Cl

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1997

Estava amanhecendo ainda, quando meus pais me acordaram dizendo que precisavam ir buscar alguém e que iriam deixar eu com meu irmão na casa da vovó. Era fim de dezembro, a neve caia lá fora e meus dedos congelavam mesmo com a luva e todas as blusas que colocaram em mim. Ouvi DongHyuk começar a chorar quando papai tirou ele da cama. Não estava entendendo por quê eles estavam nos tirando de casa de uma hora pra outra sem explicar nada. Só falavam que precisávamos nos comportar e que quando voltassem, eles iriam explicar tudo pra nós.

Ficamos horas esperando que eles voltassem, o tempo estava tão ruim que não tínhamos nada pra fazer. Foi um dia chato, em que precisávamos usar a imaginação para tornar ele legal. Quando tinha anoitecido e estava tudo tão escuro quanto um buraco negro, meus pais pararam o carro em frente à garagem. Demoraram alguns minutos para saírem de lá e e ela podia ver a fumaça escapando do capô lentamente como se agradecido por poder descansar.

Olhei pra fora na esperança de que eles estivessem trazendo algum presente, mas conseguia ver mamãe carregando alguém no colo. Parecia uma criança pequena que dormia agarrado ao pescoço dela.

Eles entraram e colocaram o bebê, que percebi ser um menino, no sofá perto da lareira e chamaram para que eu chegasse perto deles.
- Chae Rin, está vendo esse menino ?
- Sim mamãe... quem é ele? - Ele parecia estar acordando e trazia uma marca roxa no rosto como se tivesse batido muito forte em algum lugar. Era muito pequeno e frágil e me deu vontade de abraçar ele só para que não sentisse mais medo.
- Ele se chama Dino, ele vai fazer parte da nossa família agora, vai ser seu novo irmão. Seu e do Hyuk, Tudo bem? - Eles pareciam apreensivos como se esperassem que eu fosse gritar a qualquer momento.

Mas antes que eu pudesse dizer que entendia e que mesmo sem saber, eu já tinha gostado do Dino, ele abriu os olhos e me olhou como se tivesse tentando entender quem eu era. Começou a chorar e pedir pela mãe e a tentar dizer que estava com frio. Eu me sentei do lado dele e dei um abraço apertado, sufocando ele embaixo de camadas e camadas de roupas de inverno que eu estava vestindo

- Calma Dino, a Cl está aqui, sou sua irmã agora, não precisa chorar. Vou cuidar de você está bem?

Ele fungou e apertou o rostinho no meu pescoço e adormeceu de novo, segurando na minha blusa.

No dia seguinte, DongHyuk desceu as escadas e me viu lá segurando Dino e perguntou quem era aquele menino, chegando perto pra ver melhor

- Hyuk.. esse aqui é o Dino, mamãe e papai falaram ontem que ele vai ser nosso irmão tá. Temos que cuidar dele. Combinado?
- Tá, mas ele não vai ficar com meu quarto!

12 anos depois ...
Dino entrou gritando no meu quarto me acordando pra ir tomar café. Seria minha última refeição em casa pelos próximos anos. Logo eu iria encontrar com a Lisa e a Dara pra irmos até os dormitórios ver onde iríamos ficar. Eu estava feliz por finalmente estar seguindo os meus sonhos e estudar música. Ter conseguido o contrato para fazer parte de um grupo era a cereja do bolo de todos os planos que eu havia feito e serviu pra compensar as coisas que deixei de fazer pra ser a melhor.
Meus pais já estavam na mesa, o que era raro normalmente, pois meu pai costumava estar na delegacia aquele horário e mamãe no hospital fazendo algum dos seus plantões. Ela era cirurgiã de traumas e lidava com muita pressão no seu dia a dia. Meus pais estavam juntos por quase duas décadas mas pareciam mais recém casados, sempre brincando um com o outro e sendo carinhosos mesmo na nossa frente. Muitos amigos meus sentiam inveja disso, diziam que o casamento dos próprios pais eram frios se comparado ao dos meus. Toda noite eu agradecia à família que eu tinha, apesar dos meus irmãos me irritando sempre que podiam. Quando Hyuk apareceu, mamãe começou a fazer um discurso de despedida dizendo sobre o quanto sentiriam a minha falta
- Calma querida, nossa filha não vai sair do país sabia? - Meu pai ria olhando pra mim e abraçava minha mãe - Ela só vai estudar há 5 quadras daqui, você vai poder ver ela e além disso temos que ficar felizes por nossa garotinha estar seguindo os próprios passos pro sucesso.
- Eu sei!! Não estou dizendo que não estou feliz, só quero que ela saiba que vamos sentir falta dela...
Eles começaram a conversar como se não estivéssemos todos na mesa e precisei interromper para não acabar me atrasando
- Hey, está tudo bem, também vou sentir saudade.. mas será que podemos comer? Estou com fome e preciso sair daqui a pouco
Tinha todos os pratos que eu mais gostava e tive que me controlar muito pra não comer tudo.
Uma hora depois eu sai pra encontrar com a Lisa que estava me esperando junto com a Dara em frente ao shopping. Tínhamos combinado de comprar algumas roupas e coisas para o quarto antes de irmos pegar nossas chaves. Lisa estava com a cara seria como se algo tivesse acontecido.
- O que houve?
- Ah CL, meu pai que não quis me dar dinheiro pra comprar aquele vestido que tínhamos visto na semana passada, lembra dele?
- Sim, lembro
- Agora está tudo errado, não tenho uma roupa pra ir assinar o contrato! - Parecia que ela estava prestes a chorar na calçada
- Eu compro pra você e depois me paga quando puder
- Sério?? Nossa, você é tão sortuda que seus pais te dão às coisas... tudo é muito fácil pra você. Ainda bem que eu posso contar com uma amiga assim!

Eu gostava da Lisa, ela era um pouco fútil mas sabia que a relação dela com os pais não era boa e que como filha única, não tinha o amor de irmãos pra poder contar
- E você Dara, vai comprar alguma coisa?
- Não.. já comprei tudo o que precisava ontem, mas vamos lá ver o vestido da Lisa. Quero ir arrumar o quarto cedo pra não nos atrasarmos pro contrato

Acabou que demoramos um pouco mais do que pretendíamos pois Lisa acabou decidindo por um outro vestido em outra loja e experimentou todas as cores do modelo que tinha.
Quando chegamos à secretaria para pegar as chaves tinham dois garotos saindo. Eles pararam na nossa frente e eu senti seus olhares sobre nós. Um deles parecia ter saído de um clipe de rap, todo descolado e tinha um ar brincalhão. Tive quase certeza de que ele era um cara divertido pra se sair e rir por aí. O outro parecia mais sério, seus cabelos vermelhos estavam bagunçados pelo vento e tinha uma expressão de que conseguia ler tudo o que se passava na mente das pessoas. Meu coração pulou do peito e eu quis me bater por sentir aquela sensação estranha

- Olá, eu sou o JiYoung e esse a-a-qui é o JayPark - o estranho se apresentou gaguejando e eu precisei me segurar pra não sorrir. Ele era fofo sem saber que era.

- Prazer, sou a Lisa e essas são Dara e Chae-Rin mas pode chamar de CL

- Não pode não, me chame de Chae -Rin - Quis matar a Lisa, eu não queria que ele pensasse que eu estava dando alguma intimidade logo de cara. - Já estamos de saída mas sejam bem vindos.

Saímos de lá sem olhar pra trás e só no corredor foi que tive coragem de parar e olhar pra trás. Não tínhamos pegado as chaves e por sinal meu coração ainda parecia não querer colaborar dentro do meu peito.
- Lisa, por quê disse aquilo pra ele?
- Ah CL, só quis ser gentil e ele parece ser lindo, você não acha?
- Não, não acho nada, só quero ir pro quarto, mas fiquei sem jeito de pegar naquela hora
- Podemos esperar eles saírem - Dara sugeriu sussurrando, como se o simples fato de estarmos falando dos meninos, pudesse fazer com que eles aparecessem lá
- Tudo bem, vamos esperar

Só quando vimos que eles tinham subido e ido para a ala dos meninos foi que pegamos a chave. Enquanto caminhava até o quarto senti que de alguma forma a minha vida não seria mais a mesma à partir daquele dia

Fim do capítulo 3

The Little BrothersOnde histórias criam vida. Descubra agora