Capitulo 2

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Dia ensolarado, e um dia de muitas realizações, eu que esperei tanto por esse dia nem posso imaginar que finalmente chegou, meu corpo transborda de felicidade, era meu grande dia, minha formatura da faculdade. Foram 6 anos muito intensos, de dias longos e noites solitárias, de provas estressantes que fizeram chorar inúmeras madrugadas, você não sabe o que eu tive que aguentar e o peso que eu tive que carregar, as vidas que vão passar pelas minhas mãos e eu terei que fazer com que eles sobrevivam, parece dramático, mas eu não sei se estou realmente pronta para realizar esse dom tão único que Deus me concedeu.

Os estágios foi a época mais feliz da minha faculdade, eu conheci pessoas reais com dores reais e sentimentos, me envolvi com cada um deles pessoalmente e tentei ao máximo ser profissional, mas foi extremamente complicado, mães com seus filhos, filhos doentes, adolescentes grávidas, e a vida que decidiram seguir, eu vi tudo aquilo diante dos meus olhos e não pode ser amiga, apenas uma boa médica e é isto que eu quero ser, quero uma vida de realizações e fazer sonhos prosseguir adiante.

Minha turma era difícil, mais homens que  mulheres e a maioria deles realizando o sonho da família e não o próprio, não é estranho ? Hoje era para todos nós seguirmos e salvar vidas e mudar histórias, mas vestida na minha beca, com o diploma na mão foi o único momento feliz que eu consigo lembrar, eu não tinha ninguém para torcer por mim, para me abraçar e chorar ao meu lado de felicidade, eu queria compartilhar a realização de um sonho com minha família mas estavam todos longes, cuidando do meu pai adoecido e frágil, e eu quero agora apenas cura-lo, e fazer do futuro dele uma nova esperança, eu te amo pai.

No final da cerimônia fomos todos para uma fazenda a km da cidade, aproveitamos a noite inteira, até todos desmaiarem no chão da casa, ou á beira da piscina, que não é tão incomum, talvez aquilo seja a última oportunidade para muitos que terá que agir como adultos e segurar seus estetoscópio e serem responsáveis por vidas, e eu observei tudo aquilo ao meu redor e estava feliz por ser a única sóbria, mas eu tinha motivos, minha família, e eu queria muito ouvi-los, e logo esse pensamento ficou distante e eles me ligaram, nos divertimos, choramos e riamos, e durante muitas gargalhadas eu recebi um golpe na cabeça, eu pisquei e só via sangue e sentia uma dor terrível na cabeça, meus pais foram a última voz que eu pude escutar.

Me levaram para uma dispensa no fundo da fazenda onde estavam todas as mulheres da minha turma, bêbadas, drogadas, rindo e vomitando, e nada daquilo fazia sentido para mim, me amarraram em uma cadeira, e me bateram, e em todas nós, nos cortaram com faca de churrasco e casco de cerveja, rasgaram nossa roupa e cortaram nossos sutiãs e calcinha.

Eu estava lúcida,  senti cada faca me cortando, cada apunhalada pelo pescoço,  vi o sangue escorrer e não pude falar, com o vidro de garrafa entalado na minha garganta, eu chorava cada vez que queimavam cigarro em meus seios,  passei horas escutando minhas amigas gritarem, eu vi todas elas sendo estupradas por ferro, facas e sendo espancadas, a maioria desmaiava de dor, o corpo delas já tinham sofrido muito com aquelas bebidas e drogas.

Eles eram nossos amigos de classe, e cada um que levou um não de algumas de nós resolveu se vingar, eram apenas 4 deles, e nós éramos 6, e porque tudo isso ?

Eu fingi estar desmaiada e escutei os gritos, as facas cortando a pele de todas até chegar a minha vez, e eu me calei, vomitei os vidros que se quebraram na minha boca e tentei estar morta, eu queria estar morta, e eu via as horas se passando, o dia virando noite, e a minha vontade era de não estar entre os vivos.

Quando eles nos deram uma pausa para jantarem, eu abri os olhos e tudo que eu via era sangue, dor, e sangue, muito sangue de onde vinha aquele sangue quando notei Emilly era a razão de tanto sangue, e eramos as únicas lúcidas, ela estava em choque, não me respondia, ela estava desfigurada, nua, exposta, até que olhou no fundo dos meus olhos e disse que estava grávida de Eduardo, um dos meninos que a estuprou, ele era a maior razão, por ter sido deixado por ela, já que ela iria trabalhar em outro estado, eu não podia entender tamanha revolta, e quando eu tentei ajuda-la, eles chegaram, me queimaram, me espancaram, me queimaram e me estupraram, e nesse ato nojento eu não vi mais nada e quando acordei nossos professores nos resgataram, após uma ligação da minha família preocupada.

Meses de recuperação e um trauma para toda á vida, 2 de nós se foram e todos os 4 foram soltos, e agora vive entre os cidadões de bem, e eu tentei lutar contra a ''justiça'' que se dizia certa de tamanha crueldade.

Eu nunca vou superar.

Dores silenciosasWhere stories live. Discover now