Comida Verde

556 25 11
                                    

Márcio tenta iniciar uma conversa normal comigo mas é interrompido por um cara que o chama na cozinha.

- Márcio, me ajuda aqui com o gelo. - Ele pede.

- Já vou, pai. - Ele não está de bermuda amarela.

- Ah, seu cretino! Esse daí não é o Otávio. - Me levanto. - Filho do dono, né? Sei. Você só tava querendo me constranger!

Ele ri e chama o pai.

- Queria te apresentar minha amiga Jennifer. - Aponta pra mim. - Jennifer, esse é meu pai Marcelo.

- Oi. - Não entendo aonde ele quer chegar.

Márcio também chama Otávio que quando chega abraça a cintura de Marcelo. Ah, não.

- E esse é meu pai Otávio, o dono da casa. - Marcio sorri.

- Você é filha de Marta, né? - Otávio pergunta e eu assinto. - Eu adorei conhecer a sua mãe, já estamos marcando o próximo churrasco. É muito bom que você está se dando bem com o meu filho.

Ele beija a testa de Márcio e vai em direção à varanda, para na porta e encara o filho.

- Vai ajudar o seu pai com o gelo.

Quando volta a mesa, Márcio me encontra de novo com o rosto entre os braços.

- Você podia pegar um pouco daquele gelo pra eu enfiar minha cara dentro. - O encaro. - Você tirou o dia pra me constranger, né?

- Agora não foi culpa minha. Você que foi tirando conclusões precipitadas.

- E você se aproveitou pra me fazer passar vergonha, mas tudo bem, dessa vez eu mereci. - Pego meu prato de carne esquecido. - Quer?

- Não, obrigado. Sou vegetariano.

- E tá fazendo um churrasco? - Rio.

- Isso foi ideia do Otávio, ele quase não come carne por minha causa e do Marcelo. - Olha pros lados e sussurra. - Acho que ele tá comendo hoje tudo que não comeu em um ano.

Enquanto falamos de Otávio ele aparece com um prato de pão de alho que entrega pra Marcelo junto com um beijo.

- Eles são fofinhos juntos. - Comento - Quero casar com alguém que me dê pão de alho também. - Márcio ri.

Do nada, sinto uma pontada dolorida de cólica me lembrando do meu estado sangrento. Faço uma careta.

- O que foi? - Pergunta.

- Cólica.

- E precisa se contorcer toda assim? Que frescura. - Ele sorri e eu me irrito.

Pego um absorvente na bolsa e me levanto.

- Dá licença que eu vou ao banheiro porque eu não sei se você sabe mas eu estou menstruada que é uma coisa que você nunca vai saber como é porque é homem. EU ODEIO O PATRIARCADO! - Márcio olha de um lado pro outro confuso, Marcelo olha da cozinha e dá de ombros.

- TPM

Quando volto tem um prato com pão de alho na mesa em frente a minha cadeira. Olho pra Márcio.

- Não queria você gritando comigo de novo. - Diz

Marcelo ri e comenta consigo mesmo.

- Aham, sei. Vem comer Márcio, você gosta de arroz com brócolis, Jennifer? - Muda de assunto.

Assinto e entramos na cozinha. Olhando as panelas vejo o arroz com brócolis, abóbora refogada e abobrinha com ovo.

- Não acredito! - Limpo uma lágrima imaginária. - Comida de verdade!

Marcelo ri.

- Esperava a reação contrária, fico feliz que você gostou, só espero que o sabor também esteja bom.

Faço um prato generoso e quando íamos começar a comer Juliana entra na cozinha.

- Alguém me arruma uma garrafa d'água? - Pede e Marcelo aponta pra geladeira.

Ela pega a água e bate na minha mão fazendo o garfo cair antes que eu possa pôr a comida na boca.

- Não come isso, Jenny. Tem churrasco lá fora.

- Não quero churrasco, obrigada. - Pego o garfo de volta.

- Sério que você vai comer isso? Detesto comida verde. - Diz antes de sair e é nesse momento que consigo começar a comer.

- Isso tá ótimo, Marcelo! Só como coisa de microondas em casa. Espero que não se importe se eu me esconder na sua mala pra assaltar a geladeira da sua casa à noite.

Eles riem e Márcio comenta baixo.

- Eu não ia me importar nadinha.

Cara Vermelha Onde histórias criam vida. Descubra agora