Prólogo

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Ele está de volta. Mamãe está dormindo ou ela está doente de novo. Eu me escondo e me enrolo debaixo da pequena mesa na cozinha. Através
dos meus dedos eu posso ver a mamãe. Ela está dormindo no sofá. Sua mão está sobre o tapete verde pegajoso, ele está usando suas botas grandes com fivelas brilhantes e está pé perto da mamãe, gritando com ela. Ele bate na mamãe com um cinto. Levante-se! Levante-se! Você é uma puta
fodida. Você é uma puta fodida. Você é uma puta fodida. Você é uma puta fodida. Você é uma puta fodida. Você é uma puta fodida. Mamãe faz um barulho soluçando. Pare. Por favor, pare. Mamãe não grita.
Mamãe encolhe-se em pequena bola.
Eu ponho os meus dedos nos ouvidos, eu fecho os meus olhos. O som para. Ele se vira e eu posso ver as botas, enquanto ele pisa na cozinha. Ele ainda tem o cinto na mão. Ele está tentando me encontrar. Ele se inclina e sorri. Ele tem um cheiro desagradável. De cigarros e
bebidas. Aí está você, seu merdinha. Um grito arrepiante o acorda. Cristo! Ele está encharcado de suor e seu
coração está batendo forte. Que porra foi essa? Ele se senta ereto na cama e coloca a cabeça entre as mãos. Porra. Eles estão de volta. O barulho era meu. Ele respira fundo para se estabilizar, tentando livrar sua mente e narinas do cheiro de bourbon barato e cigarros Camel velhos.
Tenho sobrevivido durante três dias sem Christian, e é meu primeiro dia de
trabalho. Tem sido uma boa distração. O tempo voou por entre uma névoa de caras novas, trabalho a fazer e Sr. Jack Hyde. Sr. Jack Hyde... ele sorri para mim, com seus olhos azuis cintilantes, enquanto ele se inclina contra a minha mesa. — Excelente trabalho, Ana. Eu acho que nós vamos fazer uma grande
equipe. De alguma forma, eu consegui erguer a cabeça para curvar meus lábios em
um semblante de um sorriso. — Eu estou indo para casa, se estiver tudo bem com você, — eu murmuro. — Claro, é cinco e meia. Vejo você amanhã. — Boa noite, Jack. — Boa noite, Ana. Pegando a minha bolsa, eu encolho os ombros no meu casaco e saio. Para o
ar do início da noite em Seattle, eu respiro fundo. Ele não consegue preencher o vazio no meu peito, um vazio que está presente desde sábado de manhã, uma lembrança dolorosa e oca, da minha perda. Eu ando em direção ao ponto de ônibus com a cabeça baixa, olhando para meus pés, meio triste por estar sem minha amada Wanda, meu velho Fusca... ou o Audi. Eu fecho imediatamente a porta desse pensamento. Não. Não posso pensar
nele. Claro, eu posso comprar um carro, um carro novo, agradável. Eu suspeito que ele foi demasiado generoso em seu pagamento, e o pensamento me deixa com um gosto amargo na boca, mas eu o rejeitei e devo manter a minha mente fechada e o mais vazia possível. Eu não posso pensar nele. Eu não quero começar a chorar de novo, não na rua. O apartamento está vazio. Tenho saudades de Kate, e eu a imagino deitada
em uma praia em Barbados, bebericando um coquetel gelado. Ligo a televisão de tela plana, mais para ter algum ruído do que para preencher o vácuo e proporcionar uma aparência de companhia, mas eu não ouço ou assisto. Eu sentoe olho fixamente para a parede de tijolos. Estou dormente. Eu não sinto nada, apenas dor. Quanto tempo eu vou suportar isso? A campainha da porta me tira da minha angústia e meu coração salta uma batida. Quem poderia ser? Eu aperto o interfone. —Entrega para a Sra. Steele. — Uma voz cansada e entediada responde, e a
decepção me atravessa. Eu desço as escadas com indiferença, para encontrar um jovem mascando chiclete ruidosamente, segurando uma caixa de papelão grande, e inclinando-se contra a porta da frente. Eu assino o recebimento do pacote e o levo para cima, comigo. A caixa é enorme e surpreendentemente leve. Dentro estão duas dúzias de rosas brancas com haste longa, e um cartão.
Parabéns pelo seu primeiro dia de trabalho. Espero que tudo tenha ocorrido bem. E obrigado pelo planador. Isso foi muito atencioso. Eu o tenho com orgulho sobre a minha mesa.

Christian

Olho para o cartão digitado, e o buraco no meu peito se expande. Sem
dúvida, sua assistente enviou esta mensagem. Christian, provavelmente, tem muito pouco a ver com isso. É doloroso demais só de pensar. Examino as rosas, elas são lindas, e eu não posso jogá-las no lixo. Obedientemente, eu vou para a cozinha, para procurar um vaso.

50 tons mais escurosOnde histórias criam vida. Descubra agora