Coração de menino.

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GLOSSÁRIO.

Aesir - Maneira de se referir e diferenciar os deuses nórdicos que vivem em Asgard dos que vivem em Vanaheim (Vanir)

Hel - Abreviação de Helheim, reino dos mortos. Só vão para esse local criminosos e pessoas que morreram de doenças, velhice e etc. (pessoas que morrem sem honra)

Jörmungandr - Também conhecida como a Serpente do mundo. É um gigante em forma de cobra que quando pequeno foi jogado no mar de Midgard, cresceu tanto que deu a volta ao mundo e mordeu a própria cauda. Tem uma rixa com Thor, mas é uma longa história.

Midgard - De uma maneira resumida é a terra.

Pai de todos - Jeito de se referir a Odin.

Valhalla - Salão situado em Asgard. Local para onde os grandes guerreiros que morrem em batalha vão para esperar pelo ragnarok (fim dos tempos) junto de Odin e seu exército. Significa literalmente salão dos mortos.

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Me lembro bem daquele fatídico dia. O dia em que a vi pela primeira e última vez à sete longos invernos atrás, o dia no qual meu coração foi marcado naquele vasto campo de batalha. Tamanho fora meu espanto ao vê-la guiando os homens para a luz, por um instante toda a lamuria que restou desta batalha deixou de existir e somente a imagem de um par de asas negras trazendo o calor me tomou os sentidos.

Me recordo também da sensação da neve fria caindo e se acumulando sobre minha velha armadura gasta, junto do sangue que escorria feito água dos ferimentos, no entanto com ela ali em toda sua magnitude eu não sentia dor, apenas o inenarrável desejo de segui-la por todos os nove reinos.

Nem Mimir, o homem mais inteligente vivo, saberia a resposta para tal atração ou o porquê ela decidiu caminhar até mim logo depois de levar meu pai até uma de suas irmãs. Em toda aquela rebeldia de garoto eu, jovem e tolo, ignorei todos os conselhos do meu tão amado pai e deixei a raiva controlar meus atos, agindo de acordo sem lógica. Paguei caro por aquilo, mas espero que sua alma tenha descansado nos salões de Valhalla ao lado dos poderosos Aesir.

Sempre sonhei em partir como um nobre guerreiro, deixar um legado, ser voz do medo para meus inimigos, honrando os ensinamentos os quais me foram passados durante minha reles existência — Eram os sonhos de um pequeno garoto que possuía o terrível medo de crescer e ver a crueldade do mundo. — muito embora tudo o que meus pais me ensinaram desapareceu e o nobre guerreiro deu lugar a um menino imaturo com um machado afiado em mãos.

São memórias de um passado distante, mas vívido e perdurável em meu ser. Ainda me lembro de quando ela se aproximara, queimando-me de dentro para fora, não de uma forma dolorosa, mas sim revigorante; com apenas um toque de suas mãos sobre meu rosto eu fui puxado da escuridão, em meio a uma singela carícia eu me vi inebriado em sua luz.

Apesar de sua presença eu sabia que ela não me levaria consigo, não depois do que desencadeei. — Por sua causa Seungcheol seus companheiros estão mortos — naquela circunstância eu esperei minha sentença, com receio de me desprender de seu calor e acordar com os ventos gélidos de Hel me tomando o ar. Logo tudo o que recebi foi um sorriso, tão verdadeiro que me peguei encantado sem conseguir expressar outra reação à não ser respirar com dificuldade e orar para que o Pai de todos me ajude.

Então, imagine só minha reação ao vê-la fechar as asas e se abaixar ao meu lado, pegando meu machado e devolvendo-o para minhas mãos trêmulas e gélidas. Tudo ficou turvo depois daquilo, contudo sua voz, tão firme e calma ao mesmo tempo, não parou de se repetir em meus pensamentos.

"Fique vivo Seungcheol. Midgard sempre precisará de grandes guerreiros que sabem que erraram."

Acordei na manhã seguinte com a chuva fina me acariciando o rosto. Cambaleante eu me ergui, com o machado em mãos e uma marca no coração; órgão este que foi posto de volta à escuridão, sem a valquíria de asas negras para iluminar meu caminho. Não carreguei nada além das lembranças e uma pena tão escura quanto a noite, em suma, eu tentei me recompor e fiz meu caminho para casa.

Foi graças à ela que me tornei o que sou hoje, um homem que não teme a morte, Ansiando pelo dia em que a verei novamente. Por isso, fui obrigado a amadurecer e focar no que importa, esquecendo as besteiras de um menino sonhador. Em nome do meu pai eu luto para honra-lo à todo custo, na esperança de, um dia, me redimir pelos meus erros e quem sabe eu possa revê-lo.

Então, depois de todos esses anos eu estava de volta às antigas ruínas, ouvindo novamente os ruídos de uma guerra difícil, que infelizmente nunca teve ou terá um fim, quer eu esteja ali para acertar ou errar com meus companheiros. Assim como a rixa entre Thor e a gigantesca Serpente do mundo, Jörmungandr, nunca acabará até chegar o fim dos tempos.

Sendo assim, não pude conter minha felicidade ao recobrar os sentidos e sentir aquela sensação tão desconhecida se alastrar por mim novamente. Ao vê-la se abaixar na minha frente com a armadura perfeita brilhando abaixo do luar solitário, apenas retiro o adereço que carreguei em meu machado por tanto tempo e a entrego depois de recuperar o fôlego que me resta.

O cabelo longo e escuro cai pelos seus ombros quando ela retira o elmo e pega a pena negra em mãos. Seus olhos se voltam para mim e todo o frio desaparece por completo. Com um sorriso ela se ergue, o elmo em uma mão e a outra estendida em minha direção — Não seria louco de recusar, nunca teria força suficiente para lutar contra ela.

Deixo que ela me guie para o meu destino. Com a arma em punho e o coração de menino, eu andarei ao seu lado nesse caminho árduo.

Esperando um dia lutar junto dela eu aguardarei, afinal não me resta alternativa depois da bela valquíria iluminar minha vida sombria.


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Não sei se vocês sabem, mas as valquírias são responsáveis por levar os homens até Valhalla, ou seja, nosso querido Seungcheol morreu nessa batalha aí.

Não sei o porquê tive vontade de fazer esse one shot, mas eu passei algum tempo sem escrever e a ideia surgiu depois de passar muito tempo da minha vida jogando o novo God of War e ver o debut do ONEUS (views em valkyrie!) e eu queria escrever algo com o Seungcheol.

Espero que tenham gostado, porque de normal isso não teve nada.

Espero que tenham gostado, porque de normal isso não teve nada

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Obrigada por ler.

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