SONHOS E RUÍNAS

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Nos antigos escritos de Malavid, dizia que quando um jovem completasse vinte anos seu destino é revelado. Esse ritual valia tanto para Sangrinos e Elens.

Um ano antes de cada cerimônia, no solstício de inverno, uma reunião era realizada presentes apenas os Mestres do Tempo ― presente, passado e futuro ― escondido a sete chaves descobriram o destino dos jovens do próximo ano.

Os destinos mais almejados nos jovens de vinte anos de ambos lados, eram o de Grande Herói, que tiraria o país da escuridão e o Vilão, que destruiria o mundo. A imagem do Salvador e do Destruidor era presente em histórias e seus feitos eram ensinados nas escolas.

Contudo, todos os anos milhares de jovens saíam cabisbaixos da sala de cerimônia. Desde do grande Salvador Dalino e do destruidor Kraitar Onilad, o mundo não sofreu nenhuma grande ameaça, nenhum vilão ou herói foi revelado na grande cerimônia. Apenas cargos de pesquisas, proteção individual, liderança eram revelados. Duzentos anos, desde da morte de ambos que ninguém tinha herdado o manto de Salvador e Kraitar.

― Quem era Kraitar? ― perguntou Aurora em voz alta.

Nunca ouviu falar do tal destruidor e dos seus feitos na Escola Sangrina, era estranho pois na Academia Santo Dalino era assunto tratados todos os anos.

Seus olhares davam sinais de cansaço da longa horas de leitura sobre o ritual. Para sua pesquisa de conclusão de uma matéria do semestre.

Guardou o livro na estante, pegou suas coisas, saiu da biblioteca desligando as luzes e a trancando. Ela havia ganhado as chaves do Mestre da Biblioteca, pela sua sede em busca de conhecimento, e por que ele acreditava que ela tomaria seu lugar possibilitando sua aposentadoria.

Contudo, Aurora esperava ser um instrumento de mudanças encontrar as respostas para problemas que a sociedade estava enfrentando, e não um auxiliar a outros encontrem.

O caminho até o casarão, onde estava localizado os dormitórios, estava vazio e era iluminado pela lua, fazer o caminho desgastado parecer bonito.

Andando com pensamentos longes, não percebeu que pisou em um jornal que possuía a matéria de capa, o pequeno problema que os Elens estavam sofrendo há anos, mas nos últimos meses agravaram. Continuou andando com a cabeça longe, querendo saber que foi Kraitar e porque sentia que tinha uma ligação com ele.

Ao chegar no dormitório, lembrou a primeira vez que passou por aquelas portas gigantes, sentiu-se como um bicho acuado com medo, o salão principal passava uma importância e magnitude, totalmente diferente da imagem que os Elens cultivavam sobre aquele povo. Mentiras contadas de pessoas fracas para pessoas fracas.

Seu dormitório ficava no quinto andar, subiu as escalas rápido, seu corpo desejava sua cama confortável, há dias não dormia direito, pela sua incansável busca por resposta. Ao chegar na porta do quarto, dividia com Lisandra, xingou sua companheira antes de dar meia volta e buscar abrigo no salão principal para passar a noite.

Lisandra e Eduardo engataram uma amizade colorida a nove meses. Aurora era a mais prejudicada com esse relacionamento, perdendo sua cama pois os dois faziam seu quarto de motel. Normalmente, ela iria para o quarto de Eduardo, que dividia com Gustavo por ter uma cama livre. Mas, ele também estava começando um namoro com um cara. Deixando apenas o sofá do salão principal para ela dormir.

***

―Tome cuidado, filha. ― Disse uma voz aveludada alisando os cabelos escuros de Aurora.

Aurora abriu os olhos, estava no salão do Salvador Dalino. Uma menina sorria para ela, fez um movimento para que a seguisse, e foi direção a porta que a menina sumiu. Uma forte luz quase a cegou, a voz aveludada ficava próxima e distante ao mesmo tempo, gritando coisas que era impossível de entender. Novamente ela estava na porta de seu dormitório, e a garotinha tocou uma costa com suas mãos frias.

― Está buscando respostas nos lugares errados.

Virou-se encontrando-se em ruínas, o frio tomou conta dela antes de tudo ficar preto.

Sua pulsação ficou mais forte, conseguia sentir seu sangue correr por suas veias com fogo queimando sua pele, vozes em sua volta gritavam em seu ouvido fazendo sua cabeça doer.

Seu corpo calmava-se aos poucos, o chão frio diminui o calor de seu corpo. Abriu os olhos e viu duas figuras em cima dela preocupada, dois representantes do conselho.

― O que aconteceu? ― perguntou sem entender o que seus olhos mostravam.

Uma mistura de surpresa passou no rosto dos conselheiros, uma pitada de orgulho no olhar de um deles passou despercebida com o medo no outro.

― Você não se lembra?

― Não ― respondeu.

― Você fez isso. ― disse mostrando o que restava do salão principal destruído por fuligem, alguns alunos nas laterais escondidos vendo o que se passava aquele salão com rostos de surpresa.

―Eu fiz isso?

― Sim. ― Afirmou admirado ― Pela primeira vez em anos temos nosso destruidor. 

Dias de TormentoOnde histórias criam vida. Descubra agora