Um olhar sociológico

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Victor de Aveyron tornou-se um dos casos mais conhecidos de seres humanos criados livres em ambiente selvagem.

Médicos franceses, como Jean Étienne Esquirol (1772-1840) e Philippe Pinel (1745-1826), afirmavam que o menino selvagem sofria de idiotia, uma deficiência mental grave. Segundo eles, teria sido essa a razão pela qual os pais o haviam abandonado.

O psiquiatra Jean-Marie Gaspard Itard, diretor de um instituto de surdos-mudos, não compartilhava da opinião dos colegas. Quais as consequência, perguntava ele, da privação do convívio social e da ausência absoluta de educação para a inteligência de um adolescente que viveu assim, separado de indivíduos de sua espécie?

Itard acreditava que a situação de abandono e afastamento da civilização explicava o comportamento diferente do menino. Discordava, assim, do diagnóstico de deficiência mental para o caso.

No livro A educação de um homem selvagem, publicado em 1801, Itard apresenta seu trabalho com o menino selvagem de Aveyron, descrevendo as etapas de sua educação: ele já é capaz de sentar-se convenientemente à mesa, tirar a água necessária para beber, levar ao seu terapeuta as coisas de que necessita; diverte-se ao empurrar um pequeno carrinho e começa também a ler.

Cinco anos mais tarde, Victor já fabricava pequenos objetos e podava as plantas da casa. Com base nesses resultados, Itard reforçou sua tese de que os hábitos selvagens iniciais do menino e sua aparente deficiência mental eram apenas e tão-somente resultado de uma vida afastada de seus semelhantes e da civilização.

A partir de sua experiência com o menino, Itard formulou a hipótese de que a maior parte das deficiências intelectuais e sociais não é inata, mas tem sua origem na falta de socialização do indivíduo considerado deficiente, na falta de comunicação com seus semelhantes, especialmente de comunicação verbal. Aproximando-se de uma visão sociológica, o pesquisador concluiu que o isolamento social prejudica a sociabilidade do indivíduo. Ora, a sociabilidade é o que torna possível a vida em sociedade.

O caso do menino selvagem de Aveyron mostra que o ser humano é um animal social por excelência, como afirmava o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.). Sua vida só adquire sentido na relação com outros seres humanos.

O "menino selvagem" de AveyronOnde histórias criam vida. Descubra agora