P r ó l o g o

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Ano de 1150, Úrtica, Reinado de Emantier.

Adúltera. Traidora. Falsa. Inimiga do reino.

São poucos os adjetivos que me lembro no momento para dizer quem sou. O povo, aquele que um dia me amou, deve estar pensando esses nomes para mim e não discordo. Eu sou uma adúltera, o homem por qual atravessa sua língua pelas partes mais íntimas e pouco vistas por um homem pode concordar. Meus gemidos, as marcas de suas mãos, nosso calor exalando pelo quarto, nossas respirações que embaçam os vidros da pequena janela do casebre que estamos e meu clímax quase chegando são provas mais que concretas.

A verdade é que não me importo com isso, meu caminho para o inferno já está me aguardado por mim há tempos, eu, muito antes disso tudo, não era a pessoa que a Igreja, quando morresse, declamaria como santa, como foi com a última imperatriz. O bispo, aquele velho caolho, teve a audácia de me chamar de manipuladora e devassa, uma prole direta do mal, que as sombras andavam ao meu redor. E eu não poderia discordar.

O mundo ao redor se dissolveu em milhares de pedrinhas de diamantes, misericórdia, a língua desse homem é como um oásis, uma lufada de ar prazerosa, diabos, era o primeiro e único homem que conseguia me levar para outros lugares, me desgrudando da Terra e me levando para os errantes que flutuam no céu.

Sua boca abençoada pelo cupido mais belo do Olimpo sobe pela minha barriga, escorrega pelos meus seios criando uma trilha molhada que parecia com outro lugar do meu corpo, seus beijos encaminharam por meu pescoço e por fim chega a minha boca e quando aquela língua sedutora entrou nela uma pressão doída e gostosa se transformou em meu baixo ventre e conforme nos beijávamos, dentro da nossa bolha de romance, ele me possuía e por Deus, não tinha como não ser o que aquele bispo falou, esse homem me transformara em uma tremenda devassa, das piores, das que gemiam em seus ouvidos, das que possuíam prazer, das que faziam aquilo sem o intuito único de procriar.

O pecado estava em mim, na parte mais baixa, na parte mais profunda e meu eu interior batia palmas e sorria, pois, com esse homem e somente com ele, eu estava acreditando que tinha valor, que eu não era um mero objeto da corte e que não era uma peça de um jogo. Eu era especial, eu sou especial e sempre serei especial.

Assim que nos desconectamos, e nossa bola foi perfurada e o mundo voltou a ser o que era antes, expirei com força e deitei sobre o peito forte do serviço braçal do homem que me ensinara tantas coisas.

- Talvez eu tenha deixado uma semente em você. Gosto da ideia e seria um homem feliz se vingasse e viesse um menino – ele disse de forma carinhosa enquanto passava sua mão grande e áspera no meu ventre.

- Eu seria feliz, mas devo estar seca, depois que tive minha filha não consegui mais ter outros. Deus deve ter me secado depois de conceber uma filha do diabo – exclamei com tristeza, enquanto acariciava seu belo rosto, doía em meu peito saber que essa semente não vingaria, que não geraria um filho seu.

- Pode ser que o destino tenha tido piedade de você, sua filha já sofre o suficiente por ser dele também, você não é seca, é abençoada, querida – eu sorrio junto a ele, poderia ser isso, mas, em meu íntimo eu achava que não.

Assim que me entreguei ao meu sono, não sabia que dormir seria meu pior erro e jamais me perdoaria por isso.

Assim que me entreguei ao meu sono, não sabia que dormir seria meu pior erro e jamais me perdoaria por isso

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