Ano de 1132, Teléia, Principado de Silver.
Casar nunca foi uma das coisas que mais almejei na vida, ainda mais tendo dezoito anos, quase dezenove. Eu preferia à boa e amável companhia de uma flecha e seu arco flexível, bem melhor que a de um homem que nunca vi na vida, isso sim era um terrível e tremendo castigo, era pra pedir a forca!
O príncipe Julius, ou conhecido como meu irmão, o grande mestre desse principado achava que seria bom me casar com o imperador de Scanels, o que, para mim, é uma completa e infeliz ideia. Ele claramente poderia se casar com a princesa de lá, ser nomeado rei pelo Papa e seguir feliz com sua vida, assim como eu. Mas, meu querido irmão, não quer abdicar de suas mulheres e bebedeiras. As regras em Silver são diferentes do que o resto do mundo, o príncipe regente só é coroado rei quando se casa e deve manter fidelidade até a morte, se não, será encaminhado à forca e perde seu poder, caso seja descoberto.
O que, claramente é bem diferente de Scanels, eu, deliberadamente serei a imperatriz que além de uma coroa, carrega uma galhada sobre a cabeça e serei apontada como a mulher que não satisfaz o marido.
Às vezes as regras no mundo são injustas, o homem trai e a mulher só falta ter que andar pelo quarto com um cinto de castidade. O pior de tudo isso? Ser moeda de troca, casar para que o povo possua paz, para que Imperador Emanuel III deixe meu povo em paz, eu ia me casar com um assassino e o sacrifício que deveria ser do meu irmão, caiu sobre minhas mãos. Isso era, claramente, uma bela piada, pois não havia outro jeito do destino debochar de mim, eu teria que ser como essas pessoas que tiram do povo para comer, para comprar mais coisas, que se esquecia de o que é viver de verdade. Eu teria que deixar de ser eu mesma, teria que largar o arco e flecha, a espada e o chute que eu dava feliz nas partes baixas dos capitães que se engraçavam com meninas que não podiam se defender. Eu não seria mais Lydia Amber Elizabeth Gordon, eu trocaria minha identidade Gordon para uma identidade fútil e horrenda Ellis, isso, claramente, é a morte. Mas o dever deve vir a frente, pessoas morreram e continuam morrendo por um Imperador sádico e se a única forma de parar com essa chacina for por meio de um matrimônio não desejado, eu o faria.
As grandes minas de prata, que dão nome ao principado, estão largadas para trás enquanto a carruagem segue adiante, são grandes montanhas de rocha e que dentro possuem uma grande riqueza, é a única e boa renda de todo o meu antigo território, e que, apesar de ser a pouca coisa que tem nesse lugar que chamo de lar, reis, príncipes e homens de poder anseiam possuir. Não é novidade isso já que o Imperador começou a ameaçar a população e a matar pessoas para pressionar o príncipe regente a entregar Silver, meu irmão botou aquela cabeça ridícula dele para pensar e achou que seria justo casar sua querida irmã com ele e compartilhar das coisas boas que o reinado de Scanels poderia nos oferecer. O matrimônio é sempre uma boa moeda de troca para se comprar a paz, isso se for algo proveitoso para os dois lados, ou seja, paz para o aniquilado e riqueza, conquistada pela aliança, para o que aniquila.
Uma chuva fina embala meu sentimento de enterro, meu coração estava esmagado e eu nada poderia fazer, não havia como fugir do meu destino e futuro. Os homens que fazem a guarda estão em seus magníficos cavalos, todos protegidos com capas, assim como aqueles que os guiam. Meu irmão estava sentado a minha frente, fazia parte da etiqueta, um homem não poderia se sentar ao lado de uma dama, mesmo que fosse um familiar, portanto, a exclusiva forma de ignorar a cara amarrada dele era ficar olhando os homens a cavalo ao meu lado esquerdo. Meu olhar caia sobre eles e possuía inveja em saber que poderiam escolher com quem se casariam, que poderiam lutar e o mais importante, que poderiam andar livremente. Ou até mesmo a necessidade de agradar um genocida para que não se voltasse contra seu povo novamente, eu não conseguiria andar ou falar coisas sem me perguntar se estaria agindo de tal modo que pudesse prejudicar aqueles que amo. Era um peso e um medo que jamais sairiam de meu peito.
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LENITIVO
FantasyLydia sempre lutou para ser uma boa rainha para seu povo, aceitou sem questionar um casamento forçado com o homem que fez o povoado do principado a qual pertencia sofrer. Aturou por anos um relacionamento que somente uma das partes era bem-aventurad...