Aeroporto de Paris - Charles de Gaulle
Eu estava olhando pro telão enquanto esperava Jay comprar café. O vôo estava atrasado e nós dois tínhamos que estar em Busan no dia seguinte ou seria o fim da linha, nada de contrato, nossas vidas estariam arruinadas
Nunca pensei que um dia eu iria fazer parte de um grupo de Kpop, nem de grupo nenhum pra falar a verdade. Fazia tantos anos que eu não tocava absolutamente nada na frente de ninguém que só de pensar em fazer música de novo e mostrar elas pro mundo, já me deixava enjoado.
Foi o meu padrinho e pai do Jay, que acabou nos convencendo a mandar um vídeo nosso tocando uma música que eu tinha escrito há algum tempo, para os produtores que estavam fazendo uma seleção mundial de talentos.
Ele repetia toda manhã que precisávamos parar de guardar o nosso talento só pra gente. Até que ele tinha razão, mesmo eu não querendo admitir. Quando recebi uma ligação falando que tínhamos conseguido, eu quase nem acreditei. E era só por essa birra dele que eu estava naquele banco esperando pra embarcar.
Aquela sensação de felicidade só perdia para as lembranças do passado, que ficavam voltando pra minha mente toda vez que eu parava um tempo quieto sozinho.
A última vez que ele tinha se apresentado, os pais ainda estavam vivos e Mino e Dino ainda faziam pirraças em todo canto. O sorriso da mãe era largo quando os irmãos ficavam brigando e dizendo um pro outro que já não se aguentavam mais. Ela era a mulher mais linda do mundo.
Estava com 7 anos na época, a última apresentação do ano era o show de talentos da escola e ele estava treinando fazia alguns meses. Seu pai havia chegado de viagem só pra ver ele tocando, nem ao menos tinha desfeito as malas ainda.
Era uma sexta feira, estava começando a nevar pelas ruas de Paris e seus dedos pareciam congelar quando tirava as luvas. Amava aquela época do ano, quando os flocos formavam pequenos cristais nas árvores e montes fogos de neve se acumulavam pelas calçadas.
Seus pais haviam se conhecido lá, em Paris mesmo. Estavam na época de faculdade; sua mãe, uma estudante do primeiro ano na Escola Nacional de Artes Aplicadas descobria a beleza da capital francesa, em uma ânsia de consumir tudo o que a cidade tinha para oferecer. Já seu pai, um jovem seguindo os passos da família, administrava a empresa de tecnologia da capital francesa querendo tudo menos ser o dono de algo além da própria vida.
Os dois formaram um casal unido e nunca brigavam na frente dos filhos, nem mesmo quando não concordavam nas decisões sobre ele e os irmãos.
Tinha que se provar naquela apresentação e estava tão nervoso pra se apresentar que pediu aos padrinhos e melhores amigos dos seus pais, que o levasse mais cedo para que pudesse treinar antes do show começar.
Quando chegou horas antes, a única coisa que tinha encontrado era o diretor de cenografia parado no palco conferindo os últimos detalhes. Acabou treinando em uma sala do primeiro andar, até que viu pela janela os primeiros convidados chegando.
No teatro, alunos e pais que estavam apenas pra torcer, começavam a lotar as cadeiras, levando folhetos de boa sorte por baixo do braço. A verdade é que aquele dia não era apenas uma apresentação de fim de ano, mas a garantia de um futuro sem surpresas. O primeiro lugar ganharia um prêmio em dinheiro de 5 mil euros para ser aplicado em um fundo estudantil.
Os pais estavam demorando e ele precisava entrar para o camarim, junto com os outros concorrentes. Sabia que precisava se concentrar mas a única coisa na sua mente era o almoço que iriam ter todos juntos no fim daquela tarde.
O aviso de que os passageiros poderiam começar a embarcar me tirou das lembranças. Jay já estava quase pulando em cima das malas enquanto me chamava do outro lado do saguão para irmos pro avião.
Olhei por quase um minuto ao redor e imaginei se um dia eu voltaria para a França, o lugar em que nasci e perdi tudo o que mais amava e importava. Talvez pudesse recomeçar na Coréia, encontrar um novo lar, construir algo pelo qual eu realmente pudesse ter a chance de lutar
Me sentei ao lado do Jay, que já estava na poltrona da janela e olhava toda hora pro celular, tirando várias fotos para postar no Instagram. Eu realmente não conseguia entender essa mania dele de querer mostrar tanto e buscar sempre ter o maior número de curtidas. Nunca gostei de chamar atenção e quase nunca tirava selfies. Aquela exposição me irritava muito. Estava quase colocando os fones pra me perder na música, quando senti os braços de Jay me apertando enquanto ele gritava bem no meu ouvido
– Cara, tá dando tudo certo !! – os olhos dele brilhavam de tanta empolgação. Queria eu poder sentir tanta felicidade assim. O máximo era uma felicidade por finalmente estar viajando e de não atrasar pra assinar o contrato
– Sim, é real cara, mas calma tá! Nem sabemos direito como é o pessoal lá – Não queria ser o estraga prazeres mas aprendi da pior maneira desde sempre a ter pés no chão
– Meu Deus! Só tô falando que vamos finalmente fazer o que sempre sonhamos e ainda na Coréia, onde nossos pais nasceram– Tá, tudo bem, é legal sim... mas será que agora eu posso dormir? Vai ser longa a viagem e eu preciso dormir pra chegar inteiro - Eu pretendia fechar meus olhos e acordar quando o avião estivesse pousando. Fazia noites que eu não dormia direito
– Claro cara, no problem okk?? Mas tenta abrir essa cara emburrada e sorrir quando estiver na frente dos caras importantes, assinando o contrato.
Se a porta não tivesse fechado naquela hora, provavelmente teria jogado Jay pra fora e mandado ele pegar o próximo vôo. Ele era legal, e não que eu não gostasse da presença dele, era só que a animação que exalava de Jay era tanta que quase sempre provocava o pior de mim
Deitei a cabeça e deixei tocar Lonely do Akon no último volume.
Yo, this one here, goes out to all my players out there man, you know
They got to have one good girl who's always been there like
Took all the bullshit
Then one day she can't take it no more and decides to leave————————————————————————
fim do primeiro capítulo
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Little Brothers
FanfictionJiYong, Mino e Dino são três irmãos marcados por uma tragédia familiar e separados ainda na infância. JiYong aos 18 anos é o oposto do que era antes do acidente, calado, sem muitos amigos vê sua vida ganhar um novo capitulo ao receber uma oportunida...