XLIX

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Acordo com uma música tocando de algum celular.

Murmuro algo incompreensível e tateio embaixo do travesseiro, pegando o meu.

Babi — Não é o meu celular...

Guardo o aparelho de volta e olho pro lado. Henrique ainda está dormindo, e o som vem do celular dele, em cima do criado-mudo.
Me levanto, bufando de irritação, e caminho até lá. Quando estou prestes a tacar o celular no chão, uma mão segura meu pulso.

Henrique: — Tá maluca!?
— Toma o celular da minha mão e vira de costas.
Henrique: — Alô?

Babi — Na próxima, eu jogo essa bagaça no dono!

Entro no banheiro pisando forte, faço minha higiene e tomo um banho frio pra tentar acordar de vez.
Quando saio, de roupão, ele ainda está no celular, encostado na porta, parecendo aflito.

Henrique — O que foi, meu amor?... E o que você tá sentindo?

A voz dele tá mansa. Estranho. Fofo, mas estranho.

Babi — É melhor eu me trocar...

Pego uma saia preta curta e uma blusa branca cheia de mini ursinhos. Me visto e sento na cama, calçando as botas.

Henrique — Fica tranquila, pequena, logo eu chego aí... Tá bem. Beijos. Tchau.

Ele desliga e eu continuo o encarando. Ele percebe.

Henrique — O que foi? Vai ficar me olhando mesmo?

Babi: — Quem disse que tô olhando pra você?

Desvio o olhar. Ele caminha até o banheiro.

Henrique: — Seus olhos disseram.

Ele fecha a porta. Eu rio. Me aproximo e escuto o chuveiro ligado.

Babi: — E como sabe? Tem olhos atrás da cabeça agora?

Me encosto na porta e deslizo até sentar no chão. Cruzo as pernas e ajeito a saia.

Henrique: — Acabou de admitir...

Ele ri e eu deixo escapar uma risada também.

Babi: — Admiti nada, garoto!

O silêncio cai por uns segundos, até ele perguntar:

Henrique: — Quem era aquele cara que tava com você?

Franzo o cenho.

Babi: — Que cara?

Henrique: — Aquele... o que tava com outra garota quando você voltou pro internato.

Ah, o Cristian.

Babi: — O Cristian. Ele é só um amigo. Por quê?

Henrique: — Nada...
— Faz uma pausa.
Henrique: — Sabe o que eu percebi?

O chuveiro desliga. A porta se abre e eu caio de costas, bem nos pés dele. Fecho os olhos rapidamente ao ver a toalha. Ele ri e sai andando, sem me ajudar.

Henrique: — A gente tá conversando... sem brigar.

Me levanto meio desajeitada e arrumo o cabelo.

Babi: — Não por muito tempo. Tô indo embora!

Pego o celular, mas ele me puxa de novo. Bato de frente com o peito dele — ainda molhado.

Henrique: — Espera. No sábado, você vai ter que ir comigo pra minha casa.

Babi: — Me solta!
— Ele solta.
Babi: — E por quê? Eu não vou passar dois dias no mesmo teto que você de novo, idiota!

Henrique: — Não é porque eu quero, sua doida. Minha irmã tá mal e pediu pra te ver.

Babi: — Manda uma foto minha e resolve isso!

Henrique: — Se fosse só isso, nem falava com você!

Babi: — O que ela tem?

Henrique: — Não sei. Vai ou não?

Bufo, revirando os olhos. Ele cruza os braços, esperando.

Babi: — Tá bom, eu vou.

Vou sair, mas ele me puxa de novo.

Henrique: — E você vai pro acampamento?

Respiro fundo, três vezes.

Babi: — Tá curioso por quê?

Henrique: — É que... sei lá. Você tá ferrada nas matérias. Queria saber como pretende ir.
— Sorri, convencido.

Babi: — Pode deixar que dos meus problemas cuido eu.

Saio do quarto e vou direto pra cantina. Já tá cheia. Vejo as "cobras" — o grupinho da minha irmã — do outro lado. Tcheucy me encara, mas desvia logo o olhar.

Fellipe: — ESTAMOS AQUI, BABI!

Todo mundo olha. Que vergonha. Eu nem conheço essa gente.

Carol: — Olha só quem apareceu...

Uma bola de futebol vem na minha direção e eu a seguro com o pé.

Nicolas: — Foi mal, Bárbara!

Ele pega a bola e sai andando. Vou até meus amigos e me sento entre as gêmeas.

Babi: — Parece que o povo acordou agitado...

Kaio: — Todo mundo ansioso pro acampamento.

Babi: — Ahh, tá...

Olho ao redor, procurando aquela ruiva... nada.

Nicy: — Procurando alguém, Babi?

Babi: — Eu? Não! Só vendo se chegou novato.

Jimin: — Se tivesse, eu já saberia. Cadê o Henrique?

Babi: — Sei lá...
— Me levanto.
Babi: — Tenho que ir ali. A gente se vê depois. E, se não for pedir demais... compra um lanche pra mim?

Fellipe: — Vai lá, ratinha! A gente compra!

Mostro a língua pra ele e saio em direção à sala da professora de história.
Passo por uma porta e escuto uma voz melosa:

Jheny: — O que foi, Nicolas? Não gosta de mim?

Dou dois passos pra trás e paro na porta.

Nicolas: — Não é isso... Mas eu não costumo ficar com professoras.

Abro a porta de supetão. Os dois se afastam assustados.

Babi: — Desculpa... não queria interromper.

Do Ódio Para O Amor ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora