Azul

32 4 0
                                    

Sexta-feira, 17 de abril de 2006
Silib Sujoggwan Osyeon

Aquário Municipal Oceano
Distrito Chwe - Busan


17:47:36

Mais uma vez estou aqui nesse aquário no mesmo horário, esperando por vê-lo novamente, admirá-lo em secreto se tornou meu passatempo preferido. Uma tentativa fugaz de fugir de meus próprios tormentos e demônios interiores, fato facilmente alcançado pelo simples ato de fitar seu rosto de longe.

Não me leve a mal, eu não tenho uma doença incurável, não sofro por um amor não correspondido. Não perdi nenhum ente ou pessoa querida e nem mesmo penso em tirar a própria vida. Eu sou um cara bem normal, na verdade. Tenho meus pais vivos e saudáveis, na medida que a idade avançada deles permite, tenho um bom emprego, um salário que dá para viver, tenho uma vida social – e sexual – boa, moro em um apartamento próprio e até tenho meu próprio carro.

Então, o que te atormenta? Você deve estar se perguntando.

Sinceramente? Nem eu sei.

Eu tenho esse gosto amargo no fundo da minha garganta.

Olho para os lados e encontro todos rindo à minha volta felizes e satisfeitos com suas vidas e eu estou lá, rindo com eles enquanto seguro meu copo de bebida. Mas aí, o gosto amargo volta a minha boca e eu sinto um incômodo bem no meu estômago.

Será que estou doente?

17:51:11

A verdade é que eu sempre me peguei desejando algo mais, sabe? Aquele sentimento de que não importa o que você faça, falta. Uma sensação de que não importa o quanto eu corra, eu não conseguirei alcançar em meu próprio esforço. E daí parece que tudo a minha volta fica como a água cristalina.

Incolor. Inodoro. Insípido.

O mundo fica cinza e eu me sinto mais um pontinho negro no meio da escuridão que a vida rotineira me faz parecer. Então eu me afundava nesse mar escuro, vivendo em modo automático, me acoplando aquela rotina robótica.

Acordar. Trabalhar. Sair. Dormir.

17:54:23

Até que um dia eu acordei e caminhei ao banheiro vagaroso em direção a minha rotina: usar o vaso sanitário e escovar os dentes. Mas naquele dia, por um motivo que até hoje não sei qual, eu inverti a ordem e resolvi escovar os dentes primeiro e pela primeira vez em dias me olhei no espelho, e quando fiz isso levei um choque.

Eu não gostei do que vi.

Eu não tinha olheiras, nem o rosto cansado e muito menos havia emagrecido, só que algo estava estranho. Eu não estava bem por dentro. Meus olhos estavam quase foscos, sem vida. E, naquele dia, eu não conseguia pensar em mais nada, a todo o momento a lembrança daqueles olhos inóspitos voltava à minha mente, me deixando angustiado. Quando o relógio marcou o fim do expediente, peguei meu casaco e saí daquela sala o mais rápido possível, precisava de ar. Pensei que se saísse dali conseguiria respirar.

Engano meu.

Quando saí do prédio e vi aquele aglomerado de pessoas caminhando apressadamente, senti minha garganta fechar. Meu peito começou a arder e eu senti como se fosse morrer. Então corri. Corri sem rumo procurando alguma forma para respirar novamente. Caminhei confuso até me deparar com a entrada de um aquário que estava praticamente vazio.

AquariumOnde histórias criam vida. Descubra agora