A Sincronia Do Nosso Olhar

Capítulo 7

Alexia narrando
 
  Nunca fui de acreditar em sorte ou destino, mas esses dias tenho uma nova crença. Azar.
 
  Existem mais de 7 escolas na região, 1000 alunos na minha escola, inúmeras classes de literatura e mais de 30 pessoas na sala. A probabilidade de cair com o bom samaritano, que agora é Callum Allen, seriam quase nulas e aqui estanos nós.
 
   Ele é de fato um menino calmo e bem bonito, porém algo nele me irrita, uma coisa me faz querer provoca-lo. Talvez eu queira testar até onde vai a sua paciência ou talvez ele só seja uma pessoa horrível e meu interior esteja me avisando isso. Aposto que um serial killer se enquadraria no perfil dele,  pode ser que ele seja um agente duplo que quer desvendar segredos para depois usar  tudo contra a gente ou ele pode ser um cafetão que vai querer me sequestrar. Olha a Suzana Mason e a Caroline Madson  são as gatas da escola leve elas, ele não pode ler meus pensamentos.
 
   Para evitar riscos é melhor fazer o trabalho na minha casa, na verdade um F em literatura não vai alterar muito o meu histórico. O que eu to pensando?

  Calma Alexia isso é apenas uma coincidência ou você está sendo punida por ser tão teimosa, só respira, lembre-se que é só um trabalho e que ele ainda é o bom samaritano que você quer irritar.

  Vejo ele se aproximando sem jeito e olhando para os seus pés, geralmente sou bem no meu mundo, mas ele mostra ser inseguro, o que me leva a questionar o motivo. Muitos de nós sofremos com autoestima, eu sou um exemplo disso já que em alguns dias eu acabo me detestando, porém isso nunca me fez transparecer fragilidade e ele parece que pode desmoronar a qualquer momento.
 
  Conversamos um pouco sobre onde iremos decidir as coisas do trabalho, vamos dizer que sou um pouco teimosa e discordava da maior parte das ideias dele. A culpa não é minha se ele sugeria ideias que todos pensariam igual, na verdade to tendo bastante progresso em irritar ele, até o final da semana ele explode comigo.

  Cheguei a algumas conclusões depois da nossa conversa, Collum Allen é tímido, não gosta de mim (isso tem bastante coerência já que sempre estou o contrariando), ele é estrangeiro e tem um excelente shampoo. Essa última parte é o que mais importa, porque tem cheiro de rosas e eu senti quando ele se aproximou.

  Hoje a tarde ele passará na livraria e escolheremos o livro do projeto . A professora propôs que escolhessemos um livro e fizéssemos uma resenha crítica. O fato de ser em dupla tem haver com o intuito da escola de unir os alunos e promover a exclusão dos grupos que são formados, eu dormi nessa parte, mas no geral é isso.

  Quando somos liberados, almoço e vou para o meu trabalho, arrumo alguns livros enquanto espero a minha dupla para começarmos de fato o trabalho.
 
  A movimentação diminui e aproveito para ler um pouco, já que tenho tempo, me distraio tanto que nem percebi o momento que Callum chega.

  Me viro e percebo ele me olhando, eu ia falar algo sobre ele ficar igual uma estátua e sobre  como isso é desconfortável. Porém as palavras não vinham na minha mente.

  O que eu vou falar pode parecer besteira, já que nem eu acreditava nisso. Os clichês podem existir, sempre julguei as pessoas que achavam que se comunicavam com outras pelo olhar, só que naquele momento foi diferente. Senti como se o mundo tivesse parado, como se não existissem problemas e pela primeira vez desde que a minha mãe partiu, me permiti abaixar a guarda. Não é como se eu tivesse apaixonada por ele, porque isso de fato não aconteceu, mas algo me tocou, como se houvesse uma sincronia entre nós.

  Sou liberta do meu transe quando ele começa a falar dos livros que andou pensando, bom acabei chegando a mais uma característica do meu manual obscuro para usar contra Callum Allen, ele realmente não tem nada para fazer. Levar a escola a sério é importante, agora no período de poucas horas listar 30 livros para um trabalho em que duas pessoas devem decidir, é perda de tempo.

  Decidimos fazer sobre o livro de Stephen Howking, Uma breve história do tempo, ficamos a tarde toda lendo e anotando pontos importantes e quando me dou conta está na hora de fechar a livraria.

  Alexia: acho que está na hora de irmos.- falei enquanto conferia que já era 18:30.

Callum: Você tem razão, acabamos perdendo a noção do tempo.

Alexia: é, ainda podemos terminar o trabalho, só preciso fechar tudo aqui, mas a praia fica perto. Se não se importar.

Callum: eu posso te ajudar a fechar ou prefere que eu te espere lá fora?

  Alexia: pode ir indo lá para fora.

Aproveito para fechar toda a loja, pego minhas coisas e  uma cópia do livro. Ao chegar na rua sinto o vento vindo contra a minha pele, é um clima agradável. Vamos o caminho todo em silêncio e por incrível que pareça é uma sensação agradável.

Sentamos na areia e quando ia abrir na página em que parei, ele interrompe.

Callum: verdadeiro ou falso. - fala olhando para mim, como se estivesse com medo de continuar, então apenas o observo assinto incentivando- o a prosseguir. Assim ele faz.- você não gosta de mim.

Alexia: falso.- naquele momento nem sei o porque de ter dito isso, mas de fato eu não tinha nada contra ele. Inicialmente ele me irritava, só que hoje depois de passarmos a tarde na livraria, achava a presença dele agradável.- verdadeiro ou falso, não teve uma primeira boa impressão de mim.

Callum: verdadeiro.-diz sorrindo e mostrando suas covinhas, sorri com a resposta, afinal ninguém costuma gostar de mim inicialmente e isso pode não mudar no decorrer do tempo. - verdadeiro ou falso, você ainda tem raiva pelo café.

  Alexia: totalmente verdadeiro, era minha blusa preferida. Na real era um conjunto.- falo sorrindo e ele me acompanha.- verdadeiro ou falso, você não vai muito com a minha cara.

Callum: falso, você parece despertar algo ruim em mim, o que me intriga, mas percebi que gostei da sua companhia. -naquele momento eu apenas virei e observei o mar.

  Eu amava aquele momento, de alguma forma me trazia paz e eu nunca tinha paz com ninguém. Mas isso mudou quando conheci Callum Allen, na verdade quando olho para ele tenho a impressão que toda a  minha vida vai mudar daqui para frente.

  Seguimos o resto da noite conversando sobre coisas aleatórias, descobri um pouco mais sobre ele. Vou listar aqui:
1- Ele é um imigrante brasileiro
2- Ele é muito anti-social
3- As piadas dele são terríveis, mas você acaba rindo de tão ruins que são.
4- Ele odeia o meu gosto musical.
5- Ele é muito paciente e morre de medo de aranha, o que me fez rir por horas.
6- Apesar dele não ser namorador, sabe muito mais que eu quando o assunto é flertar. Antes que achem que estávamos dando em cima um do outro, só compartilhamos nossas experiências amorosas.
7- A mais importante, ele não é um serial killer, ainda não posso afirmar 100%, mas essa ideia tá um pouco de lado agora.

  Volto para casa 00:00, consigo chegar sem meu pai perceber e percebo que hoje foi o melhor dia da minha vida, então fecho os olhos e só consigo repetir uma coisa no meu pensamento.

Obrigada Callum Allen.