Prólogo

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Guerra. Uma palavra tão pequena, tão fácil de se pronunciar, com apenas um estalar de lábios, ela é jogada ao vento, simples e direta. Porém, traz consigo os mais terríveis significados e consequências, que assombram a humanidade em toda a sua existência.

E até um pouco assustador em como é fácil achá-la, em qualquer livro, agora mesmo em algum lugar do mundo, alguém decidiu abrir um livro de história, e lá estava ela, em letras grandes e garrafais, trazendo o alerta para o texto que iria iniciar logo em seguida.

Foi exatamente dessa forma que Elsie se deparou pela primeira vez com essa palavra, sete anos, habilidades recém-adquiridas, bastante treinos feitos em caixas de cereais, e livros de contos de fadas, aqueles com as capas coloridas e chamativas, que ela sempre fazia seu tio trazer toda vez que os dois iam à cidade.

Esse livro, por outro lado, o qual despertou a curiosidade de Elsie, não era colorido nem bonito, mas era instigante, disso ela tinha certeza.

A curiosidade infantil foi tão implacável que ela não resistiu, apesar de saber que os livros, da prateleira de trabalho do seu tio, não eram apropriados para suas práticas de leitura.

A garota achava que ele tinha deixado isso claro quando os colocou na última prateleira. Pobre tio Flint, isso só fez sua sobrinha ter mais vontade de ler. Ele sabia que ela era uma exploradora, uma aventureira, como não pode ter imaginado que ela iria tentar pegá-lo?

Com um auxílio de uma cadeira e alguns dos seus próprios livros empilhados como uma torre precária, que ao ser exposta a um passo errado levaria Elsie para uma queda dolorosa, apesar do desafio, ela havia conseguido pegar o tal livro.

Mas não foi tão divertido quanto ela esperava, nas primeiras páginas, com fotos de soldados sujos e machucados, segurando armas enormes, e com olhos assombrados e vazios, como se toda a vida tivesse sido sugada deles, Elsie não soube definir como ficou horrorizada, com tanto sofrimento. Tentou ler mais, mas havia palavras tão complicadas que ela não conseguia entender tudo, mas um trecho chamou sua atenção:

“Apesar de todos os esforços feitos pelo governo, não houve paz durante muito tempo, apenas morte e sangue marcharam pelas ruas do país…”

Com o coração acelerado, ela fechou o livro rapidamente e o colocou de volta no lugar.

Pensou que quando fechasse as páginas, não iria pensar mais sobre isso, que tudo iria sumir, ela estava errada.

Na hora do jantar não conseguiu segurar sua boca e resolveu questionar seu tio.

— Tio, por que existe guerra? As pessoas não entendem que isso vai machucá-las? — Ela perguntou pensativa, enquanto mexia nas ervilhas espalhadas em seu prato infantil.

Flint ficou surpreso com a pergunta repentina, parou de cortar as cenouras, deixando a faca em cima da pia, limpou as mãos no avental e a olhou confuso. Até que entendeu o que havia acontecido. Eles faziam muitos isso, se entendiam sem ao menos trocar meia dúzia de palavras.

Ele resolveu não chamar a atenção da garotinha pela travessura, no entanto, responder da melhor forma à sua pergunta.

— As pessoas são egoístas, meu bem. — Aquela frase não poderia resumir tudo, mas apenas o suficiente para ela entender.

Ela soltou o garfo rapidamente, e o olhou com uma determinação cegante.

— Então eu não quero ser egoísta como essas pessoas, tio. — Respondeu convicta.

Ele a olhou durante um minuto inteiro, sorriu tristemente para aquele ser tão pequenino, que levava toda a sua admiração.

Ah! Como ele gostaria que o mundo pensasse da mesma forma.

Pegou o copo em formato de dinossauro, abriu a geladeira despejando um pouco de suco de tangerina no mesmo, e entregou para ela. Esticou o braço passando as mãos carinhosamente pelos cabelos da menina.

Olhou para a janela onde o fim de tarde, jogava raios dourados pela fazenda, e refletiu, em como aquela pequena criança, fosse mais responsável que muitos por aí.

— Sei disso, princesa. — Sorriu tristemente e voltou à sua tarefa que estava incompleta.

Elsie cresceu, sentindo a segurança de sua casa e a felicidade da vida, ela tinha expectativas de um futuro brilhante e emocionante. Ela era ótima em imaginar coisas boas.

Até que aconteceu. E isso mudou tudo, tudo em que ela acreditava, todos os sonhos e anseios.

Amor Entre GuerrasOnde histórias criam vida. Descubra agora