A dash, a dot.

"Tudo bem por enquanto..."

Sirena Durand, era uma estudante de jornalismo, morava no Recife e estava em seu último período. Enquanto em um turno estudava, no outro trabalhava como estagiária numa revista de arte, chamada "Contemporânea", mas ninguém nunca confia muito em estagiários, então seu único trabalho era servir cafezinho. Bem, esse não era seu sonho de criança, na verdade ela queria ser uma grande colunista, mas o que ela recebia era o suficiente para comprar comida, ração para a sua gata Gigi, e tomar uns drinks nas noites de sexta feira.

- Durand, vá até a recepção, lá embaixo, e pergunte à Marta se eu deixei minhas chaves no balcão, e se ela guardou. Ah! Aproveita e me traz um duplo forte e amargo da cafeteria em frente. - Diz o gerente.

- Aproveitando, me traz um descafeinado mediano. - Fala a recém promovida do andar de baixo.

- Pra mim um cappuccino com chantilly. - É dito pelo cara do design, que senta ao lado da janela.

- Me traz um frappuccino de caramelo. - Fala o secretário de finanças, de dentro da sala.

E todo dia era a mesma coisa, sempre seguindo ordens, para ganhar uma mixaria, ela pensava em denunciar a revista por escravidão, mas isso a deixaria desempregada.

Seu TCC da faculdade era criar um livro-reportagem com a biografia de algum Serial Killer, de caso já resolvido, e isso era bom porque ela queria fazer um concurso de perito criminal, mas era um trabalho muito duro.

Ela era natural do interior, mas residente da capital, onde trabalhava e fazia faculdade. Toda sua família vivia no interior, e ela estava independente, sozinha na cidade grande, com seus 23 anos nas costas, e alguns sonhos bobos, que ela sabia que nunca iria realizar, mas ainda assim os tinha escritos na porta do seu guarda-roupas.

Era sexta feira, ela dormiu as duas primeiras aulas na faculdade, almoçou no restaurante universitário, e foi direto para a revista. Chegando lá, já atrasada, teve o mesmo dia chato de sempre, e na saída, foi direto para um bar.

Estava sozinha, no típico bar que ficava na frente do seu prédio, que estava quase sempre vazio, no qual o letreiro iluminava a janela do seu quarto, e o MPB que tocava ao vivo, todas as sextas feiras, servia de sua canção de ninar. O que ela estava fazendo ali ainda? Já eram 23:00, o bar só fechava até o último cliente sair. Ela estava sentada numa mesa sozinha, já havia tomado incontáveis doses de whisky, bêbada, com um cigarro na mão. Até que seu coração acelera, e ela cai desacordada com o rosto na mesa. Ela quando criança, tinha alguns problemas cardíacos, mas ela pensava já estar melhor. Bem, talvez ela devesse beber menos, não fumar, fazer alguma atividade física, trocar sua moto por uma pedalada às vezes, mas quem disse que ela se importava? Poderia morrer, e não faria diferença. Então foda-se, de que adiantava cuidar da saúde, pra viver por muito tempo, uma vida triste, monótona e vazia?

-Ei, moça. Moça? – Disse um adolescente magricela, usando farrapos, tendo o rosto sujo, enquanto a sacudia levemente. Devia ter por volta dos seus 13 anos.

-Hum? – Respondeu, acordando desorientada de seu desmaio seguido de cochilo, e atendendo ao garoto.

-A dona poderia me pagar um lanche? Qualquer coisinha serve. – Disse o garoto com a cabeça baixa.

-Claro, sente-se aí e peça o que quiser. – Disse, olhando a carteira: R$20,00. Por sorte ela era cliente fiel daquele bar, e o dono sempre deixava que ela comprasse pendente, pois já tinha uma conta pendurada.

O garoto pediu um misto quente grande, de queijo e presunto, comeu a metade e guardou o resto no bolso do agasalho fino. Ela pensou que ele fosse levar para alguém, ou que fosse sua refeição principal do dia seguinte, mas não pensou muito nisso. Ele também tomou um copo grande de achocolatado, agradeceu e saiu. Na saída ele olhou de volta para dentro do bar, parou, voltou e disse: