Parte 6 - 1/2

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    A sala de cinema estava escura. Todos devidamente acomodados em suas poltronas, com seus baldes de pipoca e assistindo atentamente ao filme passando na grande tela. Por estarem mais no passado naquela memória dava para ver que aquele cinema não era "tão bom" se comparado aos de hoje, a julgar pela qualidade de som e imagem e pela quantidade reduzida de assentos (por causa daquela sala ser consideravelmente menor). Johnny adolescente estava sentado na penúltima fileira, enquanto os doutores surgiram na última.

– Psiu, olha! – sussurrou Dra. Rosalene, puxando a manga de Dr. Watts, olhando a cópia adolescente de Johnny.

    Neil não prestou atenção nela, pois estava olhando para a tela.

– Pois é! Não acredito que ele pagou pra ver esse lixo no cinema! – respondeu se referindo ao filme.

– O quê? Não, idiota... Olha, fizemos um salto grande!

    Os dois viraram suas cabeças na direção de Johnny ao mesmo tempo. Ele estava com um aspecto bem mais jovem agora, um pouco infantil até.

– Santo macarrão fora do ponto, o moleque está sozinho no cinema! Que derrotado! – declarou Dr. Watts.

– Você vai sozinho pro cinema o tempo todo... – Eva lembrou-lhe, com um olhar de julgamento.

– É diferente. Ninguém tem um gosto tão refinado quanto o meu. – defendeu-se. – Mas mais importante, como alguém é capaz de assistir essa porcaria inteira? – apontou para a tela...

    Enquanto isso, Johnny olhava para os lados, procurando alguém ou alguma coisa. Suspirou fechando os olhos, se levantou e saiu da sala.

– ... Concluo a demonstração de que esse filme é péssimo em níveis físicos e metafísicos. – ele comentou.

– Vem, vamos embora. – disse Dra. Rosalene, simplesmente.

– Hein? – Dr. Watts parecia estar com algum tipo de "lerdeza mental" naquele momento, ou estava chocado demais com o filme que estava passando; então entendeu o que ela havia dito. – Ah, sim, vamos.

    Se levantaram e foram atrás de seu jovem paciente no cinema. Logo após saírem da sala já encontraram Johnny, estava sentado no chão junto à parede com uma expressão meio entristecida, seu cabelo penteado para os lados e brilhoso de gel. Eva se aproximou.

– Opa, nem vem. Não tenho nenhuma vontade de falar com esse emo.

– Olha a dupla negativa, meu caro Watts. – ela chamou atenção.

– Calada, polícia da gramática. – pegaram um link de memória. – Ainda assim me recuso a conversar com adolescentes emos.

    Se dirigiam agora para a lanchonete, que estava repleto de pessoas estáticas sentadas em mesas, comendo ou só andando por aí. Enquanto caminhavam Dra. Rosalene ia tocando-as, fazendo assim elas desaparecerem. Achava aquilo divertido.

– O que está fazendo? – Neil perguntou, confuso. – Essa é a terceira pessoa que você remove daqui.

– Ah, não é nada permanente.– respondeu.

    Eva continuou removendo todas as pessoas estáticas que encontrava, esvaziando aos poucos a lanchonete.

– Você sabe que expulsá-los assim não faz diferença nenhuma, né? – ele perguntou novamente, mais confuso ainda.

– Por que está reclamando então? – ela retribuiu-lhe a pergunta em tom cortante.

    Ele se calou, inconformado. Continuaram andando e Dra. Rosalene removendo mais e mais gente. Ela foi atrás de uma pessoa que andava sem parar pelo lugar, praticamente fazendo o mesmo trajeto em círculos. Alcançou-a e então removeu. Não havia mais ninguém ali dentro.

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