Parte I

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A expressão de Heitor mostrava preocupação enquanto ele observava Jade concentrada em seu trabalho.

— Não vai almoçar? – Ele quebra o silêncio, tentando chamar a atenção dela.

Jade tira os olhos do papel que lia totalmente compenetrada e abre um meio sorriso para seu colega.

— Claro, Heitor... só... daqui a pouco.

Como resposta, ele arqueia a sobrancelha ao mesmo tempo que exibe o relógio no pulso e batuca os dedos no vidro de proteção do objeto.

— Ultimamente você está almoçando muito tarde, não acha? 

— Não acho. — Ela responde com tranquilidade.

— Tudo isso é pra ficar longe de mim?

Ela suspende a sobrancelha esquerda enquanto captura um sorriso provocativo nos lábios dele.

— Quem sabe. — Ela responde em tom de brincadeira.

— Faça uma pausa de vez em quando, tá legal? Falo sério dessa vez. 

Os horários de Jade variavam de acordo com a sua concentração. Se não conseguia terminar a tarefa no prazo estipulado por ela mesma, se cobrava para deixá-la na fase de revisão. Mas, sua saúde podia ficar comprometida, o que a fazia ser constantemente alertada por seu colega.

Jade não o respondeu imediatamente, seu olhar ficou fixo na porta entreaberta, por onde ele havia saído.

Seus olhos se voltaram para os papéis à sua frente; as letras pareciam começar a embaralhar suas vistas, sinal de que era hora de parar. Era como sua mãe sempre dizia: "Esteja sempre em movimento, mas sempre pare quando for necessário."

 A extensão daquele significado martelava em sua mente em momentos de sobrecarga emocional.

Ela também sabia o motivo daquele estresse todo. O caso em que era responsável se assemelhava muito à uma tragédia familiar de alguns anos atrás. Se ela deixasse aquilo afetá-la diretamente, também poderiam retirar o caso dela, alegando interferência emocional pessoal ou algo do tipo. Sua carreira proeminente não podia ser destruída por conta disso.

Mesmo com as lembranças vívidas, ela precisava seguir em frente; foi uma promessa consigo mesma diante do túmulo deles. Respirando fundo, os ponteiros do relógio começaram a incomodá-la. De repente, ela agrupou as folhas novamente, colocou dentro do envelope e empurrou a cadeira para trás.

Passou a mão entre os cabelos em um ato de frustração e marchou em direção à porta. Por um breve momento, olhou para os próprios pés, calçados pelo salto fino, cuja ponta denunciava o som de cada passo conforme colidia contra o piso de mármore. Andar com aquele tipo de calçado não era de seu feitio.

Preferia mocassim ou um salto curto e espesso; usava aquele salto naquele dia por ter acordado tarde e, obviamente, seu scarpin combinava com qualquer roupa do closet. Seu alívio era o relógio que avançava as horas, quase final de seu expediente. Ainda precisava fazer compras e jantar mais tarde com seus amigos, conforme havia prometido.

Antes de erguer os olhos do chão, Jade antecipou seus movimentos ao virar o corredor. Contudo, não percebeu o obstáculo à frente, o que resultou em um choque que sentiu alastrar por todo o seu corpo, contorcendo seu rosto em uma careta de dor. Sua testa encontrou uma superfície dura, semelhante um pedaço de concreto.

— Ai. — Resmungou em um sussurro, massageando a testa antes de erguer o olhar.

— Desculpe, senhorita. — A voz do estranho se aproximou, acompanhada por uma fragrância marcante que a fez levantar um pouco a cabeça e olhá-lo nitidamente. — Se machucou?

Em sua memória [Versão Nova]Onde histórias criam vida. Descubra agora