Parte II

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O quarto estava escuro ao amanhecer, exceto por uma pequena fresta da janela por onde passava um tímido raio de sol. Depois de uma boa e longa noite de sono era natural que eu tivesse esquecido tudo o que aconteceu no dia anterior. A sonolência matinal me manteve entorpecida e alheia aos problemas, deixando espaço apenas para o desejo de que alguém fechasse as cortinas para que eu pudesse dormir por mais alguns minutos.

No final, foi o meu olfato que despertou o restante dos meus sentidos. Havia um cheiro nos lençóis e travesseiros que não era familiar. Um aroma fresco e leve como brisa marinha que não se parecia com meu perfume cítrico. Depois disso, meu tato despertou e notei que a cama também não se parecia com a minha. Na verdade, quando abri os olhos, percebi que aquele não era o meu quarto e todos os acontecimentos desastrosos do dia anterior voltaram de uma só vez como uma enxurrada destruindo tudo pela frente.

Olhei ao redor, esperando encontrar Scorpius Malfoy parado em algum canto, me observando dormir com seu olhar debochado e irritante. Mas, para o meu alívio, o cômodo estava completamente vazio e a porta permanecia fechada.

Durante a minha busca, entretanto, meus olhos se detiveram no quadrado de papel dobrado em cima da mesa de cabeceira com meu nome escrito em uma caligrafia bem elaborada. Antes de desdobrar o papel e lê-lo, me perguntei como Scorpius entrou no quarto sem me acordar. Eu não tinha sono pesado.

O bilhete dizia:

"Bom dia, sardenta. Precisei dar um pulo no meu estágio. Sinta-se à vontade. Volto antes do almoço, não sinta muito minha falta. S.M."

Rolei os olhos. Ele precisava parar de me chamar de sardenta.

Coloquei o papel de volta no lugar ao lado do meu celular e subitamente lembrei que o aparelho ainda estava morto. Eu não dava notícias à minha família há horas e eles deveriam estar surtando a essa altura. Saltei da cama e fiz uma rápida varredura pelo quarto, abrindo portas e gavetas. Scorpius mantinha tudo tão minuciosamente arrumado que me perguntei se ele realmente vivia ali.

Na gaveta em que encontrei o carregador, encontrei também uma bela caixa de madeira com S.M. talhado em letra dourada. Minha curiosidade foi mais forte que minha discrição e, antes que eu pudesse me repreender, já havia pegado a caixa.

— Quais segredos você guarda na gaveta, senhor Malfoy? — perguntei em voz alta, tirando a tampa, e descobri, um tanto surpresa, uma coleção de fotografias.

Havia dezenas de fotos, talvez mais, mostrando as inúmeras viagens que Scorpius já fez na vida. No meio delas encontrei algumas do tempo em que permaneceu nos Estados Unidos. Albus estava ao lado dele na maioria, mas havia também com os outros colegas de turma, com Ashley, a líder de torcida que era sua namorada na época — tão clichê! — e, por último, havia uma minha.

Não havia palavra para expressar a minha incredulidade ao me ver ali, distraída no meio de uma conversa, com o cabelo preso em um rabo de cavalo e roupas comuns na sala da minha casa com parte do rosto de Albus sendo cortado da cena. No verso estava escrito apenas "sardenta".

Coloquei a caixa de volta no lugar me questionando por qual motivo Scorpius Malfoy guardaria uma foto minha do colegial. Por mais que eu tentasse, não conseguia encontrar uma resposta coerente. Na época ele frequentava bastante a minha casa, mas não éramos amigos.

Essa nova informação só foi varrida da minha cabeça depois que consegui carga suficiente para poder ligar o celular. No mesmo instante, a tela explodiu em notificações, a maioria esmagadora da minha família, até mesmo minha prima Dominique estava surtando com a falta de notícias.

Disquei o número de casa e respirei fundo, pressentindo o que me aguardava.

Para minha sorte, foi James quem atendeu.

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⏰ Última atualização: Jan 15, 2019 ⏰

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