Olhava o céu estrelado com uma grande satisfação. Essa seria a noite em que ele colocaria em pratica o plano que construiu há tantos anos. A noite que daria inicio ao seu legado de poder. A noite que lhe permitiria ser mais forte que os deuses.
Acelerou seus passos, cortando floresta adentro. Tinha pressa em chegar ao templo Huaka, para que o seu trabalho fosse feito sem que notassem sua ausência. Não se podia prever quando seria necessária a sua presença.
Atravessando as densas arvores da floresta, ele permitiu-se transformar – coisa rara de se acontecer. Dessa forma se passaria por um animal comum, numa floresta qualquer. E o que faria estava longe de ser algo tão simples. A pequena raposa apressou-se em correr, aproveitando a brisa que a noite empurrava sobre si. Contudo era apenas isso que que a natureza fazia por ela, como se estivesse sussurrando para que o animal desistisse de seus planos egoístas. Mas insistência era sua marca registrada.
O negro da floresta apenas o incentivava a prosseguir como plano. Observou a fachada do templo, com os grandes animais totem empalhados, formando duas colunas à frente do templo, e sentiu a raiva e o ciúme por seu animar não estar ali representado. Ainda em sua forma transmutada, cruzou a porta de entrada, que se erguia como um grande portal aberto e ovalado. Era belo sim, mas não se comparava com a pequena floresta sagrada que o local escondia.
Caminhou lentamente pelo interior do templo, admirando a construção. Mesmo com o passar dos anos, não cansava de imaginar como seria ter aquele pequeno pedaço de relva sendo consagrado apenas pra si. Observava o centro do santuário, onde estava o artefato mais precioso, cercado por uma vegetação espessa que remetia a uma versão menor da floresta ao lado de fora. Fechou os olhos pra ouvir o som que vinha da pequena fonte em um canto do grande templo.
O santuário foi construído com a intenção de juntar os domínios dos deuses de uma única forma. Num único espaço. Nada melhor do que uma floresta par conseguir tal feito. Observou o pedaço de campo aberto, a pedra para sacrifícios, as estatuas e totens para adoração a Killa, ao lado do altar de Allupa, assim como as estatuas e totens que decoravam e santificavam toda a extensão do templo.
Seus olhos pousaram na pilastra curta no centro do templo, onde o pedestal de pedra abrigava a pira de adoração. Lá estava o seu objetivo. Uma figura tão pequena, mas que possuía um poder imensurável. Kintui. Viera pessoalmente o buscar, e sabia que não havia ninguém para impedir.
Com uma delicadeza que não condizia com sua personalidade, colocou o artefato dentro do saco que trouxe pendurado às costas, sentindo-se embriagado com o aroma exalado pela flor. Era maravilhoso, e trazia uma sensação de harmonia e paz que apenas a magia dos deuses poderia conter. Sorriu de lado. Essa magia seria sua agora.
Com a elegância característica das raposas, caminhou de volta pra casa feliz por ter completado a primeira fase do seu plano com perfeição. O que não imaginava, era ter dois deuses observando a cena, enxergando os desejos mais obscuros do seu coração. Dois deuses que se divertiriam muito com a ambição humana. E essa brincadeira entre os deuses desencadearia a revolta da natureza, que abriga seus filhos com zelo. Até finalmente as divindades sentirem-se enfurecidas e punirem os homens por tal crime.
A natureza sabia que os deuses eram mimados e egocêntricos. Mas também sabia o quão grande podia ser a cólera divina. Ela temia as guerras que estariam por vir. Temia a ira dos deuses descontadas em si, com cataclismos e secas. Temia pela vida dos homens.
O artefato que ligava a terra aos deuses foi roubado. E agora os três reinos podem entrar em desordem, como há muito não acontecia. Sem o Deus Negro para amenizar a situação, os animais temiam a morte. Assim como temia a vida.
As arvores sabiam que a solução seria devolver Kintui ao templo. Sabiam também que isso não seria possível caso ele não despertasse seus poderes. E até que isso aconteça, as florestas chorariam pelos filhos inocentes, que seriam tirados de si por uma raposa traiçoeira.
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WANI
FantasyWani acredita ser amaldiçoado pelos deuses. Ele não é o único a pensar desta maneira, uma vez que a sua própria tribo o expulsou. Depois de alguns sonhos, acaba descobrindo que Kintui, um objeto místico confeccionado pelas entidades e responsável po...