2 - Terça-feira, 10h27

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Se eu tivesse aberto os olhos dez segundos mais tarde, o furação Cecília que irrompe meu quarto porta a dentro teria me acordado com enérgicas chacoalhadas de animação.

- Você vai PIRAR! – ela diz, olhando a tela do celular e sentando-se na cama.

Coço os olhos e me ajeito sentado na cama. Sinto um gosto estranho na boca e limpo os lábios.

- Vou pirar com o que? – pergunto, sem empolgação. Meu cérebro mal entendeu que eu acordei.

- Preparado? – ela pergunta, com um sorriso malicioso – Matthew Parker, cantor canadense vem ao Brasil dia 19 de março realizar show exclusivo para fãs organizado pela rádio MM e participar de uma entrevista com Mari Campos, em seu talk show na TV – ela lê a notícia e logo entendo a urgência daquilo pra gente.

PRA MIM!

Matthew Parker era o melhor cantor de todo o mundo! Desde que me tornara fã, eu colecionava álbuns, pôsteres, biografias, livros... E isso me fazia conhecê-lo melhor até mesmo do que a mãe dele provavelmente sabia.

Parece doentio saber de seus 1 metro e 81, aos 21 anos, a cor dos seus olhos castanhos, o cabelo levemente ondulado, mas ainda assim liso, cortado no estilo aparado-dos-lados-e-grande-em-cima, sua nacionalidade americana, com preferência em perfumes amadeirados e cor preferida azul. Mas não sou obcecado. Juro que não ficaria dias e até meses numa fila para entrar no show, mas era difícil fingir não ser apaixonado por aquele homem.

- Precisamos de um carro – digo, levantando da cama – Um amigo que saiba dirigir e que tenha carteira de motorista – ressalto, olhando para Cecília que me encara com um sorriso. – O que foi? – pergunto.

- Você – ela ri.

- O que tem eu? – pergunto, colocando a mão no rosto para ver se foi desenhado um pênis com batom na minha testa ou se apenas passaram pasta de dente nas minhas bochechas.

- Você se aconchega sempre na sua zona de conforto, mas quando quer, se empolga.

- Ah – dou os ombros – Costumo fazer isso por cantores famosos de um metro e oitenta.

Rindo, ela se levanta e caminha até mim.

- Ótimo, temos dois dias. Quinta-feira acontece o show durante a tarde e a gravação da entrevista – explica olhando as informações na tela do seu celular – A gente só precisa de dois ingressos para o show e uma caravana pra gravação do programa que por sorte vai acontecer aqui em São Paulo – droga. Tinha me esquecido dessas burocracias.

- Não vamos conseguir entrar – abaixo os ombros e sinto uma onda de frustração.

Cecília não fala nada, ignorando-me completamente pra dar atenção ao seu celular. Espero quando ela leva o celular à orelha.

- Gutinho, querido – ela diz, forçando uma voz mais simpática do que o normal – Ainda tá na Satevê? – ela pergunta, enrolando o cabelo loiro na ponta dos dedos. Ela é a típica garota Tumblr: usa roupas de unicórnio, amarra o cabelo num coque bagunçado, usa jardineiras, calças curtas listradas, tênis de salto alto e toma Starbucks na Paulista em dias de domingo. – Vai rolar a entrevista com o Matthew Parker aí na quinta-feira, né? – uma pausa – Queria ver contigo se tem como arrumar uma caravana pra eu ir com o Tobias – ela espera – Eu sei que você consegue. Você sempre dá um jeitinho. – ela sorri – Na sua casa, hoje à noite – ela pisca o olhinho, como se ele pudesse ver, e desliga o telefone.

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⏰ Última atualização: Jan 23, 2019 ⏰

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