidi que vou começar a registar algumas das coisas que nos acontecem; os assuntos que, de uma maneira ou outra, são importantes. Não vai ser como um diário ou qualquer coisa no género — não tenho propriamente paciência para isso. (Embora tenha comprado um, há já algum tempo; estava a metade do preço numa papelaria da Broadway. Eu comecei bem, escrevinhando o que tinha feito naquele dia, o que estava a sentir, o que tinha jantado, mas, por volta de 10 de janeiro, já só estava a gatafunhar flores no papel. E a entrada de 15 de janeiro dizia apenas: «CHATEADA, CHATEADA, CHATEADA», depois disso pu -lo de parte.)
Por isso, desta vez, penso que vou fazê -lo como um ensaio… Só que vai ser um bocado mais longo. Sabes como eu sou. Lembras -te daquele último relatório que leste quando eu andava na primária? «Ally é muito esperta e imaginativa, mas com tendência para divagar…» Adivinha? Não mudei nada. É como a Avó diz, faria o dobro se parasse de fantasiar por cinco minutos. O que é uma espécie de verdade, eu sei. E é o que estou a fazer agora, penso eu…
Bem, mas de volta ao meu plano.
Acho que vou fazê -lo como se estivesse a escrever para um estranho ler, porque — desculpa, não quero ser antipática — posso ficar demasiado triste se o fizer todo só para ti. Penso que é por saber que tu não vais exatamente entrar pela porta nos próximos dois minutos e pedires -me para o ler…
Mas então, se — por qualquer desejo mágico — o fizeres, terás todas as nossas fotografias e coisas para ver e poderás ler todas as minhas histórias acerca do que está a acontecer comigo, com Linn, Rowan e Tor. E, claro, com o Pai.
Falando do Pai, acho que vou começar com o seu quadragé-simo aniversário, porque foi nessa altura que Kyra apareceu e quando — não te assustes — quase perdemos Tor…
Com muito amor,
Ally
(a tua Filha Querida n.o3)