↝ A CARTA.

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BATCAVERNA, SUBTERRÂNEO DA MANSÃO WAYNE. GOTHAM CITY. 

O mordomo calmamente descia os degraus húmidos devido à constante humidade presente na caverna abaixo da majestosa mansão, equilibrando em suas mãos uma bandeja de prata. Acima da bandeja havia uma cloche do mesmo material da bandeja – que, por sua vez cobria alguns sanduíches de atum, e um bule com seu clássico chá inglês.

Um suspiro fora proferido ao encarar o local vazio, a não serem por sua presença e aos morcegos, que habitavam as rochas húmidas, suspensos na escuridão. Certamente, após a partida da então ex-futura Sra. Wayne, tudo havia ido de mal para pior. O mais velho temia não só pelo bem estar de seu patrão, seu filho, mas também pelo bem estar de todos os que habitavam aquela mansão e demais membros daquela família.

Deslocou-se até o centro da caverna onde uma mesa no formato oval, com um número considerável de cadeiras muito bem distribuídas que a contornava. Mestre Bruce havia lhe posto a par da necessidade de abrigar todos os membros de sua equipe, referindo-se à sua ampla família, que a cada ano parecia ganhar mais membros. A Mansão Wayne havia se tornado um orfanato? Ou, melhor, um abrigo para órfãos aos quais mestre Bruce alegava ajudar e não nutrir nenhum sentimento paternal é claro. Não, Alfred não era tolo. E Bruce sabia disso.

Finalmente colocava a bandeja sob o centro da mesa, notando um simples envelope largado – ou provavelmente atirado, com um visível sinal de que fora amassado em algum momento. Analisou-o por um instante curiosamente o tomando em mãos. Não demorará muito tempo para que reconhecesse a letra que pertencia à Selina Kyle, endereçada a Bruce Wayne. Ou, melhor referindo-se, a carta pertencia à Gata; Mulher-Gato, endereçada ao Morcego. Batman.

Girou a cadeira em sua frente, acomodando-se sentado voltando sua atenção para o envelope amassado em suas mãos. Evidentemente aquilo não era de sua conta, não lhe pertencia... Mas, por um momento, uma vez na vida... Não se importava em invadir a privacidade de Bruce. Depois de tudo, ele era seu filho.

Morcego.

Nos conhecemos na rua. Você estava bancando o herói. Tentando salvar a Holly. Sempre tentando salvar todos. Golpeando com poder, mas sem finesse. Ou elegância. Um morcego em um voo, gritando esperando que o susto seja o suficiente. Você estava sendo um maldito tolo. Eu pulei dentro, tentando te parar de machucar alguém. De se ferir. Nós brigamos. E você era outro homem afirmando sua vontade. Tentando dominar um mundo que você não entendia. Eu conheci milhares como você. E eu conheceria milhões mais. Mas então, eu vi seus olhos.

Eu leio pessoas. Homens. Mulheres. Eu tenho que ler. Eu tive que ler. Eu aprendi, da única maneira a qual você pode aprender nos becos de Gotham. Julgamento e algum erro horrível. A chave? Os olhos. Olhe lá e você verá a intensão escondida, a necessidade, o próximo movimento. E você sabe como se mover, como correr, como agarrar, como machucar. Eu olhei nos seus olhos e eu vi tudo sobre você. Eu conhecia você. O herói. Com seus grandes olhos azuis. Você era fácil. Mas então... Seus olhos. Eles não eram o que eles deveriam ser.

Olhos azuis nunca são azuis. Uma partícula do branco ou amarelo. Um toque de verde. Há sempre uma falha aqui e ali. Branco. Falhas de branco. Como a neve caindo, mostrando todo o frio. São as falhas que vem com a vida. Boys, girls tem puros olhos azuis. Mas homens, heróis... Esse é o azul da verdade, justiça e a Maneira Americana. Azul tentando ser azul, mas falhando. Se descobrindo despedaçado, morrendo. Quando eu olhei pra você antes, como eu olho pra você agora. Eu procuro pelas falhas. Elas devem estar lá. Elas tem que estar lá. Eu olho. E eu só encontro o azul.

Eu deixo eles verem meus olhos. Eu os desafio a olhar. Enquanto eu os surpreendo, chuto eles, roubo deles. Enquanto eu provo que sou a mestre deles. Ninguém é meu mestre. Eu quero que eles me conheçam. Para olhar bem para a Gata que Gotham tentou colocar no chão. E entender que ela continua de pé. Qualquer coisa que você fizer, ela sempre vai estar aqui. Mas você, esses olhos azuis. Todos esses anos nos telhados. Eu nunca vi seus olhos.

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⏰ Última atualização: Jan 19, 2019 ⏰

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